7 casos em que o mata-mata foi fatal para os favoritos

7 casos em que o mata-mata foi fatal para os favoritos

COMPARTILHAR

Nos últimos meses a chama de uma discussão antiga foi reacesa no Brasil. Tão polêmica quanto a questão “biscoito ou bolacha”, a briga entre os formatos de pontos corridos ou mata-mata voltou à tona após Ednaldo Rodrigues, presidente da Federação Baiana de futebol, enviar uma proposta à CBF solicitando uma mudança no regulamento do Campeonato Brasileiro, reservando 12 datas para o modo eliminatório após 23 rodadas de pontos corridos.

Existem vários argumentos de ambas as partes, considerando a organização de cada forma de disputa, interesse do público e da TV, planejamento dos clubes durante o ano, entre outros fatores. Mas pelo menos um quesito é inegável, para o bem ou para o mal: o imponderável é muito mais frequente em torneios de mata-mata.

Não faltam exemplos de zebras em campeonatos deste tipo, jogos memoráveis em que um gigante perdeu para um pequeno. E não faltam clubes que ocasionalmente acabaram sendo prejudicados por esse formato. O Alambrado relembra sete momentos do Brasileirão em que times favoritos, de grande campanha na primeira fase, sucumbiram no sistema eliminatório e ficaram a ver navios.

Vasco x Fluminense (1988)

Washington sobe mais que todo mundo no jogo decisivo (Foto Reprodução)
Washington sobe mais que todo mundo no jogo decisivo (Foto Reprodução)

O Campeonato Brasileiro de 1988 era composto de duas fases. Na primeira, os 24 clubes foram divididos em 2 grupos, e realizavam os jogos do primeiro turno contra times da outra chave. No segundo, enfrentavam as equipes do mesmo grupo. Os dois primeiros de cada grupo em cada turno garantiam vaga nas quartas de final.

O Vasco, de Mazinho, Roberto Dinamite, Sorato e Bismarck, foi o campeão de seu grupo em ambos os turnos, garantindo a melhor campanha no saldo geral da primeira fase, com 54 pontos no total e apenas duas derrotas. Por conta disso, acabou liberando uma vaga para o Bahia, melhor ranqueado entre os times que não alcançaram a posição necessária, que acabaria sendo campeão no final (mas isso é outra história).

Já o Fluminense, que tinha como destaques o zagueiro Edinho, o meia Romerito e o atacante Washington, conquistou a primeira posição de seu grupo no primeiro turno, o que foi suficiente para garantir a qualificação. No segundo turno, a equipe relaxou e acabou ficando na última posição, o que não influenciou em nada para que perdesse a vaga, mas alterou sua colocação entre os classificados.

Com isso, os dois clubes cariocas protagonizariam o Clássico dos Gigantes nas quartas de final do Brasileirão de 1988, que acabariam acontecendo somente em 1989. Na primeira partida, o Maracanã foi palco da vitória tricolor por 1×0, graças ao gol contra marcado pelo defensor vascaíno Zé do Carmo.

No segundo jogo, o Vasco precisava vencer para para levar a decisão para a prorrogação, e teve sua missão dificultada pelo gol de Donizete Oliveira, abrindo o placar para o Fluminense. Bismarck empatou para os cruzmaltinos ainda na primeira etapa, e a virada só foi conquistada aos 44 minutos do segundo tempo, com gol de Leonardo.

Na prorrogação, a vantagem do empate voltava a ser vascaína, mas o Fluminense não se intimidou. Logo no primeiro minuto, Zé Maria colocou o Tricolor novamente em vantagem, e Washington selou a vaga com um belo toque de cobertura sobre o goleiro Acácio. Assim como em 1984, o Fluminense acabava com o sonho vascaíno do bicampeonato, que acabaria chegando no ano seguinte.

Fluminense x São Caetano (2002)

O Fluminense mostrou em 2002 que sabia aproveitar o melhor do formato. O regulamento daquele ano previa que os oito melhores times da primeira fase se classificariam para a fase de playoffs. O São Caetano, vice-campeão da Copa Libertadores em 2002, passou sem sustos pela primeira etapa do campeonato, garantindo a segunda posição na tabela por conta da grande forma vivida por Adhemar, Claudecir, Magrão e Robert, entre outros.

O Flu tentava se reinserir entre os grandes destaques do futebol brasileiro depois das péssimas campanhas na segunda metade da década de 90. Semifinalista no Brasileirão anterior, o time apostou na força do ataque liderado por Romário, Roni e Magno Alves para conquistar uma suada sétima posição. A vaga veio de forma dramática na última rodada, após uma vitória por 3×2 contra a Ponte Preta em Campinas, depois de estar perdendo por 2×0.

Os dois times se enfrentaram nas quartas de final. Na partida de ida, no Maracanã, os cariocas conseguiram uma boa vantagem, fazendo 3×0 com dois gols de Magno Alves e um de Roni.

No jogo de volta, em São Caetano do Sul, o Azulão chegou a fazer 2×0 e pressionou até o final, mas não conseguiu o terceiro gol que garantiria a classificação. O Fluminense passou adiante, perdendo para o Corinthians nas semifinais. De quebra, o Tricolor conseguiu se vingar da eliminação na Copa João Havelange de 2000, quando o São Caetano havia derrubado o favorito Flu dentro do Maracanã.

Palmeiras x Cruzeiro (1998)

Galeano e muller duelam no segundo jogo das quartas (Foto: Reprodução)
Galeano e Muller duelam no segundo jogo das quartas (Foto: Reprodução)

Palmeiras e Cruzeiro se tornaram inimigos íntimos em 1998. Ao todo, os times se enfrentaram nove vezes naquele ano, com duelos marcantes nas finais da Copa do Brasil e da extinta Copa Mercosul, ambas vencidas pelo alviverde. Mas no mata-mata do Brasileirão, quem levou a melhor foi a Raposa.

Depois de liderar por várias rodadas a primeira fase do campeonato, o Palmeiras sentiu o desgaste físico nos últimos jogos do turno, perdendo a primeira posição para o rival Corinthians justamente no último jogo, com um empate fora de casa contra o América-MG. A grande equipe comandada por Felipão, que contava com estrelas como Arce, Zinho, Alex e Paulo Nunes, acabaria se dando mal pelo tropeço.

Isso porque o Cruzeiro vinha embalado com uma arrancada de quatro vitórias nos últimos quatro jogos, incluindo uma vitória por 3×1 sobre o próprio Palmeiras e uma exibição de gala na rodada derradeira, com 5×0 sobre o Juventude. Djair Muller, Marcelo Ramos, Alex Alves e Fábio Júnior faziam a torcida cruzeirense ter esperança, apesar da classificação na modesta sétima posição.

Na primeira partida das quartas de final, no Mineirão, Fábio Junior e Marcelo Djian fizeram os gols da vitória do Cruzeiro, enquanto Oséas descontou para o Palmeiras. No segundo jogo, no Palestra Itália, o Verdão devolveu o placar, com gols de Paulo Nunes e Júnior Baiano, com Djair descontando para a Raposa.

No terceiro jogo, também em São Paulo, o Palmeiras só precisava de um empate para passar de fase e se juntar a Corinthians, Portuguesa e Santos para formar uma semifinal exclusiva de times paulistas. Mas a vantagem não foi suficiente: o Cruzeiro abriu 2×0 logo de cara, com Marcelo Ramos e Fábio Junior. O Palmeiras chegou a empatar, com gols de Almir e Paulo Nunes, mas nos minutos finais Fábio Junior marcou e garantiu a festa do time de Minas, que seria vice-campeão.

Cruzeiro x Atlético-MG (1999)

Se no ano anterior o Cruzeiro só teve agradecer pelo formato da competição, em 1999 veio o troco, e da maneira mais dolorosa possível. Os nove pontos que na primeira fase separaram o time de seu maior rival, o Atlético-MG, não significaram nada no duelo entre os dois gigantes de Belo Horizonte nas quartas do Brasileirão.

Mantendo boa parte do elenco que bateu na trave em 1998, o Cruzeiro conseguiu a segunda posição geral, perdendo apenas três partidas entre as 21 que compunham a primeira fase. Um empate em 3×3 contra o Santos, na última rodada, impediu o time de alcançar o primeiro posto, que ficou com o Corinthians.

Enquanto a Raposa deixava a liderança escapar o Galo finalmente garantia sua vaga, vencendo o Grêmio e sendo beneficiado pelas derrotas de Guarani e Palmeiras para chegar aos mata-matas classificando na sétima posição.

A dupla entre Marques e Guilherme marcou época no Galo (Foto: Reprodução)
A dupla entre Marques e Guilherme marcou época no Galo (Foto: Reprodução)

Com o Mineirão como campo neutro, os times decidiriam quem passaria de fase, em embates que prometiam entrar para a história como os mais importantes da história do clássico. Contando com o entrosamento da dupla de ataque formada por Guilherme e Marques, o Atlético não se intimidou pela melhor fase do seu grande rival.

No primeiro jogo, a dupla funcionou com extrema sintonia, com cada um marcando dois gols. Paulo Isidoro e Muller diminuíram para o Cruzeiro, fechando o placar em 4×2, que revertia a vantagem para os atleticanos. Para o Cruzeiro, só a vitória interessaria na segunda partida.

E a Raposa começou bem sua missão, com um gol de Ricardinho. Mas o Galo empatou ainda no primeiro tempo, com Guilherme. Muller, no início do segundo tempo, marcou mais um para o Cruzeiro, resultado que forçaria a disputa do jogo desempate. Mas o Atlético conseguiu virar o placar, com Adriano e mais um de Guilherme, fazendo explodir em festa o lado alvinegro de Minas, que veria seu time chegar ao vice-campeonato contra o Corinthians.

America-RJ (1986)

Os regulamentos dos campeonatos nos anos 80 não eram lá muito simples de entender. Em 1986, o Brasileirão era composto por três fases, sendo que as duas primeiras dividiam os times em grupos, e na terceira os classificados se enfrentavam em mata-mata. O America-RJ conseguiu se adaptar às regras de maneira inteligente para chegar mais longe do que se esperava.

America deu trabalho no Brasileiro de 86 (Foto: Reprodução)
America deu trabalho no Brasileiro de 86 (Foto: Reprodução)

Na primeira fase, conseguiu a última vaga direta dentro de seu grupo, que neste caso era a sexta posição, ficando à frente de Joinville e Goiás nos critérios de desempate. Na etapa seguinte, outra classificação no limite, alcançando o quarto lugar do grupo I, sendo que apenas quatro times iam adiante em cada grupo.

Liderado pelo artilheiro Luisinho, o “Diabo” enfrentaria o forte time da Portuguesa nas oitavas de final, que já seriam disputadas em 1987. Com Toninho e Edu Marangon em grande fase, a Lusa havia passado na segunda posição em seu grupo, com desempenhos consistentes. Na partida de ida, 1×0 America, com gol de Antonio Cesar. O placar sem gols na partida de volta em São Paulo valeu a vaga nas quartas para o time do Rio.

Mas as diabruras não terminariam por aí. Quem vinha pela frente nas quartas era o Corinthians de Biro-Biro, João Paulo e Edmar. No primeiro jogo, a zebra andou solta no Pacaembu, com Luisinho e Renato marcando os gols da vitória do America. O Timão foi ao Maracanã tentando reverter a desvantagem, mas saiu atrás com gol de Ramón. Jatobá marcou duas vezes e virou jogo, mas não foi o suficiente.

O America só seria parado na fase seguinte pelo São Paulo de Careca e Pita, que se sagraria campeão, mas a campanha naquele campeonato é lembrada até hoje como um dos pontos mais altos da história do tradicional clube carioca.

Cruzeiro x Portuguesa (1996)

Em um sistema mais convencional de mata-mata, o regulamento do Brasileirão de 1996 previa que os 8 melhores times da primeira fase se enfrentariam nos playoffs, com o primeiro colocado enfrentando o oitavo, o segundo pegando o sétimo, e assim por diante.

Com uma base que acabaria sendo campeã da Libertadores no ano seguinte, o Cruzeiro fez uma bela campanha na primeira fase do Campeonato Brasileiro. Contando com a frieza de Dida no gol, a técnica de Palhinha no meio de campo e o faro de gol de Paulinho McLaren, a Raposa garantiu a primeira posição apesar da perseguição do bom time do Guarani, que terminou em segundo.

Comemoração da Lusa no Mineirão (Foto: Reprodução/Twitter)
Comemoração da Lusa no Mineirão (Foto: Reprodução/Twitter)

A Portuguesa, com uma equipe que mesclava a juventude de atletas como Clemer, César, Emerson, Rodrigo Fabri, Alex Alves e Tico com a segurança dos volantes Gallo e Capitão, passou para a fase seguinte no sufoco, vencendo o Botafogo na última rodada por 4×1 e contando com o tropeço de Internacional, Sport e São Paulo.

Apesar da diferença de oito pontos na tabela, nos jogos eliminatórios tudo mudou. Na primeira partida, no Morumbi, a Lusa já conseguiu uma vantagem surpreendente, com um 3×0 que praticamente garantiu a vaga para as semis. Rodrigo Fabri abriu o placar e Alex Alves marcou mais duas vezes para fechar a contagem.

Na volta, o bom público no Mineirão não foi suficiente para reverter a desvantagem cruzeirense. Cleisson abriu o placar ainda no primeiro tempo para os donos da casa, mas a Portuguesa se segurou até o final e conseguiu uma classificação até então improvável. O time paulista ainda eliminaria outro mineiro, o Atlético, para chegar ao vice-campeonato daquele ano contra o Grêmio.

São Paulo x Santos (2002)

Diego comemora a vaga contra o rival no Morumbi (Foto: Santos/Divulgação)
Diego comemora a vaga contra o rival no Morumbi (Foto: Santos/Divulgação)

Possivelmente, o exemplo mais lembrado nas discussões sobre qual fórmula é a melhor no Campeonato Brasileiro, justamente na última edição organizada no formato de mata-mata.

O São Paulo vinha com tudo em 2002. Com Rogério em grande fase, a ascensão de Kaká, e ainda o entrosamento da dupla entre Reinaldo e Luis Fabiano, o time do Morumbi empilhava goleadas com frequência, e sobrou na primeira fase, fechando a participação com cinco pontos de vantagem para o segundo colocado e o melhor ataque disparado da competição. A equipe ainda contava com o reforço do meia Ricardinho, vindo do rival Corinthians.

O Santos começou aquele Brasileiro debaixo de desconfiança. Sem grandes estrelas nem dinheiro para trazer reforços renomados, o técnico Emerson Leão foi obrigado a apostar nas categorias de base do clube da Baixada. Aos trancos e barrancos, o time de Fábio Costa, Alex, Léo, Elano, Renato, Diego e Robinho conseguiu a última vaga para a segunda fase, mesmo com a derrota para o São Caetano na rodada final. Isso porque o Coritiba, maior adversário na disputa pelo posto, tomou um improvável 4×0 do rebaixado Gama.

Com estrondosos 13 pontos separando os dois times na tabela, o clássico Sansão decidiria qual dos clubes passaria para as semifinais. O favoritismo do São Paulo era claro, embora a essa altura a jovem equipe santista já começasse a atrair olhares mais preocupados, principalmente por conta da velocidade com que seus atletas jogavam.

Vale lembrar que o clássico na primeira fase foi rodeado por polêmica, em um 3×2 são-paulino cheio de reviravoltas, marcado pelas provocações de Diego, que marcou um gol e foi comemorar em cima do símbolo do São Paulo localizado na beira do campo do Morumbi.

A Vila Belmiro foi o palco do reencontro. O centroavante Alberto botou o Peixe em vantagem, mas Kaká empatou antes do término da primeira etapa. No segundo tempo, no entanto, o Santos voltou à carga com tudo, e garantiu a vitória com gols de Robinho e Diego.

O São Paulo precisaria de uma vitória por dois gols no Morumbi para evitar a eliminação, e logo no começo encheu sua torcida de esperança, com um gol de Luis Fabiano aos quatro minutos. Contrariando os prognósticos de que sentiria a pressão por conta da falta de experiência, o Santos segurou o ímpeto tricolor e se impôs no segundo tempo, virando o jogo com gols de Léo e Diego. O time ainda passou pelo Grêmio e pelo Corinthians na final, quebrando um histórico jejum de 18 anos sem grandes títulos em seu currículo.

 

 

 

 

Deixe seu comentário!

comentários