1997: A dupla de gigantes que tocou o céu

1997: A dupla de gigantes que tocou o céu

Ronaldo e Romário levaram Brasil ao primeiro título sul-americano fora do país

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A dupla "Ro-Ro" atormentou os rivais em 97 (Foto: Divulgação/Conmebol)
A dupla “Ro-Ro” atormentou os rivais em 97 (Foto: Divulgação/Conmebol)

Um ataque que juntava frieza com explosão, categoria com habilidade, velocidade com inteligência. Uma frente ofensiva contando com dois dos maiores atacantes da história do futebol mundial. A dupla formada por Ronaldo e Romário era a principal arma do Brasil em 1997 para superar um desafio: conquistar, pela primeira vez, uma Copa América fora de seus domínios.

Nos quatro títulos anteriores (1919, 1922, 1949 e 1989) a seleção brasileira tinha conseguido fazer valer o fator casa para levantar a taça. Desta vez, o contestado time montado por Zagallo tentaria a vitória em solo não tão receptivo. Não que os bolivianos, anfitriões do torneio, tenham recebido os brasileiros de maneira hostil. Mas a altitude do território andino era uma preocupação enorme desde o embarque para o país-sede.

O Uruguai, por exemplo, sentiu de cara os efeitos de jogar muito acima do nível do mar. A Celeste caiu logo na primeira fase, com derrotas para Peru e Bolívia. Já a Argentina, que havia poupado alguns atletas na convocação, sucumbiria à pressão nas quartas de final, eliminada pelos surpreendentes peruanos nos 2.800 metros de altitude de Sucre.

Enquanto via seus rivais sofrerem, o Brasil confiava na sua dupla de gigantes – talvez não na altura, mas com certeza no talento – para passar pela primeira fase como um rolo compressor. A amarelinha não deu muita chance para o azar, com uma geração que mesclava jovens de talento com remanescentes da Copa de 94.

Um dos jovens destaques do time era o habilidoso Djalminha, autor do primeiro gol brasileiro na competição, na estreia contra a Costa Rica. Ronaldo, em fase sensacional tanto no Barcelona como na seleção, marcou outros dois, e Romário deixou sua marca uma vez. O costa-riquenho González ainda completou o tranquilo 5×0 com um gol contra.

Na segunda rodada, contra o perigoso time do México, as principais fraquezas da seleção canarinho ficaram expostas. Zagallo tinha uma séria dificuldade com o sistema defensivo, que, mesmo com grandes jogadores (Taffarel, Cafu, Aldair e Roberto Carlos), não acompanhava a inspiração do setor de ataque.

No primeiro tempo, o “Diabo Loiro” Carlos Hernandez fez duas vezes para os mexicanos. Na segunda etapa, porém, a pressão brasileira deu resultado. Aldair diminuiu de cabeça, e o mexicano Romero marcou contra após grande jogada de Romário, empatando o jogo. Para sacramentar a reação, Leonardo marcou um golaço e decretou a virada.

No terceiro jogo, vitória tranquila sobre a Colômbia de Aristizábal. Logo no começo, o capitão Dunga marcou, de falta, o primeiro gol. Edmundo, que vivia um ano espetacular no Vasco, fechou o placar após entrar no lugar de Ronaldo. O jogo serviu como uma prova de que, mesmo com um desempenho não tão eficiente da dupla ‘Ro-Ro” no ataque, as outras opções poderiam servir para dar conta do recado.

Na primeira partida na fase de mata-mata, o brilho de Ronaldo decidiu a favor do Brasil em Santa Cruz de La Sierra. Com dois gols, o melhor jogador do mundo à época conseguiu superar a forte defesa paraguaia, que contava com Chilavert, Arce e Gamarra. No primeiro gol, um show de velocidade para passar por dois defensores e chutar cruzado no canto esquerdo. No segundo, frieza e categoria na finalização.

O Brasil chegava contra o Peru com a intenção de não cometer o mesmo erro da Argentina, que subestimou o adversário. E o resultado foi uma das melhores atuações da seleção de Zagallo. Logo no primeiro lance, Denilson, caçula da seleção que brilhava no São Paulo, aproveitou vacilo da defesa para abrir o placar. Flávio Conceição, com uma bomba de fora da área, Romário em uma finalização de biquinho, e Leonardo, de cabeça, fizeram com que o primeiro tempo terminasse em 4×0.

Na segunda etapa, o ritmo não diminuiu. Após belo passe de Ronaldo, Romário aumentou a vantagem, marcando pela segunda vez no jogo. Leonardo aproveitou uma atrapalhada do goleiro Miranda, e Djalminha, com categoria, completou um cruzamento de Roberto Carlos para fechar a conta: 7×0 (e foi pouco).

Para a final, contra os donos da casa, o Brasil teria dois grandes obstáculos para superar. O primeiro seriam os 3.700 metros de altitude em La Paz, no estádio Hernando Siles. O segundo seria a ausência de Romário, que sentiu uma fisgada nos treinos e estaria fora do jogo decisivo. Os bolivianos também vinham de um baque: na preleção da partida, os atletas foram informados que o filho do atacante Castillo estava internado em estado grave, por conta de uma hepatite.

Dentro de campo, mesmo com as dificuldades físicas, a técnica brasileira falou mais alto. Edmundo marcou o primeiro após um rebote do goleiro Trucco. Erwin Sánchez, craque boliviano, empatou a partida no final do primeiro tempo em uma falha de Taffarel, reacendendo o fantasma da derrota por 2×0 nas Eliminatórias, em 1993.

No segundo tempo, o Brasil se acalmou e conseguiu garantir o título. Ronaldo, em bela finalização com o pé esquerdo, colocou a seleção em vantagem. Os minutos seguintes trouxeram uma forte pressão boliviana, que chegou a colocar uma bola na trave. O nervosismo do jogo fez com que Edmundo perdesse a cabeça, dando um soco em seu marcador, não visto pelo árbitro. Mas no final da partida, a tranquilidade: Zé Roberto partiu livre e completou para o gol, fechando o placar.

O Brasil finalmente vencia um título sul-americano fora de suas terras. Zagallo, em um momento explosivo, voltou-se em direção às câmeras e mandou seu lendário “vocês vão ter que me engolir”, encaminhado aos jornalistas que desdenhavam do desempenho brasileiro no torneio, afirmando que a seleção tinha enfrentado uma maioria de adversários com seus times reservas.

As críticas fazem sentido, considerando que o nem todos os times levaram força total para o torneio. Mas pelo menos de uma coisa os espectadores da Copa América de 1997 não puderam se queixar: a chance de ver a dupla de gênios em ação, juntos. A parceria ainda seria repetida no final daquele ano, no título da Copa das Confederações.

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