![Hiddink não teve sucesso em seu retorno à seleção holandesa (Foto: Reprodução)](https://www.alambrado.net/wp-content/uploads/2015/09/hiddink-300x169.jpg)
Aos 67 anos de idade, com uma carreira consagrada, você resolve topar um grande desafio. Aceita reassumir o comando da seleção de seu país buscando conquistar aqueles troféus que jamais conseguiu. Dinheiro? Você não precisa mais disso.
De sua primeira passagem, há 20 anos, só resta o auxiliar técnico, que naquela época era seu jogador. Mas o time está bem montado. Acabou de ser terceiro colocado na última Copa do Mundo. Quatro anos antes, foi vice. O sonho de ir além das quartas de final da Euro, superando seu próprio feito na passagem anterior, parece bem possível.
Essa pode ter sido a expectativa de Guus Hiddink ao decidir reassumir a seleção holandesa em substituição a Louis van Gaal logo após o Mundial no Brasil. Mas a realidade foi completamente diferente. O veterano não soube formar um time e foi demitido há alguns meses, após péssimo início nas Eliminatórias da Eurocopa de 2016.
Em sua primeira passagem pelo time holandês, na década de 90, Hiddink levou o time de Bergkamp, Kluviert, Seedorf, Davids e de Boer às quartas de final da Euro de 96, e ao quarto lugar do Mundial de 98. Seu antigo capitão, Danny Blind, deixou de ser auxiliar para assumir a equipe após a saída do treinador principal, mas pode não ter tempo para fazer as mudanças necessárias.
![Turquia venceu a Holanda por 3 a 0 no último domingo (6) e afundou o adversário na crise (Foto: Divulgação/Federação Turca)](https://www.alambrado.net/wp-content/uploads/2015/09/holanda-turquia_TFF2-1024x677.jpg)
As recentes derrotas para Islândia e Turquia, na última semana, tiraram de vez a possibilidade de classificação direta da Holanda para a Eurocopa. Agora, a equipe terá dois jogos para tentar ultrapassar a Turquia na tabela e garantir vaga na repescagem.
A seleção não fica de fora do torneio desde 1984, curiosamente disputado na… França. Mesma sede da Euro 2016. É sempre difícil encontrar as razões para a crise técnica de um grande time de futebol. Os fatores são diversos, e, de uma hora para outra, tudo pode mudar. O Alambrado tentou listar alguns motivos abaixo. Confira:
Velhas ideias
Sob o comando de Bert van Marwijk, a Holanda soube aproveitar a boa geração que tinha em mãos e apresentou um ótimo futebol na Copa do Mundo de 2010. Caiu na final contra a Espanha, é verdade, mas teve um desempenho mais empolgante que os vencedores.
As coisas mudaram na Eurocopa 2012. Com uma campanha surpreendente, a equipe foi lanterna de seu grupo e terminou eliminada na primeira fase. Van Marwijk pediu demissão, e a Federação Holandesa achou que era hora de um técnico-general para sacudir o grupo: Louis van Gaal.
De temperamento difícil, o professor chegou colocando as estrelas no time no banco. Deu certo. A equipe foi bem nas Eliminatórias, e melhor ainda na Copa. Van Gaal saiu para o Manchester United, e Hiddink assumiu.
Mais brando que o antecessor, no melhor estilo “paizão”, e sem bons trabalhos recentes, o veterano se limitou a manter as coisas como estavam. Com mudanças táticas que não faziam sentido.
Resultado? A equipe passou a jogar um futebol burocrático, previsível e inteiramente dependente de lampejos individuais. Algo parecido com o que passa atualmente a seleção brasileira de Dunga. Não se vê, em campo, qualquer aplicação tática mais elaborada.
![Auxiliar, Danny Blind assumiu cargo principal após a saída de Hiddink (Foto: Reprodução/Sky Sports)](https://www.alambrado.net/wp-content/uploads/2015/09/blind_rep_sky_sports.jpg)
Com Blind, que foi de interino a efetivo, as coisas seguiram o mesmo rumo. Acenou com uma convocação mais jovem, mas não mostrou nada de novo coletivamente. Como técnico, o holandês tem pouquíssima experiência. Para piorar, foi auxiliar e aprendiz de Van Gaal e Guus Hiddink, dois treinadores vitoriosos no passado, mas que hoje são taticamente conservadores e desatualizados.
É preciso que o atual comandante busque ideias novas, e que a Federação lhe dê tempo para trabalhar, independentemente de uma possível desclassificação para a Euro. Afinal, Blind só esteve à frente da equipe nas últimas duas partidas.
Desgaste dos medalhões
A terceira colocação no Mundial de 2014 foi surpreendente para a seleção holandesa. Apostando em veteranos que já não brilhavam em seus clubes (à exceção de Robben, talvez), a equipe foi muito além do esperado. Mas aquela foi, inevitavelmente, a despedida de uma geração.
![Robben terá a missão de liderar a fase de transição da seleção holandesa (Foto: Divulgação/Uefa)](https://www.alambrado.net/wp-content/uploads/2015/09/robben-uefa-300x203.jpg)
Robin van Persie, Klaas Jan Huntelaar, Wesley Sneijder, Afellay, Vlaar, Nigel de Jong e até o aposentado internacionalmente Dirk Kuyt marcaram época, mas já claramente passaram do auge. Não que não possam mais ser convocados – serão extremamente importantes na fase transição para a geração mais jovem.
Contudo, é chegada a hora de a comissão técnica passar o protagonismo adiante. As mais recentes convocações de Blind têm mostrado isso, embora o treinador ainda tenha preferência por jogadores mais velhos na hora de escalar.
Arjen Robben, o mais inteiro dos veteranos, é peça-chave desta fase. Aos 31 anos, o ponta tem bola e idade para ser o capitão do time em uma eventual Copa do Mundo de 2018 (se conseguir a classificação, obviamente). Atualmente, é o único insubstituível.
Diamantes brutos
Pesa para a má fase da Holanda o fato de ter em mãos uma geração talentosa, mas que ainda tem muito a evoluir. É inegável a existência de uma entressafra – entre Robben, estrela atual, e Depay, estrela emergente, há dez anos de diferença. Neste aspecto, a seleção holandesa também se assemelha à brasileira.
Entre os dois craques, estão nomes como Wijnaldum, Narsingh, Luuk de Jong, De Vrij, Martins Indi, Karim Rekik, Marco van Ginkel, Bas Dost e Jonathan de Guzmán, entre outros. São atletas de bom potencial, mas que ainda não chegaram ao alto escalão do futebol europeu por seus clubes.
![Jovem Depay, de 21 anos, é a principal esperança dos holandeses para o futuro (Foto: Reprodução)](https://www.alambrado.net/wp-content/uploads/2015/09/depay-300x167.jpg)
Mas, ao contrário de clubes, quando existe a possibilidade de contratar outros jogadores, Danny Blind terá de lidar com o que tem em mãos. Com Depay, Robben, Daley Blind, van der Wiel e Cillessen, já se forma uma ótima espinha dorsal. De resto, vale o bom senso na mescla de veteranos com atletas mais jovens, somado à implantação de uma filosofia de jogo clara. E ao tempo.
Grupo em chamas
O último fator é mais do que óbvio: a Holanda não está à beira da desclassificação para a Euro apenas por passar por uma fase ruim, mas porque seus adversários têm todos os méritos. Islândia e República Tcheca, líderes do grupo A com 19 pontos, mostram excelente futebol em campo.
A Islândia já se classificou, com duas rodadas de antecedência. É a grande sensação dessas eliminatórias. Só foi derrotada pelos tchecos, e fora de casa. Em suas dependências, venceram. Contam com uma das melhores defesas do torneio, atrás somente de País de Gales e Áustria.
![Surpresa das Eliminatórias, Islândia já se classificou para a Euro (Foto: Divulgação/Federação Islandesa)](https://www.alambrado.net/wp-content/uploads/2015/09/islândia.jpg)
Já a revigorada República Tcheca mostra ter enfim superado o fim da geração de Nedved e companhia. Contando com apenas uma grande estrela – Cech, o goleiro – Pavel Vrba reuniu um combinado de bons jogadores, a maioria atuando no próprio país.
Por fim, até mesmo a Turquia, com seu velho desempenho irregular de sempre, tem sido levemente mais efetiva que a seleção holandesa. A prova disso foi a incontestável vitória por 3 a 0 sobre a Holanda no último domingo. Não houve apagão, nem retranca.