Os garotos que marcaram a alma do Brasil

Os garotos que marcaram a alma do Brasil

Livro de Ruy Castro traz crônicas e perfis de alguns dos maiores jogadores brasileiros

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livro de ruy castro
Lançada em 2014 pela Foz Editora, obra do jornalista possui 25 textos distribuídos em 140 páginas (Foto: Divulgação)

 

Houve um tempo em que a seleção brasileira era amplamente temida pelos seus adversários. Nossos ídolos possuíam uma combinação ímpar de talento, destreza e sagacidade – elementos que os tornavam superiores a qualquer desafio dentro de campo. Como se não bastasse, eles ainda praticavam com naturalidade a arte do jogo bonito.

Quando entravam em ação, em resumo, os antigos protagonistas da Canarinho pareciam seres de outra realidade. E é com semelhante habilidade que o jornalista Ruy Castro os retrata no livro “Os garotos do Brasil – um passeio pela alma dos craques”, abordando o individualismo de craques do quilate de Pelé, Heleno, Sócrates e Garrincha.

De início, Castro explica o incomum caso do humilde Edson e do genial Pelé, que estranhamente dividiam o mesmo corpo. Depois, fala sobre as engenhosas e plásticas jogadas de Zico e o contraste delas em relação à personalidade simples do jogador. Relembra até mesmo dos cruéis desencontros entre Ghiggia e Juvenal, marcador do uruguaio na final da Copa do Mundo de 1950 que faleceu no anonimato.

Dos 25 textos, contudo, três me chamaram bastante a atenção por sintetizar a obra. O primeiro deles trata da definição da palavra “ginga”, esse substantivo de origem africana que representa a intimidade com o próprio corpo, quase como se dançássemos para enganar o rival. O mais interessante, observa o escritor, é que a ginga é um recurso para ser utilizado pelo brasileiro não só em campo, como também ao longo da vida.

Na segunda narrativa, temos a história de Julinho Botelho, talentoso ponta que substituiu Garrincha em um amistoso contra a Inglaterra, em 1959, no Maracanã. Como o público esperava ver Mané, Julinho foi vaiado e chorou. Ao fazer um gol no início do jogo, porém, começou a ser aplaudido. Aqui, vejo que a personagem principal é o próprio Estádio Jornalista Mário Filho, que antigamente passava a impressão de agir com vida própria, criando heróis ou vilões, eternizando ou sepultando jogadores.

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Depois, Castro fala a respeito da, digamos, “missão” do Brasil em Copas do Mundo. A rigor, são dois textos do jornalista sobre o tema, mas, para fins didáticos, podemos utilizá-los como um só. Da seleção, entende-se que a simples vitória não basta: é necessário, sim, proporcionar espetáculo. Do povo, espera-se um contagiante carnaval.

Na minha visão, os ilustres garotos do Brasil estão eternamente vinculados ao jogo bonito e alegre, às vibrações de um estádio e à festa popular. Sem a união desses três fatores, nosso futebol fica descaracterizado e perde sua essência. Com a soma dos referidos aspectos, por outro lado, o torcedor vê o que há de mais belo no esporte bretão.

“Os garotos do Brasil”, por fim, é bem mais do que um passeio pela alma dos nossos jogadores. É também uma revigorante caminhada pelas nossas próprias almas – que, imagino, está ligada à alma dos grandes craques no êxtase do gol.

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