Robert Schlienz, o homem que compensou a ausência de um braço com...

Robert Schlienz, o homem que compensou a ausência de um braço com o coração

Jogador alemão superou dificuldades para se tornar um dos maiores ídolos do Stuttgart

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Schlienz em comemoração ao título de 1950 (Foto: Reprodução)
Schlienz em comemoração ao título de 1950 (Foto: Reprodução)

A Alemanha na segunda metade da década de 1940 não era um lugar muito feliz para se viver. Estando sob os escombros da Segunda Guerra Mundial, o país tentava se reconstruir tanto em termos físicos quanto na moral, arregaçada pelos terrores do regime nazista.

Em meio a esse cenário, o povo precisava de um herói, algum exemplo de superação em quem pudesse se insipirar. E esse símbolo veio na figura de Robert Schlienz, um dos personagens mais marcantes da história do futebol alemão.

Nascido em 1924, Schlienz iniciou sua carreira futebolística aos 16 anos pelo Zuffenhausen, clube de sua cidade natal. Atuando no ataque, logo passou a se destacar na modesta equipe, o que despertou interesse do Stuttgart, gigante da região.

Na época, o Stuttgart disputava a Oberliga Sud, um dos cinco campeonatos regionais considerados a “primeira divisão” alemã até então, que juntava equipes dos estados da Bavária, Baden-Wurttemberg e Hesse.

Logo na primeira temporada de Schlienz pelo clube, a de 1945-46, o Stuttgart conquistou a Oberliga Sud pela primeira vez na sua história. E o atacante já chegou com tudo, marcando impressionantes 46 gols em 30 jogos, recorde histórico do torneio.

Não demorou para a torcida do Stuttgart adotá-lo como ídolo. Além do desempenho em campo, Schlienz era um veterano da guerra, que acabou ficando com a mandíbula disforme depois de levar um tiro em combate. Foi dispensado do serviço, depois de perder vários colegas de clube durante o confronto.

A essa altura, já podiam ter pensado que esse era o herói que os alemães tanto precisavam. Um guerreiro que se levantava depois da guerra para voltar a brilhar. Mas a grande façanha do atleta ainda estava por vir, depois de outro grande trauma.

No dia 14 de agosto de 1948, Schlienz dirigia seu carro perto da cidade de Aalen, onde o Stuttgart disputaria uma partida eliminatória. O jogador perdeu o controle do carro, que capotou na pista e foi parar em um matagal.

Algumas horas depois, as autoridades chegaram ao local e encontraram o motorista preso entre as ferragens. A decisão precisava ser tomada com urgência, já que o carro podia entrar em combustão. O resgate do local custou-lhe o braço esquerdo, que precisou ser amputado às pressas.

A equipe de médicos que cuidou da recuperação de Schlienz deixou claro que seu estado não permitia que voltasse a jogar futebol em alto nível. E o próprio jogador chegou a desanimar da carreira. Como seria possível manter o ritmo sem um braço?
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Aí entrou em cena a figura do treinador do Stuttgart, George Wurzer. Vendo que realmente seria impossível submeter Schlienz às duras disputas com zagueiros costumeiras para atacantes, Wurzer conseguiu convencê-lo a fazer testes mais recuado, como um armador.

Foi assim que Schlienz retornou aos gramados quatro meses depois, em uma partida contra o Bayern de Munique recheada de comoção. Agora capitão, ele recebeu homenagens tanto dos seus colegas de time quanto dos adversários.

Depois de tudo isso, ainda seria necessário mostrar a todos que o esforço para voltar ao futebol valia a pena. Como maestro, ele liderou o time nas conquistas dos campeonatos de 1950 e 1952, além dos títulos da Copa Nacional em 1954 e 1958.

Schlienz se aposentou do futebol em 1960, acumulando mais de 400 jogos pelo Stuttgart e três convocações para a seleção alemã. Pouco depois de sua morte, em 1995, o clube resolveu batizar o estádio do time de reservas com seu nome. Uma honra merecida para um guerreiro que nunca desistiu.

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