Talento e badalação: O que os dois ‘Messis Asiáticos’ podem fazer pelo...

Talento e badalação: O que os dois ‘Messis Asiáticos’ podem fazer pelo continente

Conheça os astros da base que prometem elevar o patamar do futebol asiático

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Seguir os passos de um gênio é uma missão ingrata. Imitá-lo quase impossível. No futebol, a expectativa criada em torno de uma promessa muitas vezes não é correspondida. Em outras, sim, mesmo contrariando o senso comum. No Barcelona, Messi iniciou sua carreira cercado de elogios e projeções. O resto da história todos conhecem. Um vencedor acima de tudo.

Dois asiáticos também iniciaram suas trajetórias no clube espanhol com expectativas exacerbadas. Tamanha qualidade já rendeu apelidos de “Novo Messi” para Lee Seung Woo, sul-coreano de 19 anos, e Takefusa Kubo, japonês quatro anos mais jovem. Ambos desembarcaram em Barcelona no início da década e chamaram atenção rapidamente.

Além do peso da comparação com o gênio argentino, carregam um mundo de expectativas, desejos e projeções. Nunca na história um asiático ostentou o prêmio de melhor jogador do mundo. Aliás, nem perto passou. Diferentemente de outras regiões, a evolução coletiva não foi capaz de elevar um talento ao rol dos astros badalados.

Na lista da FIFA dos 100 melhores jogadores da história, nenhum nome asiático aparece entre os 100 atletas. Na lista de Pelé dos maiores jogadores vivos, aparecem dois: Nakata, do Japão, e Hong Myung-bo, da Coréia do Sul. Ambos estiveram nas respectivas melhores colocações de seus países em Copas do Mundo, semis e oitavas de final em 2002.

A semifinal alcançada pela Coréia do Sul é o melhor resultado do continente em toda a história da competição. Na edição, Lee tinha apenas 4 anos, enquanto Kubo nem havia completado um ano, claramente um período que não está em sua lembrança.

Um conto asiático

A dupla pode fazer história. Contemporâneos, já chamaram atenção de todos na Copa do Mundo Sub-20 2017, disputada na Coréia do Sul. Lee foi o astro dos anfitriões que brilhou na primeira fase, mas caiu nas oitavas para Portugal. O Japão foi menos empolgante, mas brigou até o fim com a Venezuela, na mesma fase da competição. Kubo, com 15 anos – jogador mais jovem do torneio, entrou muito bem em algumas partidas.

A esperança depositada neles é de elevar o patamar do futebol da região, não só em termos de resultado, mas de reconhecimento técnico. Talvez hoje somente Son, do Tottenham, esteja entre os “melhores” da posição na Europa. Mesmo assim, não é titular absoluto do time inglês.

Lee, vocação para astro

Lee Seung-woo, nascido em Suwon, em 6 de janeiro de 1998, foi colocado como jogador mais brilhante de La Masia por algum tempo. Com características semelhantes a de Messi no posicionamento, movimentação e estilo de jogo, as comparações logo aparaceram a partir de sua chegada à base do clube, em 2011.

Lee é mais "parceiro" dos holofotes que Kubo (Foto: Reprodução/ogol.com)
Lee é mais “parceiro” dos holofotes que Kubo (Foto: Reprodução/ogol.com)

Um pouco mais alto, com 1,73m, e destro – ao contrário de Messi, o armador/ponta/centroavante tinha um instinto natural para o gol. Não tentos normais, mas de rara beleza. Muitos jornalistas que acompanham a base do Barcelona, como Oriol Domenech e Josep Capdevilla, citam que as qualidades do sul-coreano saltavam aos olhos, em movimentos não comuns nem mesmo a uma base tradicional, como é a do Barcelona.

O termo “Messi sul-coreano” já estava criado. “O mais parecido com o argentino” era enunciado pela imprensa. Lee chegou ao Barcelona após se destacar em competições de base com sua habilidade, mesmo diante de atletas mais velhos. Aos 12 anos, na Danone Cup, só faltou fazer chover. Foi o artilheiro e craque incontestável da competição. Albert Puig se interessou pela promessa.

A inteligência sem a bola, a velocidade e a facilidade para passar pelos oponentes segue em seu DNA desde essa época. Na Copa Catalunya-Coreia, mais show. Desta vez, Lee fora contratado pelo Barcelona, juntamente a Jang Gyeolhee, hoje lateral-esquerdo.

Chegou a marcar 38 gols em 29 jogos pelo Infantil. Apesar das dificuldades da adaptação, tudo fluía muito bem. Gols, assistências e fama. A Coréia do Sul começava a ver um novo ídolo se formando.

Tímido, habilidoso e imparável

Take Kubo é mais jovem, mas não menos badalado. Com características semelhantes as de Lee, o japonês também se mostrou diferente logo em sua chegada ao clube, em 2012.

Com 1,70m, somente a mesma altura de Messi, chama atenção pela habilidade, velocidade e finalização. Canhoto, é ainda mais preciso ao chutar. Dificilmente erra as finalizações dentro da área, tamanha efetividade que possui.

Mais vertical que Lee, mas menos “driblador”, Kubo costuma ser um avião para cima dos zagueiros. Aberto, consegue imprimir velocidade e dar dinâmica ao jogo. Chegou a se destacar contra adversários mais velhos na base, inclusive do Barcelona, sempre colocando muito velocidade na partida.

Com essas características, lembra mais Messi nos movimentos. E na personalidade também. Tímido, não costuma ser o protagonista sem a bola. Diferentemente de Lee, com perfil mais semelhante ao de Neymar, principalmente na capacidade em conseguir tirar o adversário do sério com suas jogadas.

O sul-coreano chegou a pedir silêncio a torcedores do Espanyol, em partida nas categorias de base, após marcar três gols no adversários e decidir mais um clássico catalão.

Kubo iniciou sua trajetória na escola do Barcelona de Fukuoka, sul do Japão. Nascido em Kanagawa, a palavra MVP é presente no vocabulário desde quando atuava no Japão. O atacante, fã e ótimo jogador de tênis de mesa, chegou a marcar 70 gols em 30 partidas em uma temporada pela base do Barcelona.

Seleção, sucesso e esperança

Com as respectivas seleções nacionais, o sucesso já é visível. Lee se destacou em 2014, quando foi eleito MVP do Asiático Sub-16. Em uma das partidas, marcou três gols em 34 minutos, mostrando que seu nível era muito elevado para a competição.

Já Take, mesmo com apenas 15 anos, não fica atrás. São impressionantes 11 gols em 11 partidas, incluindo gol em vitória sobre a Inglaterra sub-15, por 4 a 3, em 2015. A equipe inglesa contava com Sancho no ataque.

Percalços semelhantes

Até nas dificuldades a dupla asiática se assemelha. Apesar de todo o talento, trajetória de sucesso na base do Barcelona e tanta badalação, nenhum dos dois tem definido seu futuro no Barcelona.

Lee e Kubo foram prejudicados por punições da FIFA aos clubes espanhóis por problemas em transferências de promessas – cada uma em um ano diferente. Durante 2015, o sul-coreano ficou impossibilitado de atuar pelo Barça.

Somente em 2016, quando completou 18 anos, pôde voltar a participar de jogos pelo time. Período que pesa na formação e crescimento do atleta, principalmente nas categorias de base. Nesse tempo, atuou somente por competições pela seleção da Coréia do Sul.

Talvez o período ajude a explicar o porquê Lee ainda não explodiu no Barcelona. Após sua volta, as exibições de alto nível passaram a ser menos frequentes. Vários clubes europeus já manifestaram interesse em contratar o potencial craque, que segue mostrando qualidade incomum em seus movimentos. A sequência no Barcelona ainda é pendente.

Kubo já brilha pelo FC Tokyo (Foto: Reprodução/mundodeportivo.com)
Kubo já brilha pelo FC Tokyo (Foto: Reprodução/mundodeportivo.com)

Cenário ainda pior para os torcedores catalães é o de Kubo. Quando o clube foi punido, o atacante japonês tinha apenas 14 anos. Logo, voltou ao Japão e assinou com o FC Tokyo.

Ao seguir mostrando talento acentuado, subiu de categoria, até chegar aos profissionais, neste ano. Com apenas 15 anos, estreou no Campeonato Japonês, na terceira divisão – o mais jovem da história.

Ele também marcou história ao ser o mais jovem a marcar gol por uma competição deste nível. Em junho de 2017, anotou belo tento diante do Cerezo Ozaka Reserves.

A euforia é imensa, e os estádios passaram a receber excelente público somente para ver a promessa em campo. A esperança de um povo que segue dando seus primeiros passos. Até os 18 anos, em 2019, a cena deverá se repetir muito. E depois? Bom, aí o Barcelona terá que convencer Kubo a voltar para La Masia e, quem sabe, formar uma dupla que pode imitar tantas outras de sucesso no próprio clube catalão. Porém, o ineditismo étnico pode marcar ainda mais uma história que tem tudo para dar certo.

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