Norberto Doroteo Méndez nasceu a 5 de janeiro de 1923, na esquina da rua Grito de Asencio com a Atuel, no bairro de Pompeya, em Buenos Aires. Primeiro filho de Doroteo Méndez e Rosa Villaruel, foi levado por um olheiro às divisões inferiores do Huracán com somente 13 anos de idade.
No clube de Parque Patricios, cresceu futebolisticamente e fez sua estreia profissional sete primaveras depois, no triunfo por 4 a 2 sobre o Lanús. Naquele 13 de março de 1941, o “Tucho”, como era apelidado, marcou o terceiro gol, sendo que seu time começou perdendo por 2 a 0. Uma história que começou vitoriosa.
Thomaz Soares da Silva, o Zizinho, veio ao mundo no dia 14 de setembro de 1921, em São Gonçalo, na Avenida Paiva, número 77. Foi o terceiro de seis filhos do casal Thomas Silva e Euridice Soares. Seu pai havia fundado um ano antes, com amigos, o Carioca Football Club.
A criança, portanto, nascera em um ambiente que respirava o ludopédio. Começou nas divisões de base do extinto Byron, de Niterói, e chegou em 1939 ao Flamengo, onde permaneceu até 1950. Debutou em um amistoso contra o Independiente-ARG, que venceu o jogo em São Januário por 4 a 3, no dia 24 de dezembro de 1939.
Jogando como ala-direito, Tucho, embora tivesse vencido apenas três títulos oficiais de menor expressão em uma época na qual Boca Juniors e River Plate eram os grandes protagonistas, destacou-se no “Globo” devido ao seu faro goleador, sendo convocado pela primeira vez para a seleção argentina em 1945.
Já o Mestre Ziza, por outro lado, fora chamado para integrar o escrete brasileiro três anos antes. O meia-direito também aterrorizava os goleiros rivais e acumulava taças e taças, levando o rubro-negro carioca, por exemplo, ao então inédito tricampeonato estadual em 1942, 1943 e 1944.
O primeiro encontro dos dois ícones do futebol sul-americano ocorreu na quinta-feira do dia 15 de fevereiro de 1945, pela quarta rodada do Campeonato Sul-Americano, a atual Copa América, disputada em Santiago, no Chile. Àquela altura, Zizinho só havia marcado dois gols na competição, ambos em 1942, um na vitória por 5 a 1 contra o Equador e outro no triunfo por 2 a 1 diante do Paraguai, no Estádio Centenário, em Montevidéu.
Por sua vez, Méndez, mesmo estreando mais tarde, havia superado o brasileiro. Naquela edição do torneio, marcou duas vezes contra a Colômbia (9-1) e uma no empate com o Chile (1-1).
O destino quis que essas figuras não compartilhassem apenas os gramados do Estádio Nacional, em Santiago. Eles dividem até hoje a artilharia histórica da Copa América, com 17 gols cada, dois a mais que o peruano Lolo Fernández. Colabora para isso, sem lhes tirar qualquer mérito, o fato de a competição ser realizada quadrienalmente. Mas voltemos à narrativa. No primeiro encontro de ambos, Méndez anotou todos os gols alvicelestes na vitória por 3 a 1. Ele seria artilheiro do torneio ao lado de Heleno de Freitas (6 tentos).
Ainda naquele ano, Argentina e Brasil se enfrentaram em 16 de dezembro pela Copa Roca, no Estádio do Pacaembu. Desta vez, Zizinho balançou a rede, mas os anfitriões perderam por 4 a 3 (o Brasil seria campeão em três jogos). Como eles não se encontraram nos dois duelos seguintes, a oportunidade da revanche perfeita surgiu em 10 de fevereiro de 1946, na final do Campeonato Sul-Americano, realizado em Buenos Aires. Decisivo, Tucho marcou os dois gols do embate e garantiu o bicampeonato aos donos da casa.
Esse jogo ficou marcado pela confusão generalizada. O capitão argentino José Salomón fraturou a perna em uma dividia com Ademir Menezes e precisou ser substituído ainda no primeiro tempo. A torcida local, revoltada, invadiu o campo do Monumental de Núñez para agredir os brasileiros, paralisando o duelo por mais de uma hora. As duas equipes voltaram a jogar com um atleta a menos, quando a Argentina já vencia por 1 a 0.
Em decorrência da tensão provocada, inclusive, houve um corte de relações por 10 anos entre a CBD e a AFA, motivo pelo qual a Argentina não disputou a Copa América de 1949 e a Copa do Mundo de 1950, ambas sediadas no Brasil. Mas essa é outra história.
Assim, os caminhos de Méndez e Zizinho foram separados em nível de seleções. O primeiro acabou se transferindo para o Racing e virou ídolo em Avellaneda. Passou depois pelo Tigre e encerrou a carreira no seu primeiro amor, o Huracán, em 1958.
O segundo representou com destaque Bangu e São Paulo. Ídolo de Pelé, ganhou o prêmio de melhor jogador da Copa de 1950, em que pese o indelével Maracanazo. Disputou seu último grande torneio pelo Brasil em 1953, na campanha do vice-campeonato da Copa América diante do Paraguai.
De maneira indiscutível, eles estão entre os grandes nomes de todos os tempos do futebol sul-americano, outra distinção que ambos compartilham, além da artilharia do certame de seleções mais antigo do mundo. Privilegiados foram os gramados que os tiveram em ação ao mesmo tempo em ação e os torcedores que desfrutaram de seus talentos e gols, que dificilmente serão ultrapassados na Copa América.