Chega ao fim a análise do Alambrado sobre os times do Mundial Sub-20 da Nova Zelândia. A terceira e última parte fala sobre os grupos “E”, que inclui a seleção brasileira tentando deixar de lado a crise no comando técnico, e “F”, com uma Alemanha desfalcada, mas ainda assim favorita. Leia as duas partes anteriores aqui e aqui.
Grupo E
Brasil
A conturbada passagem de Alexandre Gallo pelas categorias de base da seleção brasileira chegou ao fim de forma surpreendente. Apesar das fortes críticas (até mesmo de nosso portal), o técnico parecia manter o prestígio com a turma da CBF. Porém, faltando cerca de um mês para o começo do Mundial Sub-20, ele foi demitido. Para o seu lugar foi chamado o ótimo Rogério Micale, que acumula boas passagens pela base do Figueirense e do Atlético-MG.
Em campo, a seleção é uma incógnita. Após um decepcionante Sul-Americano Sub-20, em que ficou na quarta colocação e colecionou derrotas dolorosas – contra Argentina, Uruguai e Colômbia-, a convocação, ainda sob comando de Gallo, colocou uma pulga a mais atrás da orelha do brasileiro.
Uma geração, no entanto, com ótimos talentos e capaz de fazer uma boa campanha, brigando até pelo título. A espinha dorsal da equipe apresenta ótimos nomes e jogadores já titulares em suas equipes.
No gol, Georgemy, do Cruzeiro, e Marcos, do Fluminense, travam uma batalha interessante, com vantagem para o segundo. Ambos passam confiança ao treinador. Na zaga, Marlon, jogador do Fluminense, e Lucão, atleta do São Paulo, formam uma ótima dupla. O último, mesmo jovem, apresenta um forte espírito de liderança e deve se afirmar de vez. Diferentemente das laterais, setor que ainda causa desconfiança. João Pedro, do Palmeiras, e Jorge, do Flamengo, são muito ofensivos e pecam atrás, o que pode desguarnecer o sistema defensivo da seleção.
O meio-campo é o setor que causa maior preocupação. Remodelado em relação ao Sul-Americano, e sem Gérson, as dúvidas são grandes. Mesmo assim, tendo em vista os últimos amistosos – vitórias por 1 a 0 sobre Portugal e Austrália-, Danilo, do Braga, Alef, do Olympique de Marselha, e Andreas Pereira, badalado jogador do Manchester United, formam o trio de meio-campistas.
Já no ataque, Marcos Guilherme é o grande destaque. Juntamente a Gabriel Jesus e Judivan, tem o dever de criar jogadas e obter um aproveitamento melhor que na competição continental do começo do ano. Mesmo com tantas incertezas, a camisa tetracampeã pode surpreender e chegar a mais um título de mundial.
Time-base: Marcos, João Pedro, Marlon, Lucão e Jorge; Danilo, Alef e Andreas Pereira (Boschilia); Gabriel Jesus, Judivan (Jean Carlos) e Marcos Guilherme.
Técnico: Rogério Micale
Nigéria
A atual seleção nigeriana é um grande bicho-papão. Atual campeã mundial Sub-17 e campeã do Africano Sub-20, a geração é uma das melhores produzidas nos últimos tempos em solo africano.
É com essa equipe que o ótimo treinador Manu Garba tenta acabar com o jejum de títulos no Mundial Sub-20. Se na categoria Sub-17 a seleção é dominante, os mais velhos deixam a desejar e acumulam “apenas” dois vice-campeonatos: 1989 e 2005.
O rótulo de favorita para se tornar a primeira geração campeã merece não ser muito contestado. Contando com três jogadores de alto nível, que foram campeões mundiais sub-17, a expectativa é de pelo menos alcançar as semifinais no torneio da Nova Zelândia.
O trio Ineahacho, Isaac Success e Musa já atua fora da Nigéria e detém experiência europeia. O primeiro, camisa 10 e craque da equipe, é visto como joia desde 2013 e é certeza de craque potencial no Manchester City. Success, centroavante de qualidade, é o parceiro ideal de Ineahacho. O jogador do Granada marca muitos gols e abre espaço para o parceiro.
Musa é o líder. Lateral-direito de muita qualidade, pode atuar mais avançado. Demostra um faro de gol impressionante e foi um dos melhores da conquista do Africano sub-20. Soma-se Chidera Eze, jovem do Porto, e os nigerianos tem esperança em quebrar o incômodo jejum.
Coréia do Norte
Ter informações da Coréia do Norte é difícil. Sobre o futebol do país asiático, então, é tarefa ainda mais árdua. Portanto, a seleção sempre pinta como surpresa nas competições em que participa.
Todos os jogadores, exceto o meio-campista Kim Song-Sun, que atua no vizinho Japão, jogam no próprio país. Logo, as informações são dificultadas e a exposição é pequena dos jogadores norte-coreanos.
Mesmo assim, é inegável a evolução do país no futebol. Após participar da Copa do Mundo da África do Sul, as seleções de base contaram com maiores investimentos. Assim, os resultados começam a aparecer.
No Sub-17, é a atual campeão da categoria. No Sub-20, foi vice-campeã e perdeu uma final muito disputada diante do Qatar. A principal característica da equipe é a força defensiva. Aliada a aplicação tática e a velocidade, os norte-coreanos tentam avançar sob comando do técnico An Ye-Gun.
No ataque, a dupla formada por Jo Kwang-Myong, artilheiro no vice-campeonato do Asiático, e Kim Yu-Song, centroavante que pode servir de pivô, é a grande esperança para fazer bonito no mundial.
Hungria
A seleção que já foi referência de ótimo futebol hoje é aprendiz. E daqueles que estudam e tem muita força de vontade. Em um constante crescimento das categorias de base, os húngaros buscam repetir a excelente campanha de 2009.
Na primeira participação do país europeu, a terceira colocação foi comemorada como um título. A repetição da campanha passa pela cabeça do técnico alemão Bernd Storck. Mas o próprio sabe que será difícil até avançar às oitavas-de-final da competição.
O retrospecto nos amistosos recentes ajuda a empolgar o torcedor. Foram três goleadas: contra Ucrânia, Turquia e Ilhas Fiji. As vitórias deram um respeito maior para a seleção.
Muito forte coletivamente, os destaques ficam por conta do zagueiro Tamás, do Sparta Praga, os bons meio-campistas Zsolt Kalmar, do RB Leipzig, e Nemeth, atleta do Szombathelyi Haladás.
Na frente, Oláh é a esperança de qualidade e criação de jogadas mais agudas pelos cantos do campo.
Grupo F
Alemanha
A Copa do Mundo de 2014 serviu para colocar em foco o competente trabalho de reestruturação do futebol alemão nos últimos anos. Os alemães parecem estar cientes que conquistar um título pode ser algo ocasional, mas somente os gigantes podem manter uma hegemonia. Para isso, apostam no desenvolvimento de uma nova geração que poderá ser vista no torneio da Nova Zelândia.
Tentando o bicampeonato do Mundial Sub-20 (o primeiro título foi ganho em 1981), a Alemanha conta com um número considerável de atletas promissores em todos os setores do campo, ainda com boa parte do time que venceu o Europeu Sub-19 no ano passado.
O treinador Frank Wormuth montou uma seleção quase 100% caseira. A única exceção do elenco é o meia-atacante Hany Mukhtar, do Benfica, autor do gol do título europeu. Ele é um dos destaques do time, atuando ao lado do criativo Marc Stendera, do Eintracht Frankfurt, e apoiado por Levin Oztunali, do Werder Bremen.
A defesa é liderada pelo zagueiro Niklas Stark, do Nurnberg. Ele forma uma dupla segura com seu companheiro Kempf, do Freiburg. Além deles, vale prestar atenção em Kevin Akpoguma, lateral direito do Hoffenheim, que funciona na marcação e vai ao ataque com inteligência.
No ataque, a maior promessa da equipe: Julian Brandt, do Bayer Leverkusen, atua aberto em ambas as pontas, sempre com muita velocidade. Deve ser a principal válvula de escape alemã na competição. Dudziak, do Borussia Dortmund, é mais um que pode aprontar no torneio.
A fartura é tanta que o treinador se deu ao luxo de deixar fora do Mundial três atletas extremamente promissores. Leroy Sané, do Schalke 04, Gianluca Gaudino, do Bayern, e até mesmo o artilheiro alemão no Europeu Sub-19, o centroavante Selke, do Werder Bremen. A forte geração foi diluída entre o elenco que vai pra Nova Zelândia e os que ficam na disputa do Europeu Sub-19 e Sub-21. Confiança ou soberba? Só o futuro poderá responder.
Fiji
O pequeno arquipélago tem dois bons motivos para comemorar a escolha da Nova Zelândia como sede do Mundial. O primeiro é que a classificação automática dos neozelandeses como anfitriões abriu uma vaga até então cativa no torneio da Oceania. O segundo é que a viagem de volta pra casa após a iminente eliminação na primeira fase será rápida, pelo menos.
Pode parecer cruel, mas é difícil pensar em qualquer prognóstico diferente para a seleção, que estreia em Mundiais. Em uma perspectiva realista, os fijianos sabem que o objetivo principal é viver de pequenas glórias na competição, como evitar goleadas vexatórias demais e, se possível, marcar gols.
Apenas um jogador entre os 21 convocados pelo técnico Ravinesh Kunar atua fora do país: o goleiro reserva Divikesh Deo, do Auckland United-NZL. O resto da equipe é composto por representantes de cinco times da inexpressiva liga local.
As (poucas) esperanças de Fiji estão depositadas em três atletas. O zagueiro Praneel Naidu, jogador mais experiente do time, foi uma arma importante no torneio da OFC, incomodando os adversários no jogo aéreo.
O capitão Setareki Hughes é quem dita o ritmo de jogo, procurando encontrar as melhores condições para deixar o atacante Narendra Rao com chances de gol. Parece pouco, mas suficiente para as pretensões da equipe no Mundial.
Uzbequistão
Em 2013, uma desacreditada seleção do Uzbequistão surpreendeu ao alcançar as quartas de final do Mundial realizado na Turquia. Dois anos depois, as chances de repetir o feito não são grandes, mas pelo menos um fator serve para animar os asiáticos.
O sorteio colocou Uzbequistão em um grupo acessível, com um favorito muito destacado, um candidato a saco de pancadas e dois times protagonizando uma briga aberta pelo segundo posto.
Para deixar Honduras para trás nessa disputa, os uzbeques comandados por Ravsham Kaydarov apostam em um estilo de jogo baseado na organização tática, posse de bola e muita força na marcação, aos moldes do futebol europeu.
A classificação para o Mundial aconteceu no limite, com o quarto lugar obtido no torneio classificatório da Ásia. Uma derrota por 5 a 0 para a Coréia do Norte nas semifinais daquela competição colocou em xeque o rótulo de time equilibrado, mas os atletas encaram esse jogo como um fato isolado.
A estrela dos “Lobos Brancos” é um veterano em torneios de base. O atacante Zabikhillo Urinboev disputou os Mundiais Sub-17 de 2011 e Sub-20 de 2013, além de ter sido o artilheiro uzbeque nas eliminatórias, com cinco gols. O camisa 10 Otabek Shukurov também chama atenção pela maturidade e leitura de jogo, apesar da pouca idade.
Honduras
Disputando o Mundial Sub-20 pela sexta vez em sua história, a seleção hondurenha tem nesta edição a melhor chance de realizar o sonho de um feito inédito: chegar pela primeira vez na segunda fase do torneio.
O time conquistou a vaga para o Mundial depois de vencer a Guatemala na repescagem do torneio classificatório da Concacaf. Durante a competição, foi possível identificar uma característica bem clara naequipe montada por Jorge Jimenez: a extrema confiança na dupla de ataque.
Bryan Róchez, artilheiro de Honduras e companheiro de Kaká no Orlando City-EUA, é a grande estrela. Com uma média de gols muito interessante para um atleta de 20 anos (30 gols em 65 jogos como profissional), Róchez já acumula passagens como titular da seleção principal.
Seu companheiro menos badalado é Albert Ellis, do Olimpia-HON. Mesmo sem tanto status, Ellis foi importante no torneio da Concacaf, quando marcou o gol da classificação hondurenha. Além disso, não costuma ser egoísta e computa várias assistências para o parceiro de ataque.
O meia Michael Chirinos é o responsável por abastecer a dupla, entrando na área ocasionalmente para aumentar o poder de fogo. Algo que pode ser essencial na busca pela vaga, já que a defesa não costuma ser confiável. Luis Santos, mais um jogador do Olimpia, é o destaque solitário no setor. Se a equipe conseguir minimizar os problemas nessa faixa do campo, poderá sair na frente na briga por uma vaga.