Ah, o futebol brasileiro. Craques criados a embaixadinhas em ruas de terra. Com doses nada homeopáticas de imaginação acima da média humana, transformando chinelos sobre paralelepípedos em traves reluzentes, e também em luvas poderosas; latinhas de refrigerante amassadas em bolas de última geração; o tampo do dedão em cravas de chuteira.
O primeiro parágrafo soa hoje como um jornal antigo, esquecido no porão. Bastaria um sopro para que toneladas de poeira levantassem voo. Os craques estão escassos, assim como os terrões. Que o digam os torcedores do Sporting, que, tais quais os de Benfica e Porto, nem sempre na história puderam contar com Silas, Anderson Polga, Jardel e Liedson para representar o futebol tupiniquim em Portugal.
Concluindo a série, o Alambrado reuniu 13 atletas brasileiros que não obtiveram sucesso vestindo a respeitável camisa do Sporting neste sofrido século XXI para a torcida leonina.
Tinga
Muito respeitado por torcedores de Grêmio, Internacional, Borussia Dortmund e Cruzeiro, o recém-aposentado Tinga costuma deixar boa impressão por onde passa, exceto… no Sporting. Já com 26 anos e tido como um dos poucos blindados a críticas no elenco gremista de 2003, que se safou do rebaixamento apenas na última rodada, o volante acabou vendido aos Leões no ano seguinte.
No Brasil, já sem Tinga, o Grêmio acabou rebaixado em 2004. Em Portugal, com Tinga, o Sporting terminou a temporada na terceira colocação. Não que o volante fizesse muita diferença – tinha status de reserva, e, em um ano de clube, atuou apenas 24 vezes, marcando um gol. Frustrado com a experiência, voltou ao Brasil em 2005, mais especificamente ao Internacional, clube pelo qual conquistaria a Libertadores em 2006.
Mota
Herói inesperado no Campeonato Brasileiro de 2003, vencido com folgas pelo Cruzeiro, Mota marcou 16 gols na competição, mesmo sendo reserva. O bom desempenho foi suficiente para leva-lo ao Seongnam Illhwa, da Coreia do Sul. Manteve a fase na Ásia e acabou emprestado ao Sporting, com opção de compra que jamais foi ativada.
Foram apenas seis jogos do atacante, que não marcou nenhum gol. A tarefa, diga-se, era ingrata – ser reserva de Liedson no auge da carreira. Retornou à Coreia ao final do período de empréstimo.
Wender
Ao contrário de Tinga e Mota, Wender seguiu o destino comum a muitos brasileiros. Defendeu clubes de menor expressão no Brasil – Democrata e Naval, no caso – e foi trazido como aposta pelo Braga, apesar de sua idade já avançada. Surpreendentemente, conseguiu certo sucesso.
Acabou contratado pelo Sporting em 2005. Tal qual Mota, sofreu com concorrência e falta de oportunidades. Entrou em campo somente nove vezes, não convenceu e foi emprestado ao Braga, que o adquiriu em definitivo novamente em 2006.
Ronny
Com passagem pelas seleções de base, Ronny subiu aos profissionais do Corinthians com apenas 18 anos. Era tido como grande promessa, levando em conta sua velocidade e seu chute potente, características de um certo Roberto Carlos. Mesmo tendo atuado pouco pelo Timão, despertou a atenção de gigantes europeus.
Sem pensar duas vezes, o Sporting correu e levou o lateral. Passou a jogar com mais frequência em Portugal, mas sem a qualidade esperada. Cansado de esperar pelo desenvolvimento do atleta, o time de Alvalade o emprestou ao União de Leiria. Em um time menor, sem tanta pressão, conseguiu emplacar bons jogos em sequência. Suficiente para atrair a atenção do Hertha Berlim, que fez proposta pelo brasileiro, prontamente aceita pelos Leões.
Gladstone
Gladstone só tinha 18 anos quando estreou no Cruzeiro em 2003, ano da Tríplice Coroa. Era visto como investimento certo para qualquer gigante europeu pois, apesar da idade, mostrava a experiência de um veterano campeão mundial.
Mas o defensor jamais correspondeu às altas expectativas criadas. Nunca sequer foi vendido pelo Cruzeiro, tendo cumprido sete anos de contrato, com empréstimos atrás de empréstimos. Começou com Juventus, Verona até chegar no Sporting em 2007.
Não demorou a expor as fraquezas de seu jogo, que nunca evoluiu. Os erros de marcação e a lentidão em campo pouco a pouco derrubaram a credibilidade do zagueiro, que alternou entre a titularidade e o banco ao longo de toda a temporada. Acabou não convencendo os portugueses a renovar seu contrato, ou a comprar seu passe, tendo retornado ao Cruzeiro para ser emprestado novamente.
Rodrigo Tiuí
O atacante levantou certa expectativa em parte da imprensa brasileira, principalmente pelo fato de ter subido precocemente ao time principal, aos 17 anos. Não chegou a brilhar com a camisa tricolor, mas, devido à época de vacas magras do time carioca, que apostava na base, jogou com certa regularidade.
Conseguiu algum destaque em 2006, quando teve a melhor temporada da carreira. Por empréstimo, primeiro no Noroeste, depois no Santos, emplacou boa sequência de jogos. No ano seguinte, estava no Sporting.
Dentre os jogadores desta lista, pode-se dizer que Tiuí foi o mais bem sucedido em Alvalade. Ao menos em um jogo. Na final de Taça de Portugal de 2008, o jogo era truncado, e Sporting e Porto decidiram na prorrogação. O brasileiro, muito questionado no clube, entrou na etapa complementar e marcou dois gols. O segundo, de voleio.
Tiuí tinha tudo para virar ídolo dos Leões, mas parou por aí. Teve poucas chances na temporada seguinte, amargando um longo jejum de gols. Foi vendido para o Atlético Paranaense em 2009.
Pedro Silva
Foi revelado pelo Palmeiras, mas praticamente não atuou pelo clube. Intercalou empréstimos, incluindo um ao Académica, de Portugal. Comprado pelo Iraty, passou em 2007 por Santos e Corinthians, também por empréstimo, tendo jogado pouco. Quase um desconhecido no Brasil, o lateral direito foi negociado ao Sporting no mesmo ano, devido à boa impressão deixada em sua passagem anterior por terras lusitanas.
Foram 44 partidas com a camisa dos Leões, muito mais pela carência da posição do que por regularidade demonstrada nos jogos. Deixou o clube sem deixar saudades, emprestado ao Portimonense, e, em seguida, vendido ao Novo Hamburgo.
Celsinho
A aparência física, a intimidade com a bola nos pés e a posição de meia-atacante automaticamente rendia comparações a Ronaldinho Gaúcho. Tanto que Celsinho, aos 17 anos, pouco havia jogado pela Portuguesa até assinar com o Lokomotiv Moscou, por um caminhão de dinheiro, no início de 2006.
O jovem também praticamente não jogou durante um ano e meio na Rússia, sendo negociado ao Sporting. Seguiu a mesma escrita no clube lisboeta, quando era acusado pela torcida de abusar das noitadas, sendo esta a única similaridade real entre Celsinho e Ronaldinho Gaúcho, outro perseguido na noite por imprensa e torcedores.
Com apenas 12 partidas disputadas, todas abaixo da média, acumulou empréstimos decepcionantes, inclusive para a própria Lusa. Ao final do contrato, assinou com o Londrina.
Renato Neto
O meia tinha 16 anos quando trocou a base do Academia Catarinense pela do Sporting, em 2007. Subiu aos profissionais em 2009 e era visto com esperança pelos torcedores. Contudo, em sete anos de contrato, jogou apenas oito vezes. Frequentemente emprestado a clubes belgas, se estabeleceu no futebol daquele país.
Atualmente, é destaque do Gent, tendo sido fundamental na recente conquista do Campeonato Belga, o primeiro da história do clube, que adquiriu seu passe em definitivo no início da temporada.
Tales
Joia da base do Internacional, Tales era uma das principais promessas para o meio de campo da seleção brasileira quando chegou ao profissional, em 2009. O volante, contudo, jamais conseguiu emplacar no time principal a mesma regularidade que tinha entre os juniores.
Foi emprestado ao Sporting para a temporada 2010-11, mas sequer entrou em campo. Nos treinamentos, não convenceu a comissão técnica a lhe dar minutos em campo. Como esperado, retornou ao Inter ao final do vínculo. Hoje, atua no futebol tailandês.
Evaldo
Diferentemente da maior parte desta lista, Evaldo chegou ao Sporting quase como veterano, aos 29 anos. O lateral esquerdo, revelado pelo Atlético Paranaense, foi cedo para Portugal, onde conseguiu estabilizar sua carreira. Defendeu o Marítimo por quatro anos, após uma frustrada passagem pelo Porto, tendo ainda jogado mais dois anos no Braga. Nesta época, chegava-se a cogitar sua naturalização para que pudesse defender seleção portuguesa.
Nos Leões, não conseguiu repetir o bom desempenho, em parte pela pouca paciência de torcedores e da imprensa. Seu contrato foi rescindido em 2013, após voltar de um empréstimo ao La Coruña. Ficou parado por uma temporada inteira até acertar com o Gil Vicente em 2014 Para 2015-16, acertou com o Moreirense.
Elias
Medalhão do Corinthians e da seleção brasileira, o volante se destacou no clube paulista assim que chegou, em 2008. Saiu como ídolo no final de 2010, rumando ao Atlético de Madri. Não teve o mesmo sucesso na Espanha. Jogou fora de posição, atuando como meia ofensivo.
Na janela de transferências do verão europeu de 2011, Elias, fora dos planos do time espanhol, chegou ao Sporting com o status de contratação mais cara da história do clube. Não rendeu o esperado, mostrando jamais ter se adaptado ao futebol do Velho Continente.
A tese se confirmou em 2013, quando foi emprestado ao Flamengo, conduzindo a equipe ao título da Copa do Brasil daquele ano. No ano seguinte, o Sporting fez jogo duro para vendê-lo, tentando recuperar o investimento perdido. Chegou a ficar seis meses parado antes de retornar ao Timão, e, consequentemente, à seleção brasileira, após a Copa do Mundo de 2014.
Xandão
Ganhou projeção nacional ao acertar com o São Paulo em 2010. Era visto com desconfiança por grande parte da torcida. Jamais chegou a se consolidar como titular, e foi vendido sem objeções no início de 2012 ao Sporting.
Em Portugal, viveu praticamente a mesma situação. Deixou Alvalade em 2013, quando se transferiu ao Kuban Krasnodar, da Rússia, onde está até hoje.