A cada ano que passa o futebol se torna cada vez mais um esporte mais intenso. Dinamismo, velocidade e inteligência tática são três fatores vistos em qualquer partida de bom nível nos dias de hoje.
Os jogadores que pensam mais o jogo, cadenciam e parecem mais “desligados” perdem espaço em um mundo tão disputado. Com uma mudança não só física, mas também de mentalidade, uma partida passou a ser meticulosamente estudada e a técnica talvez não seja mais a virtude primordial para a conquista de uma vitória.
Mesmo diante das adversidades, alguns jogadores considerados lentos ou que parecem estar “fora de jogo” ainda sobrevivem e tem lampejos na atualidade. Só para citar o elenco do São Paulo, Ganso e Pato são alvo de críticas devido ao fato de não terem tanto dinamismo quanto outros companheiros de clube, mas mesmo assim ainda são peças fundamentais do tricolor.
No meio de um momento turbulento do clube do Morumbi, uma promessa surge tentando se desvincular de alguns rótulos que já lhe foram dados, assim como foram imputados aos seus dois companheiros. Ewandro Felipe de Lima Costa, ou simplesmente Ewandro, já vem despertando atenção de muitos torcedores são-paulinos e da mídia em geral. Muito em função das últimas boas exibições no Campeonato Paulista 2015: 2 assistências e um gol em duas partidas.
A fase conturbada do São Paulo e as críticas feitas ao elenco, Muricy Ramalho e diretoria são muito duras, porém, em meio a tempestade, Ewandro parece passar incólume. Após ser alvo de algumas análises dando conta da sua suposta falta de “entrega” e de muitas vezes estar um pouco “desligado” da partida, o atacante passou a demonstrar que esse é seu estilo de jogo e que ele pode render muitos frutos ao tricolor.
Formação em Cotia
A habilidade e velocidade no um contra um são vistas no clube desde os seus 13 anos. Hoje, com 19, o pernambucano Ewandro tenta demonstrar toda a ousadia que o caracterizou nas categorias de base. Tachado de tímido dentro de campo pela equipe profissional, o perfil era completamente diferente quando desfilava seu talento em Cotia. Ousado, habilidoso e muitas vezes “endiabrado”, Ewandro aprontava das suas nos torneios de base.
Multivencedor pela geração 96 tricolor, considerada a melhor dos últimos anos, Ewandro formou uma ótima dupla com o velocista Joanderson desde o sub-15 e, no sub-17, um trio de ouro com o próprio atacante e com Gabriel Boschilia, que veio do Guarani.
Juntos, além da conquista da Future Cup Brasil e do ótimo desempenho nos campeonatos estaduais, levantaram o troféu da primeira edição da Copa do Brasil sub-17, vencendo, inclusive, nas semifinais, o ótimo Fluminense do meia Gérson. Na mesma temporada, de longe a sua melhor, foi convocado pela seleção brasileira para a disputa do Sul-americano sub-17.
Em 2014, a ascensão meteórica continuou. Na Copa São Paulo, mesmo com apenas 17 anos, fez seis gols e foi o melhor tricolor da competição. Mesmo atuando mais deslocado pelo lado esquerdo e não tendo um instinto matador, Ewandro notabilizou-se por marcar muitos gols na base- e muito belos, por sinal.
Mudança para o profissional e começo empolgante
A transição para o profissional – bem falha no São Paulo nos últimos anos – ocorreu ainda no ano passado. O franzino atleta de apenas 61 kg distribuídos em 1,74 cm brilhou logo no início da sua trajetória.
No seu terceiro jogo na equipe principal, marcou o primeiro gol. Na goleada por 6 a 3 contra o Rio Claro, lá estava o oportunista Ewandro para marcar um dos tentos tricolores. Naquele dia 30 de janeiro de 2014, o jogador repetia Breno, que em 2007 também marcou aos 17 anos.
O foco da imprensa com o passar do tempo passou a ser Gabriel Boschilia. Sempre convocado às seleções de base e com mais chances recebidas no elenco tricolor, o meio-campista passou a destacar mais. Já o atacante, um pouco mais imaturo e tímido em campo do que o companheiro, passou a frequentar o banco de reservas com menos assiduidade.
Porém, era notório nos treinamentos que o atacante era diferenciado. Mais maduro, além de melhor trabalhado, passaria a ser opção cada vez mais importante do elenco.
Novas oportunidades em 2015
Nesta temporada, um pouco mais ousado e menos tímido em campo, Ewandro vem recebendo mais oportunidades e, com calma, pode ser uma válvula de escape da apatia são-paulina.
Com um estilo muito técnico e de muita habilidade, Ewandro lembra um pouco o alemão Mario Gotze em suas ações dentro de campo. Não comparando-se posições e direcionamento nas quatro linhas, as atitudes e a categoria são semelhantes. No próprio São Paulo, Ewandro lembra Pato na relação entre técnica e, muitas vezes, desatenção tática em campo.
Em 2015, as chances estão sendo dadas e basta a Ewandro colocar em prática o potencial já mostrado nas categorias de base. Caso adapte-se ao futebol profissional e às exigências táticas e físicas do esporte de alto nível, a habilidosa joia pode ser uma nova esperança não só do São Paulo, mas também da seleção brasileira.
Abaixo, uma das demonstrações de técnica e percepção de jogo do atacante. Obra-prima assinada por Ewandro nas semifinais da Copa do Brasil sub-17 de 2013.
