Um grupo de amigos apronta altas confusões em busca da fama e do sucesso do futebol. A frase poderia se referir a algum enlatado americano da Sessão da Tarde, mas por incrível que pareça é uma forma de sintetizar um documentário.
No caso, o tal grupo de amigos é formado por seis ídolos de um dos clubes mais tradicionais do mundo, e as altas confusões envolvem uma virada dramática pra conquistar o título mais importante de suas carreiras.
Essa é a história contada em “The Class of ‘92”, filme de 2013 dirigido pelos ingleses Benjamin e Gabriel Turner. Tendo como ponto de partida a final da FA Youth Cup de 1992, o longa mostra a trajetória improvável vivenciada por Beckham, Giggs, Scholes, Butt e os irmãos Gary e Phil Neville, amigos desde a adolescência que conseguiram subir para o time principal do Manchester United simultaneamente, formando uma das equipes mais fortes da década de 90.
Entre um jogo decisivo e outro, o documentário mostra como a amizade entre os jogadores foi importante para que pudessem render tanto dentro de campo, além da importância da confiança que o técnico Alex Ferguson depositou neles, apesar das críticas da imprensa e até dos torcedores.
É possível ver o quanto a decisão de usá-los como a base do time foi contestada na época, principalmente após a saída de estrelas como Paul Ince e Mark Hughes.
A força do filme está depositada nas conversas informais entre os atletas, relembrando casos engraçados do tempo em que atuavam juntos, expondo para o público os fatores extra-campo que nem sempre vêm à tona.
O que dizer, por exemplo, do badalado popstar David Beckham, que apesar de sua afeição aos holofotes ficava horas batendo faltas após o treino? Ou das pegadinhas de Butt, que chegaram a deixar maluco o gigante dinamarquês Peter Schmeichel?
Mostrando os hábitos, as inseguranças e os segredos dos promissores jovens, o longa aproxima os fãs de seus ídolos, mostrando seres mais humanos e deixando de lado a mistificação que muitas vezes os torcedores fazem dos atletas de seu time.
É interessante perceber também a perspectiva mostrada das mudanças que ocorriam no mundo enquanto os personagens da história evoluíam em suas carreiras. O filme não deixa de lado as transformações causadas pelo mandato de Margaret Thatcher na vida dos operários de Manchester, a vida noturna dos habitantes da cidade e o desenvolvimento da cena musical.
Essa contextualização é apresentada por meio de personagens importantes, como os músicos do Stone Roses, o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair e o diretor Danny Boyle, famoso pelos filmes “Trainspotting” e “Quem Quer Ser um Milionário”. A classe dos boleiros também está bem representada, com comentários dos franceses Cantona e Zidane.
Em alguns momentos a história parece mostrar um teor épico demais para ser verdade. Até mesmo para um filme de ficção, pareceria exagerado colocar como clímax uma final de Liga dos Campeões em que o United, perdendo do Bayern por 1×0 até os 45 do segundo tempo, consegue virar o placar com dois gols nos acréscimos.
Mas foi real. Foi histórico. Uma história que praticamente nasceu pra ser um filme, gostando ou não do clube inglês. Para todo mundo que gosta de futebol e das surpresas que ele proporciona, “The Class of ‘92” é um prato cheio.