Vaidade, no mundo do futebol, está presente em todos os níveis. Do dirigente ao jogador, passando por comissão técnica e até pela imprensa. Do orgulho em não escalar aquele atleta que a torcida gosta, das inexistentes mea culpas dos comentaristas, do desejo imenso de virar um superstar no Barcelona, tão presente nos jovens.
Mas isso não é regra. Há espaço para os humildes. O maior expoente disso é, sem dúvidas, Éverton Ribeiro. Eleito duas vezes consecutivas como craque do Brasileirão, em 2013 e 2014, quando também foi bicampeão brasileiro.
Hoje, o habilidoso meia está no limbo. Não se cogita sua transferência para gigantes europeus – nem médios –, ou ainda para a próxima convocação da seleção brasileira. No máximo, é especulado como sonho de consumo de algum time do Brasil, de tempos em tempos.
Basta abrir o Instagram do rapaz para entender as razões que o levaram a trocar o prestígio no Brasil pelos Emirados Árabes. E não, não foi somente o dinheiro. Foi também por interferência divina. Muito religioso, o meia segue a doutrina de que as oportunidades não aparecem por acaso.
Isso acabou o levando a uma espécie de retiro espiritual, no auge de sua carreira. Éverton Ribeiro foi para os Emirados praticamente sozinho, em uma época em que o Oriente Médio deixou de ser o destino principal de brasileiros. O ex-cruzeirense é um dos únicos destaques do Brasileirão a ser deixado para trás pela pomposa barca chinesa.
No próprio Al-Ahli, além de Éverton, há apenas o atacante Lima, ex-Benfica, de brasileiro. O ganês Asamoah Gyan, destaque de Gana no Mundial de 2010, é outro perdido no clube, além do marroquino Assaidi, ex-Liverpool e Stoke. Os demais não têm fama internacional.
A liga emiradense é algo como uma “Série B” das ligas exóticas: por lá estão nomes como Thiago Neves, Valdivia, Fellipe Bastos, Caio, Digão e Wanderley. Num hipotético combinado entre torneios, a seleção da liga chinesa provavelmente massacraria.
Não por acaso, Éverton Ribeiro é o grande nome da liga dos Emirados Árabes com sobras. Levou a equipe ao título nacional na última temporada, além de ter sido vice-campeão da Liga dos Campeões da Ásia em 2015, quando foi derrotado pelo Guangzhou Evergrande, da… China.
Foram, até aqui, 66 jogos, 18 gols e incontáveis assistências e dribles. Mesmo assim, é carta totalmente fora do baralho na seleção brasileira desde a fraca participação do time na Copa América do Chile, em 2015. Hoje, é “socialmente aceito” convocar atletas que jogam na China para o time canarinho. Do Oriente Médio, não.
O futuro do jogador também é uma incógnita. Éverton Ribeiro não parece ser o tipo que vai para mercados alternativos do futebol, faz um pé de meia, e volta em busca de reconhecimento. Seu destino parece totalmente na mão de seus empresários e, se for para cumprir integralmente o contrato no Al-Ahli, que assim seja. Deus assim quis.
A realidade, porém, é que destaques tardios do Campeonato Brasileiro encontram sérias dificuldades para entrar no mercado europeu. O nível do torneio nacional é inegavelmente baixo, e experiências fracassadas com nomes como Lucas Silva, Elias e Paulinho trazem a impressão de que investir em brasileiros com mais de 21 anos com pouca ou nenhuma experiência na Europa tem tudo para dar errado.
A partir da atual década, na visão dos grandes clubes europeus, o investimento só é seguro com jovens que terão longo tempo de adaptação e lapidação pela frente antes que os frutos possam ser colhidos. Sem pressão, sem exigências a curto prazo. Gabriel Jesus é o exemplo correto. Ganso é o exemplo de alto risco.