Uma obsessão chamada Olimpíadas: Parte II

Uma obsessão chamada Olimpíadas: Parte II

As novas decepções e o desejo obsessivo por completo

COMPARTILHAR

Em meio ao crescimento de muitos esportes – vários deles coletivos – e a conquista em ordem crescente de medalhas pela delegação brasileira, o futebol foi relegado cada vez mais ao segundo plano durante os Jogos Olímpicos.

Contudo, quase que paradoxalmente, o interesse do público e dos jogadores passou a ser concentrado na tão sonhada medalha de ouro olímpica. Sob a justificativa de ser a única conquista pendente na sala de troféus da CBF, as equipes brasileiras tornaram-se cada vez mais fortes.

Mesmo sem tirar o prestígio de outras modalidades, o ouro era praticamente uma obrigação. Não importaria a maneira de como fosse conquistado.

Em 1996 (Atlanta), após um hiato sem disputar a competição, uma seleção galáctica foi formada para a conquista da famigerada medalha. Já com a norma de somente permitir a disputa de jogadores abaixo dos 23 anos e outros três “veteranos”, o Brasil levou o que tinha de melhor para solo norte-americano.

O que falar de um time com Dida, Roberto Carlos, Rivaldo, Flávio Conceição, Ronaldo, além dos veteranos Bebeto e Aldair? A base da Copa do Mundo de 1998 era favorita na visão de grande parte da imprensa.

Pena existirem duas outras seleções com nível técnico tão alto. Uma Argentina igualmente talentosa e uma surpreendente seleção africana.

A Nigéria encantou o mundo naquela competição. Reunindo uma constelação, os nigerianos fizeram bonito e eliminaram a nossa seleção nas semifinais em jogo eletrizante. De quebra, ainda bateram os argentinos na final.

Ronaldo? Não. As Olimpíadas de 96 foram mesmo de Babangida, Okocha, West, Kanu e Cia.

Com o gostinho de três medalhas, sendo a última um bronze, o escrete canarinho chegou aos Jogos Olímpicos de 2000 (Sydney) com a pressão do ouro, mesmo com um time menos talentoso que o da edição passada. O técnico Vanderlei Luxemburgo tinha como único objetivo trazer o ouro para o país. Tanta pressão que prejudicou os brasileiros.

Apesar do bom futebol demonstrado, uma falta de atenção pôs fim a tudo. Nas quartas-de-final, contra a geração dourada de Camarões, o Brasil chegou à prorrogação com dois jogadores a mais que a seleção africana.

Mesmo após criar muitas chances, a equipe liderada por Ronaldinho e Alex sucumbiu. Em um apagão defensivo a sete minutos do fim de jogo, M’Bami aproveitou para marcar o gol de ouro. Fim do sonho. Fim da era Luxemburgo.

Gerações decepcionantes

Janeiro de 2004. Aquela que prometia ser a melhor geração da história recente e findar o jejum olímpico sequer vai às Olimpíadas. O bode expiatório foi o técnico Ricardo Gomes, sob a alegação de que não teria dado padrão tático à equipe, além de ter permitido certa falta de concentração e salto alto da delegação.

Até hoje, o bom treinador sofre com o Pré-Olímpico. Derrota e perda da vaga para os donos da casa paraguaios. Dor para Robinho, Diego, Dagoberto e Cia. Pior. Em Atenas, os hermanos argentinos conquistariam a medalha dourada.

Após a geração de ouro sequer disputar as Olimpíadas, o foco foi voltado à seleção de Dunga em 2008 (Pequim). Com uma equipe de boa qualidade, reforçada por Ronaldinho (longe do auge), a medalha de bronze ficou de bom tamanho.

Ronaldinho não pareceu muito preocupado com o bronze em Pequim (Foto: Reprodução/globoesporte.com)

Isso porque, nas semifinais, os brasileiros tiveram a infelicidade de encontrar o esquadrão argentino bicampeão olímpico.

Com Messi, Riquelme, Lavezzi, Aguero, Di Marpia, entre outros ilustres coadjuvantes, a seleção levou sonoros 3 a 0 e ficou contente em vencer o excelente time belga na disputa do terceiro lugar, graças a uma boa partida de Jô.

A carga psicológica voltou a atacar em 2012 (Londres). Talvez de forma mais feroz. Tal qual em 1996, a geração de Neymar, Oscar e Cia era tida como favorita máxima ao ouro. Ledo engano.

Sob comando de Mano Menezes, a seleção não conseguiu repetir o futebol do Sul-Americano sub-20 e também do Mundial da categoria em 2011. Com um futebol estático e travado, o Brasil dependia dos brilhos individuais de Neymar e Oscar pra vencer.

622_9c80f922-df4f-3d27-be22-35f6e1291847

Sequer a geração de Neymar e Oscar faturou o ouro (Foto: Reprodução/espn.com)

A maldição do ouro se tornou mais forte junto com outra maldição que a seleção já acumulava. Enfrentar mexicanos nunca foi sinônimo de vitória para o Brasil.

Ainda mais tendo em vista que enfrentaríamos a melhor geração da seleção tricolor. Com Peralta inspirado, o México pôs fim, mais uma vez, ao sonho dourado.

O técnico recebeu boa parte da culpa e, logo depois, foi mandado embora. Mais uma geração foi estigmatizada com a perda do ouro. Apesar das recentes medalhas douradas em outros esportes, a pressão pelo ouro olímpico do futebol é crescente.

Com o 7 a 1 da última Copa e com a realização das Olimpíadas no Brasil, a paranoia dourada só aumenta. A obsessão parece ter rompido a linha tênue e virado loucura. Será que o tabu vai ser quebrado?

Deixe seu comentário!

comentários