Um registro de nossa visita ao caldeirão dos Aflitos

Um registro de nossa visita ao caldeirão dos Aflitos

Equipe do Alambrado conheceu a casa do Náutico, hoje emprestada ao América

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O Estádio Eládio de Barros Carvalho, popularmente conhecido como “Aflitos” por estar situado em um bairro homônimo, localiza-se na Avenida Rosa e Silva, em Recife, e pertence ao Clube Náutico Capibaribe, que agora utiliza a Arena Pernambuco.

O nome da primeira casa do alvirrubro é uma homenagem ao ex-goleiro que, antes de chegar à presidência do Timbu, em 1948, havia passado pelos cargos de técnico e diretor de futebol. Foi um dos grandes colaboradores pelas obras de melhorias do estádio.

Mas respeitemos a cronologia. A primeira partida que o “Aflitos” recebeu foi um clássico contra o Sport, em 25 de junho de 1939, e terminou com vitória da equipe mandante por 5 a 2. Artilheiro do encontro com dois tentos, Wilson, do Náutico, marcou o primeiro gol.

Embora a estreia tenha acontecido em 1939, a propriedade na zona norte da capital pernambucana fora adquirida pelo clube em 1917, passando por mudanças até tomar a forma como conhecemos nos dias de hoje, com capacidade para 22.856 mil torcedores.

O maior público registrado foi diante do mesmo adversário da inauguração. Em 21 de julho de 1968, 30.067 pessoas assistiram ao triunfo por 1 a 0 sobre o Sport, enquanto a maior goleada ocorreu em 1º de julho de 1945: 21 a 3 para cima do Flamengo de Recife.

Apesar do placar memorável, talvez o momento mais marcante do estádio seja a “Batalha dos Aflitos”, travada por Náutico e Grêmio, em 26 de novembro de 2005, pela última rodada do Campeonato Brasileiro da Série B, inspirando até a produção de um filme.

No quadrangular final, o Grêmio precisava de um empate para retornar à primeira divisão, e a vitória lhe garantiria o título. Já o Náutico, por sua vez, dependia exclusivamente do resultado positivo para conquistar o acesso à elite junto com o Santa Cruz.

O jogo foi um típico enredo do improvável no futebol. O Timbu perdeu dois pênaltis. O primeiro bateu na trave, e o segundo foi defendido por Galatto aos 59 minutos da etapa final, quando o Tricolor tinha sete homens em campo por conta de quatro expulsões.

Para completar o enredo épico, Anderson, após sofrer falta na lateral do campo, aproveitou que o Náutico havia se desnorteado com a expulsão de Ademar e invadiu a área para marcar o único gol do confronto e conduzir o Grêmio ao título nacional.

Hoje, conforme citado no começo do texto, o Timbu manda suas partidas na Arena Pernambuco, pois firmou acordo para ter direitos sobre uma das sedes da Copa do Mundo de 2014. A mudança, porém, não abala o carinho do torcedor alvirrubro por sua verdadeira casa, emprestada na atualidade ao América-PE.

NOSSA VISITA

Nossa ida ao Estádio dos Aflitos foi um tanto quanto surpreendente. Por volta das 12h30 de uma quinta-feira (08/01), chegamos ao local pelo portão dos visitantes, que estava aberto e era vigiado à distância por um senhor. Seco, ele nos indicou a dar a volta até a entrada principal.

Andando pelas calçadas do bairro nobre, tomadas por árvores mais altas que os muros dos Aflitos em alguns trechos, o que nos impede de avistar o topo dos prédios residenciais, encontramos quase uma de dezena de operários descansando na sombra.

Na caminhada sob um calor intenso e, logo após termos ultrapassado as bilheterias, marcadas com algumas pichações cobrando títulos do time, chegamos à fachada da sede social, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Ao perguntarmos para um segurança quais eram os procedimentos para entrar, ele foi breve. Simplesmente nos disse: “Segue reto e já sai lá”. E seguimos sem parar nas demais dependências, com exceção de uma quadra de futsal.

De imediato, vimos uma inscrição no anel da arquibancada ostentar o hexacampeonato regional (de 1963 a 1968), acima de uma parede em que estava escrito “Campeão do Centenário” (2001) e de uma reprodução da imagem de Kuki, ídolo do clube.

Como estávamos sozinhos, entramos nas arquibancadas e andamos por todos os setores do estádio, incluindo o apertado caminho que leva às cabines de imprensa. Também pisamos no gramado, sentamos no banco de reservas e entramos nos vestiários – todos com as luzes apagadas.

A grama, imaginamos que por causa do sol e pela visita ter sido feita antes do início da temporada, estava meio seca, porém baixa. Aproveitamos para sentar no meio do campo e sentir que não há nada menos vazio que um estádio vazio, como escreveu Galeano.

A região da área estava castigada, sobretudo a pequena área e a marca do pênalti. Na lateral oposta às cadeiras sociais, a grama estava um pouco alta, assim como atrás das bandeirinhas de escanteio. Nada que diminuísse o charme do local. Pelo contrário.

Talvez por conta do horário de almoço, que nos impediu de conhecer a sede do Timbu mais a fundo, saímos de lá com a impressão de que o lugar sofre com certo abandono. Esperamos estar enganados, já que um templo rico e cheio de histórias do nosso futebol merece a eternidade.

 

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Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero, é apreciador do futebol latino, do teor político-social do esporte bretão e também de seu lado histórico.