Uma transição avassaladora da era amadora para a profissional. Quatro títulos vencidos nos primeiros seis anos de existência da liga chilena, da qual foi um dos fundadores. Um tricampeonato inédito que levou 56 anos para ser repetido. E agora lutando há mais de três décadas nas divisões inferiores do país. Essa é a realidade do Deportes Magallanes.
Prestes a assoprar as velas de seu 121º aniversário, celebrado em 27 de outubro, o clube de San Bernardo, ao sul da região metropolitana de Santiago, vivenciou momentos inesquecíveis de glória – que o alçam ao posto de sexto maior campeão chileno, embora não dê uma volta olímpica desde 1938 -, mas sofre para recuperar o nível de outrora.
O princípio da crise esportiva ocorreu em 1960, quando o conjunto alviceleste fez uma campanha mediana e sofreu o primeiro rebaixamento de sua história devido ao sistema de promedios, que leva em conta a pontuação das últimas três temporadas. Apesar de ter ascendido no ano seguinte, ainda que de modo polêmico, o quadro nunca mais brilhou.
No caso aludido, a Associação Central de Futebol (ACF), a atual ANFP, determinou que haveria quatro acessos, um para o líder, um para o vice-líder, e dois para os quatro times seguintes, através de votação secreta dos membros da elite, segundo a entidade. Dessa forma, o quarto (La Serena) e o sexto colocados (Magallanes) acabaram promovidos.
Como foi supracitado, o Magallanes até chegou a se estabilizar no principal escalão do futebol local, mas nunca mais saboreou o êxito. Em pouco tempo, foi ultrapassado em número de conquistas pela Universidad de Chile. Depois de regressar de uma queda mais longa, de 1976 a 1979, ainda viu o Colo-Colo repetir seu tricampeonato em 1983.
Nesse período de volta, alcançou uma façanha história ao obter o quarto posto do campeonato chileno e garantir vaga na pré-Libertadores de 1985. Na disputa interna com Universidad de Chile, Cobreloa e Universidad Católica, levou a melhor no grupo com duas vitórias e uma derrota, classificando-se pela primeira vez para um torneio da Conmebol.
Na fase de grupos, ficou ao lado de Colo-Colo e dos uruguaios Peñarol e Bella Vista, somando duas vitórias, ambas contra o Bella Vista (2×1 e 0x1), um empate diante do Peñarol (1×1) e três derrotas, finalizando sua participação no terceiro lugar. Enganou-se, todavia, quem pensou que esse seria o início de uma nova era para o Magallanes.
Em 1986, a equipe de San Bernardo foi o lanterna do campeonato nacional com 18 pontos em 34 rodadas e está longe do patamar máximo do futebol chileno desde então, tendo inclusive caído duas vezes para a terceirona (1993 e 2006). Recentemente, voltou à segunda divisão e até surpreendeu com o vice-campeonato da Copa Chile em 2011.
No entanto, o tradicional clube, que ao longo da história aportou 41 jogadores para a seleção, ainda luta para se firmar entre os candidatos ao acesso para a elite. A prova disso é que só esteve nos playoffs da segunda categoria uma única vez, e hoje, sob o comando técnico de Óscar Correa, figura abaixo da zona de classificação.
No momento, são 32 pontos acumulados em 24 de 30 rodadas, a uma unidade do Rangers, último colocado dentro da área que leva ao mata-mata. Os alvicelestes desfrutam de um bom poder de fogo, evidenciado no atacante argentino Gonzalo Sosa e no francês Richard Barroilhet, e por outro lado sofrem com falhas defensivas.
De todo modo, por mais que hoje inspire o torcedor a sonhar com um lugar na principal divisão do país, façanha aguardada há tanto, o Magallanes anda distante do prestígio. E talvez já nem as lembranças de 1933, 1934, 1935 e 1938, visitadas só em registros históricas, possam apaziguar o sentimento de frustração diante de sua nova realidade.