Elias e os casos de racismo no futebol brasileiro

Elias e os casos de racismo no futebol brasileiro

Relatório aponta que, em 2014, houve 20 casos de injúria racial no esporte mais popular do país

COMPARTILHAR

O recente episódio envolvendo o volante Elias, do Corinthians, e o zagueiro Cristian González, do Danúbio-URU, na Arena Corinthias, em Itaquera, na noite desta quarta-feira (01), pela fase de grupos da Copa Libertadores da América, reavivou uma questão social que nunca deve sair das mesas de discussão: o racismo.

Em nota, o jogador brasileiro confirmou ter sido chamado de “macaco” pelo defensor uruguaio, aos 20 minutos do primeiro tempo. Após o término da etapa inicial, Elias foi questionado por jornalistas sobre o assunto, mas preferiu amenizá-lo, justificando que precisava manter a concentração. Deu resultado. O Corinthians venceu por 4 a 0.

No dia seguinte, então, o volante posicionou-se de maneira oficial. “Ele [González] é muito novo [18 anos] ainda e espero que, com o tempo, mais maduro, perceba que o racismo é repugnante. Hoje, com a cabeça mais fria, não consigo sentir raiva, só pena”, escreveu o atleta, que não levará a acusação contra o adversário à polícia.

Este caso, no entanto, não foi o primeiro relacionado a injúrias no esporte e com certeza não será o último, infelizmente. Posto isso, é bastante apropriado destacar o trabalho realizado pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol e a importância do primeiro relatório anual da entidade, divulgado no último mês de março.

Em diversas ocasiões, o Corinthians manifestou-se contra a desigualdade racial (Foto: Reprodução/Twitter)
Corinthians foi o primeiro clube paulista a possuir um jogador negro e costuma fazer campanhas a favor da igualdade racial (Foto: Reprodução/Twitter)

Com base na coleta de dados publicados pela mídia nacional e internacional em 2014, o observatório sistematizou tanto os episódios de discriminação racial ocorridos no país quanto os sofridos por jogadores brasileiros no exterior, alertando que o número final pode ser apenas um indicativo de um problema ainda maior.

Vale explicar que nem todos os incidentes do ano passado foram reportados por veículos de comunicação ou pelas vítimas. Não há, portanto, como divulgá-los e monitorá-los. Mas reforço e defendo aqui a importância de encorajar a população a fazer denúncias, a fim de que haja conscientização sobre o tema e também punições*.

Segundo o documento, foram registrados 20 casos de racismo no futebol nacional em 2014, sendo que 19 aconteceram dentro de estádios e 1 na internet (Instagram). No ano em questão, 11 Estados tiveram problemas com discriminação, sendo Rio Grande do Sul (5) e São Paulo (4) os destaques negativos, reunindo quase metade dos eventos.

Na sequência estão empatados Paraná (2) e Minas Gerais (2), seguidos por Rio Grande do Norte (1), Sergipe (1), Goiás (1), Paraíba (1), Espírito Santo (1), Rio de Janeiro (1) e Santa Catarina (1). Em 14 dos casos houve algum tipo de punição, enquanto 2 estão com processo em andamento e sobre 4 não foram encontradas informações.

Além dos dados acima, é possível encontrar mais a respeito das ocorrências no exterior e durante a Copa do Mundo da FIFA no Brasil. O link do relatório completo está AQUI.

Desta maneira, fica evidente que o problema não está localizado em um único lugar. É uma questão muito mais ampla e, especialmente no Brasil, institucionalizada, segundo apontou um relatório de desenvolvimento humano da Organização das Nações Unidas (ONU).

Então, é fundamental que essa e outras máculas, como o machismo e a homofobia, sejam combatidas dentro da nossa sociedade, pois o futebol reflete os valores da realidade em que vivemos. Para evoluirmos, porém, é preciso dar um grande passo: denunciar.

*No Brasil, de acordo com a lei nº 7.716, é crime praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, com pena de um a três anos de reclusão.

Deixe seu comentário!

comentários

COMPARTILHAR
Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero, é apreciador do futebol latino, do teor político-social do esporte bretão e também de seu lado histórico.