O futebol brasileiro na visão de um inglês

    O futebol brasileiro na visão de um inglês

    "Futebol: O Brasil em campo" mostra como a relação entre o povo brasileiro e a bola é vista por um escritor inglês

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    Às vezes estamos tão próximos e tão acostumados com alguma coisa que simplesmente não conseguimos analisá-la de maneira objetiva. Isso pode acabar pendendo para qualquer lado, podendo provocar ou supervalorização ou um sentimento de que o objeto em questão não tem nada de mais. Por isso, pode ser bom contar com um observador externo para fazer um diagnóstico.

    Em 2001, o futebol brasileiro passava por uma crise. Parece atual, não? Pois é, mas apesar de 14 anos já terem se passado, algumas das críticas que são vistas ao esporte no país hoje em dia já eram recorrentes naquela época. “Nosso futebol-arte não existe mais”, “os jogadores não tem mais amor à camisa”, “os dirigentes estão matando nosso futebol”. Nada disso é novo.

    A capa da edição brasileira (Foto: Jorge Zahar Editor/Divulgação)
    A capa da edição brasileira (Foto: Jorge Zahar Editor/Divulgação)

    Coube ao escritor inglês Alex Bellos condensar todas essas questões em um livro, pegando elementos da cultura brasileira e a forma como a identidade do país se associa ao esporte. O resultado foi “Futebol: O Brasil em campo”, obra lançada na Inglaterra que ganhou versão em português em 2002.

    O trabalho de Bellos foge da percepção comum que os estrangeiros têm do Brasil. Sem se prender aos clichês que estacionam na relação “Bola-Samba-Festa”, o autor cava fundo nas entranhas e nas origens da prática do esporte no país. O inglês conta histórias do futebol indígena, do futebol feminino, da paixão das torcidas e de personagens que frequentemente ficam esquecidos quando se fala do jogo.

    É claro que “Futebol: O Brasil em campo” não foi a primeira publicação a respeito da relação do brasileiro com a bola. Algo que já havia sido retratado por mestres do calibre de Nelson Rodrigues, mas que talvez precisasse desse olhar externo complementar. O escritor se despe de preconceitos e mostra o que faz o futebol daqui ser diferente, para o bem e para o mal.

    É curioso, por exemplo, ver sua surpresa ao saber que no Brasil é comum velar os mortos com bandeiras ou escudos do time gravado no caixão. E mostra com um olhar quase inédito a rotina de uma torcida organizada (no caso, a Gaviões da Fiel), construindo relações entre os torcedores brasileiros e os de sua terra natal.

    Ao final de 350 páginas, a impressão que dá é que talvez os amantes do futebol brasileiro precisem de choque de tempos em tempos, só para lembrar que a paixão vai muito além de fatos frios e é construída por personagens, mitos e grandes histórias, como relatado pelo próprio Bellos.

    A obra tem a capacidade de abrir os olhos do leitor para algo que, provavelmente, esteve sempre a sua frente. E de mostrar que mesmo em tempos de crise, que eventualmente acabam sendo superados, o fascínio de nosso povo pelo esporte bretão é um fenômeno à parte. Coisa pra inglês ver.

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