Jogadores que (quase) entraram para a história – Parte I

Jogadores que (quase) entraram para a história – Parte I

Relembre atletas que ficaram na metade do caminho na estrada dos heróis do futebol

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“A história é escrita pelos vencedores”. A frase de George Orwell é antiga e aplicável a inúmeros acontecimentos através dos tempos. No futebol, não poderia ser diferente.

Afinal de contas, o esporte tem uma capacidade assustadora de criar heróis e vilões, muitas vezes definidos por apenas um torneio, um jogo, ou mesmo um simples lance dentro dos 90 minutos.

Aqueles que marcam gols decisivos e trazem triunfos para suas equipes são eternizados como ídolos. Mas muitos ficaram na metade do caminho. Por inúmeros motivos, viram a grande chance de suas carreiras passar, às vezes até sem ter culpa.

Em geral, esses atletas que deixaram a glória escapar por entre os dedos não costumam ser lembrados e logo caem no esquecimento. No entanto, o Alambrado relembra alguns casos marcantes de jogadores que por pouco não entraram para a história:

Mario Basler

Basler comemora seu gol na final da Liga dos Campeões de 1999 (Foto: UEFA)
Basler comemora seu gol na final da Liga dos Campeões de 1999 (Foto: UEFA)

Tanto no Werder Bremen, clube pelo qual chegou a ser artilheiro da Bundesliga na temporada 1994-95, como no Bayern, para onde se transferiu em 1996, o alemão Mario Basler costumava cumprir com regularidade sua função no meio de campo. Com a bola rolando, não costumava comprometer.

No entanto, com a bola parada ele deixava de ser apenas uma peça regular no time. Especialista em cobranças de falta, que originavam a maior parte de seus gols, e até mesmo em cruzamentos venenosos em escanteios, Basler tornou-se uma espécie de trunfo do time de Munique.

Sua categoria acabaria sendo vista na final da Liga dos Campeões de 1999, contra o Manchester United. Aos seis minutos, o grandalhão Jancker foi derrubado pelo defensor Ronny Johnsen próximo à área.

Chance de ouro para Basler, e ele não desperdiçou. Com o pé direito, colocou a bola em curva por fora da barreira, no contrapé do goleiro dinamarquês Peter Schmeichel, que não esboçou reação. O Bayern saía na frente no Camp Nou.

O United foi para cima e abriu espaços, permitindo aos bávaros ao menos duas chances claras de selar a vitória, com uma meia-bicicleta de Jancker e um caprichoso toque por cobertura de Scholl. Ambos pararam no travessão.

Tudo caminhava para a glória alemã, mas os acréscimos do segundo tempo trataram de mudar os rumos do jogo. Aos 46, Sheringham empatou a partida depois de um bate-rebate na área. Aos 48, nova confusão na defesa do Bayern, e gol de Solskjaer. Festa dos Red Devils em Barcelona.

Depois da fatídica final, Bassler retornou ao seu clube de origem, o Kaiserslautern. Acabou não tendo outra chance de se eternizar como aquela na final da Liga dos Campeões, que daria o primeiro título europeu ao Bayern em 23 anos. No fim das contas, a virada do Manchester entrou para a história. Basler, não.

Dominic Adiyiah

Suárez impediu que Adiyiah entrasse para a história (Foto: FIFA/Divulgação)
Suárez impediu que Adiyiah entrasse para a história (Foto: FIFA/Divulgação)

Tudo parecia ir bem na carreira do ganês Adiyiah em 2010. Artilheiro e eleito o Bola de Ouro do Mundial Sub-20 no anterior – com vitória sobre o Brasil na decisão – o jovem de 20 anos havia sido recém-contratado pelo gigante Milan e ganhava chances na seleção principal de seu país.

Disputou a Copa das Nações Africanas daquele ano, embora apenas entrasse no decorrer dos jogos. Algo normal, considerando o alto poder ofensivo da equipe africana, que contava com o ídolo Asamoah Gyan atuando na mesma função, como titular.

Mesmo com poucos minutos em campo, Adiyiah conseguiu convencer a ponto de ser lembrado na lista final de convocados de Gana para a Copa do Mundo de 2010. Estreou no torneio na última rodada da primeira fase, contra a poderosa Alemanha.

A próxima chance do atacante viria nas quartas de final, contra o Uruguai. Um jogo tenso, em que Gana saiu na frente com gol de Muntari, e cedeu o empate em uma cobrança de falta de Forlán.

A partida foi para a prorrogação, e então ocorreu um dos momentos mais incríveis de todas as Copas. No último minuto, bola na área uruguaia. Após uma saída atrapalhada de Muslera, a bola cai em Appiah, um dos ícones de Gana, que chutou em cima de Suárez.

O rebote veio na direção de Adiyiah, que chegaria inteiro para cabecear, na pequena área, com o goleiro batido. Ele não vacilou, escorando na direção do gol. O tento parecia iminente, porém, usando as mãos, Suárez tirou mais uma vez. Pênalti e cartão vermelho para o uruguaio.

Adiyiah teve a chance de entrar para a história como o jogador que classificou um time africano às semis da Copa do Mundo pela primeira vez. E perdeu, por conta de uma mão nada boba. Gyan cobrou a penalidade no travessão. No fim das contas, deu Uruguai, com direito a cavadinha de Loco Abreu no último pênalti.

Depois da Copa, Adiyiah nunca chegou a se tornar o que era esperado. Sem chances no Milan, foi emprestado diversas vezes sem se destacar em nenhum clube, até chegar ao Nakhon Ratchasima, da Tailândia. Um destino ingrato com um quase-herói.

Richard Morales

Conhecido pelas comemorações irreverentes e explosivas em seus gols, o uruguaio Richard “Chengue” Morales sempre foi querido pela torcida do Nacional, e acabou se tornando uma estrela no país após marcar os dois gols que classificaram o Uruguai para a Copa de 2002, em repescagem contra a Austrália.

Os uruguaios não disputavam a Copa desde 1990, e chegavam com altas expectativas no torneio, em uma geração que contava com Dario Silva, Magallanes, Dario Rodriguez, Diego Forlán, entre outros.

O sorteio, no entanto, foi ingrato com os “charrúas”, que foram chaveados juntamente com a temida França, então atual campeã, além da Dinamarca e de Senegal, até ali uma incógnita.

Dentro de campo, as dificuldades foram expostas. Derrota na estreia contra os dinamarqueses por 2×1, e na segunda rodada, empate por 0x0 com a França, desfalcada de Zinedine Zidane.

Na última rodada da primeira fase, a situação era clara: o Uruguai precisava, a qualquer custo, de uma vitória contra os senegaleses, que a essa altura já haviam se tornado a maior surpresa do Mundial.

Morales em ação no fatídico duelo contra Senegal (Foto: Reprodução)
Morales em ação no fatídico duelo contra Senegal (Foto: Reprodução)

Logo no primeiro tempo, a seleção africana conquistou uma vantagem confortável no placar, abrindo 3×0 antes do intervalo. No desespero, o técnico uruguaio Victor Púa resolveu colocar Morales em campo, em busca de uma reação improvável.

Com menos de um minuto no gramado, Morales marcou, em rebote de Dario Silva. O gol deu ânimo ao Uruguai, que diminuiu com um golaço de Forlán e empatou a partida aos 42 do segundo tempo, com Recoba convertendo um pênalti sofrido pelo próprio Morales.

Como não poderia deixar de ser, os últimos minutos foram de pressão total uruguaia. Nos acréscimos, a chance para a consagração total de Morales como herói: depois de um chute de longa distância desviado, a bola sobrou limpa para ele, na pequena área, no alto de seus 1,96m.

Com os adversários caídos e o goleiro batido, Morales cabeceou. Para fora. Justamente o cabeceio, sua jogada preferida, havia falhado na hora decisiva. Esse erro impediu a vitória e, consequentemente, a classificação do Uruguai para as oitavas, além de privar o torneio de umas maiores viradas da história.

O centroavante ainda continuou sendo querido principalmente pelos fãs do Nacional, mas acabou perdendo a chance de escrever seu nome na longa lista dos maiores ídolos uruguaios.

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