O São Paulo que calou gigantes nos anos 90 – Parte 2

O São Paulo que calou gigantes nos anos 90 – Parte 2

Tricolor realiza dobradinha na Libertadores e Mundial e eleva futebol brasileiro ao mundo

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Telê Santana fazia história no São Paulo. Depois de revezes no Campeonato Brasileiro em 89 e 90, calava os críticos, e superava a desconfiança dos demais com títulos. Campeonato Paulista, Brasileirão, Libertadores e Mundial de Clubes. Mas ele queria mais. O apetite era insaciável. E assim chegava o ano de 1993…

O Tricolor paulista não se daria bem no Paulistão e no Brasileirão. No estadual, cairia na segunda fase, onde oito times eram divididos em oito grupos, sendo que um de cada grupo classificava-se para a grande decisão. Acabou que o São Paulo caiu no mesmo grupo de Santos, Corinthians e Novorizontino, e acabou ficando na segunda colocação. Já no Brasileirão, ficou em quarto.

Na Libertadores, jogando na condição de atual campeão, o São Paulo entrava diretamente nas oitavas. Desta maneira, encararia o Newell’s Old Boys. Sim, o clube que havia sido derrotado pelos comandados de Telê no ano anterior. Mas os argentinos estavam com sede de vingança e foram com tudo para cima da equipe brasileira.

A primeira partida seria realizada em Rosário, na Argentina, casa do Newell’s. E o São Paulo perderia por 2 a 0, um péssimo resultado, mas em casa, no Morumbi, perto de sua torcida a história poderia mudar. E mudou. O Tricolor não tomaria conhecimento do seu adversário, vencendo por 4 a 0 o confronto. Então viria o Flamengo, campeão brasileiro em 1992.

O primeiro jogo aconteceu no Maracanã, no Rio de Janeiro, e acabaria empatado em 1 a 1, um ótimo resultado para o Tricolor que viria pra cima com tudo dentro de casa. E foi. Vitória por 2 a 0 sobre os cariocas. Assim, o São Paulo chegava à decisão da Libertadores da América 1993, e encararia o Cerro Porteño, tradicional equipe do Paraguai.

E desta vez o Tricolor não decidia dentro de casa, pois a primeira partida era disputada no Morumbi. E foi vencida pelo Tricolor por 1 a 0, gol de Raí, depois de jogada de Palhinha, que sofreu pênalti dentro da área, e a bola acabou sobrando nos pés do camisa 10 são paulino. O talento para futebol estava no sangue do irmão do Doutor Sócrates.

A segunda partida seria recheada de emoção. O primeiro tempo bastante disputado, com chances para os dois lados, mas sem um lance realmente perigoso. Viria o segundo tempo. O São Paulo teria as melhores chances. Primeiro com Muller que, despretensiosamente, chutou sem ângulo e quase encobriu o goleiro Mondragon.

Depois foi a vez de um zagueiro do Cerro quase encobrir o goleiro da própria equipe. Já quase no fim da partida, o Cerro ganhava um escanteio. E na bola estava nada menos que Arce, sempre venenoso nestas cobranças. E foi. No cruzamento, um toque no primeiro pau desviava a bola para o fundo do gol, mas Ronaldo Luís estava lá, em cima da linha, salvando o Tricolor e garantindo mais uma decisão.

Novamente o São Paulo jogaria a primeira partida dentro de casa, no Morumbi. E valeria a pena. O começo da decisão contra a Universidad Católica-CHI seria disputado, nervoso. Primeiro com Palhinha acertando a trave após cruzamento.  Depois, o zagueiro Gilmar daria uma de Lucão e recuaria a bola de maneira errada para Zetti, que teve que correr e se esticar todo para alcançar a bola, dar um soco nela, e jogar para escanteio. Durante a narração de Galvão Bueno, o comentarista de arbitragem Arnaldo Cézar Coelho disse que deveria ser marcado tiro livre indireto, não assinalado pelo árbitro.

Vitor comemora gol marcado diante da Universidad (Foto: Reprodução)
Vitor comemora gol marcado diante da Universidad (Foto: Reprodução)

Zetti salvaria outra bola e veria, num outro lance, o atacante chutar para fora em um chute cruzado. Cafu também levaria perigo para o gol chileno. Mas o gol Tricolor aconteceria de um belo lançamento de Válber para Palhinha, que dominaria tirando do marcador, acertando novamente a trave, mas desta vez a bola encontraria o zagueiro Daniel Lopez, que colocaria a bola para o fundo do próprio gol. O segundo gol do São Paulo sairia de uma boa jogada entre Pintado e Raí, com esse lançando a bola para Vítor – nome de craque – fazer o segundo gol. Vinha goleada por aí?

Sim, vinha goleada! Aos nove do segundo tempo, Gilmar, em jogada pela esquerda, receberia a bola, limparia o marcador e, sem ângulo, chutaria a bola rente a trave, enganando o goleirão que achava que vinha cruzamento. 3 a 0 fora o baile. De favela, de mansão, onde quer que o torcedor são paulino estivesse acompanhando o jogo. Depois, aos 15 minutos de jogo, Cafú recebia na linha de fundo para cruzar a Raí que, de peito, fazia o quarto gol da equipe brasileira.

Aos 25 minutos do segundo tempo, a bola seria lançada para Muller, no entanto, o marcador interceptaria, fazendo com que a mesma viajasse pelo ar. O zagueiro, sem prestar atenção, poderia ter deixado a bola para o goleiro, mas não, resolveu cortar de cabeça, entregando a bola para Muller que, sem deixar ela cair no chão, tocou de primeira para o fundo da rede. Golaço. Era o quinto gol do São Paulo. No final da partida Almada descontaria para os chilenos, mas o estrago já estava feito. Ninguém tirava o título do São Paulo.

Elenco campeão da Libertadores 93 (Foto: Reprodução)
Elenco campeão da Libertadores 93 (Foto: Reprodução)

No jogo de volta o São Paulo quase matou o torcedor do coração. Isso porque o Universidad Católica começaria a partida de maneira fulminante. Primeiro Lunari marcou um golaço de fora da área. Depois Almada de pênalti. Mas parou por aí. O São Paulo sustentou a pressão e consagrou-se bicampeão da Libertadores da América 1993, feito que somente o Santos de Pelé havia conseguido pelo Brasil.

Depois do título, o São Paulo se despediria de seu principal jogador. Raí, o camisa 10, se transferiria para o futebol francês, jogar no Paris Saint-Germain que, até então, não era nada rico.

Até o Mundial de Clubes daquele ano, o São Paulo ainda conquistaria mais dois títulos. Primeiro o da Recopa Sul-Americana. O jogo seria contra o Cruzeiro, campeão da Supercopa da Libertadores em 1992. Os dois jogos acabaram empatados em 0 a 0, assim, a decisão seria nos pênaltis.

Paulo Roberto deu início às cobranças, desperdiçando para o Cruzeiro. Dinho converteu para o Tricolor. Depois, “um tal” de Ronaldo acabou desperdiçando novamente. Cafu foi lá e fez. Desta maneira, com 2 a 0, foi só conduzir para o título. Válber e Ronaldão converteriam para o Tricolor, que venceria por 4 a 2 nas penalidades, conquistando a Recopa.

Mais para o final do ano, em novembro, o São Paulo disputou a decisão da Supercopa da Libertadores 1993, competição que reunia os campeões do torneio continental. Depois de eliminar equipes como Independiente-ARG, Grêmio e Atlético Nacional-COL, o Clube da Fé decidiria a competição contra o Flamengo, de craques como Marcelinho Carioca, Renato Gaúcho, Gilmar e Casagrande.

As duas partidas terminariam empatadas em 2 a 2, levando o Tricolor novamente à mais uma decisão por pênaltis. O São Paulo converteria todas as cobranças com: Dinho, Leonardo, Cafu, André Luiz e Muller. O Flamengo com: Rogério, Marquinhos e Gélson Baresi. Marcelinho Carioca desperdiçaria para os cariocas, dando a vitória por 5 a 3 ao Tricolor, e mais um caneco na conta de Telê Santana.

Chegava então a hora de viajar para o Japão, enfrentar o Milan-ITA. Mas espera aí. Você deve estar se perguntando por que não era o Olympique de Marseille-FRA, afinal a equipe francesa havia sido campeã da Liga dos Campeões naquele ano. Acontece que o Olympique acabou se envolvendo num esquema de manipulação de resultados, sendo punido com a perda da disputa pelo título. Então o confronto seria entre italianos e brasileiros.

Você sabe quem é o jogador ao lado de Juninho? (Foto: Reprodução)
Você sabe quem é o jogador ao lado de Juninho? (Foto: Reprodução)

O Milan possuía um timaço. Desailly, Maldini, Papin, Baresi, Albertini e Donadoni eram os principais nomes dos comandados de Fabio Capello. E o São Paulo não começou bem a partida. Não dominava o meio-campo, e sofria com as investidas italianas. No entanto, após boa jogada, Palhinha aproveitou ótimo cruzamento de Cafu para chutar rasteiro e abrir o placar para o Tricolor aos 19 minutos do primeiro tempo, levando esta boa vantagem para o intervalo.

Time campeão do mundo em 1993 (Foto: Reprodução)
Time campeão do mundo em 1993 (Foto: Reprodução)

Contudo, Massaro, aos três minutos do segundo tempo, entrou sozinho na área brasileira e empatou o jogo para os italianos. O São Paulo ficaria um tanto quanto desnorteado, mas logo se recompôs para, aos 14 minutos, ficar à frente do marcador novamente. Leonardo recebeu bom passe de Palhinha, fintou o marcador, e chutou cruzado para Toninho Cerezo fazer o segundo gol do Soberano. Mas a vida nem sempre é um mar de rosas. Aos 35 minutos, em nova falha de marcação são paulina, Papin empataria o jogo para os Rossoneri.

Então, quando todos pensavam que a partida para a prorrogação, Muller, em um lance despretensioso, espiritual, marcaria o gol do título, de costas para a meta. Histórico. E, logo após o gol, foi em direção a Costacurta, que bateu nele durante toda a partida, e disse “É pra você, palhaço!”.

Muller dedica gol ao "amigo" Costacurta (Foto: Reprodução)
Muller dedica gol ao “amigo” Costacurta (Foto: Reprodução)

O São Paulo fazia história. Bicampeão da Libertadores, bicampeão do Mundo, dono de toda a América. Palmas para Telê. Palmas para os jogadores. No ano seguinte o Tricolor ainda conquistaria a Recopa Sul-Americana e a Copa Conmebol. Seria vice na Libertadores após perder nos pênaltis para o Vélez Sarsfield-ARG. Telê Santana ficaria no comando até 1996, quando se aposentou, deixando saudade e um legado imenso para o futebol brasileiro e internacional.

Telê Santana, o principal responsável pela Soberania Tricolor (Foto: Reprodução)
Telê Santana, o principal responsável pela Soberania Tricolor (Foto: Reprodução)

 

Relembre as conquistas da Libertadores e do Mundial em 1993:

 

 

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