Você, caro leitor, deve ter se deparado tantas vezes por aí com a frase “o futebol nunca será apenas um jogo” que, embora seja legítima, ela já o deixa enfastiado. Ou não. Em todo caso, a estudante argentina Lucía Montané, de 24 anos, pode dizê-lo com propriedade, afinal, o esporte, de certa forma, garantiu-lhe o diploma em Comunicação Social na Universidade Nacional de Rosário e destaque na mídia esportiva de seu país.
No passado mês de dezembro, Montané foi aprovada com nota máxima pela banca examinadora, formada pelos professores José Dalonso e Hugo Marengo, ao defender seu trabalho de conclusão de curso, orientado pelo professor Orlando Verna.
O título da admirável obra que chamou atenção de portais como o La Capital? “O laboratório disruptivo: uma batalha de formas nominais do imaginário político entre os discursos do futebol moderno e de Marcelo Bielsa.” Foram mais de 100 páginas de trabalho, que pode ser lido aqui.
De acordo com a autora, sua motivação para a pesquisa começou após uma coletiva de imprensa quando “El Loco” estava à frente do Olympique de Marseille, em 2015. Para a comunicadora recém-licenciada, o que o faz romper com a lógica é o uso de “uma linguagem e idéias incomuns sobre o universo que prevalece no futebol hoje. Ele é chamado de louco porque dá respostas que não combinam com o que se espera, quebra com o que se está acostumado a ouvir”, afirmou, em entrevista ao diário mencionado.
Um exemplo disso é o conceito que o técnico tem das derrotas e das vitórias. Longe de ver os resultados negativos como apocalípticos e os êxitos simplesmente como definitivos, Bielsa destoa das análises rasas dentro do esporte bretão.
“Sua ideia de sucesso e fracasso no futebol não são as mais comuns, pois para ele o fracasso é formativo e o sucesso é crítico na medida em que tira a possibilidade das pessoas serem felizes, relaxarem, e nos tornam narcisistas porque nos apaixonamos por nós mesmos”, explica a argentina.
Ainda segundo Montané, torcedora fanática do Newell’s Old Boys, clube de origem do treinador, a referência teórica para o estudo foi a do sociólogo, filósofo e semiólogo argentino Eliseo Verón, que realizou enormes aportes ao campo de estudos da ciência da comunicação. “É uma análise do discurso de Bielsa a partir da teoria da comunicação e, nesse corte, confio na teoria do discurso social de Eliseo Verón. Ou seja, desvendo seus conceitos e os relaciono com os discursos políticos e futebolísticos”, reforça.
Outros materiais utilizados foram livros dedicados ao treinador, escritos por autores argentinos e chilenos, mensagens e entrevistas dele, além de literatura relacionada ao futebol, como as de Eduardo Galeano. “Ele foi um grande contributo para este trabalho, é um autor que fala sobre a bola como brinquedo, mas também como objeto que alimenta muitos jogadores, sempre sua contribuição é social”, finaliza Montané, provando que o futebol pode estar em todos os lugares, seja nas artes ou nas discussões acadêmicas.