Agora vai? Corinthians nunca venceu em solo argentino pela Libertadores

Agora vai? Corinthians nunca venceu em solo argentino pela Libertadores

Antes do duelo entre San Lorenzo e Corinthians, pela Libertadores 2015, relembre os embates alvinegros na Argentina

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Nesta quarta-feira (4), o Corinthians terá pela frente um tabu histórico a quebrar. A equipe encara o San Lorenzo no Nuevo Gasómetro, em Buenos Aires, pela segunda rodada da Copa Libertadores de 2015. E tenta, pela primeira vez em sua história, voltar da Argentina com uma vitória em um confronto válido pela principal competição de clubes da América do Sul.

Na memória alvinegra, foram vários – e, na maior parte deles, dolorosos – episódios com clubes do país vizinho na Libertadores. Das 11 edições que participou, sem contar 2015, o Corinthians esbarrou com os hermanos em seis oportunidades, sendo que quatro delas acabaram resultando na eliminação da equipe paulista.

Argentino Blandi fez o gol da vitória do Boca sobre o Corinthians por 1 a 0 na Libertadores 2013 (Javier Garcia Martino/Photogamma/Boca/Reprodução)
Argentino Blandi fez o gol da vitória do Boca sobre o Corinthians por 1 a 0 na Libertadores 2013 (Javier Garcia Martino/Photogamma/Boca/Reprodução)

Rosário Central

As experiências mais felizes foram em 2000 e 2012, embora em nenhuma delas o clube tenha conseguido vencer na Argentina. Em 2000, o adversário foi o Rosário Central, pelas oitavas de final. Então campeão mundial, o time comandado por Oswaldo de Oliveira dispensava apresentações. A única mudança era a saída de Freddy Rincón, capitão da conquista, que foi jogar no rival Santos.

Em seu lugar, estava o jovem Edu, que dava seus primeiros passos no futebol. Apesar de sua pouca experiência, mostrava categoria e já era xodó da torcida. No ataque, um centroavante em chamas: Luizão estava no auge da carreira, contabilizando gols e mais gols. Somente naquela edição da Libertadores, foram 15 em 14 jogos.

Mesmo diante do então vice-campeão argentino, o Corinthians era franco favorito, especialmente após liderar com folga seu grupo na fase de grupos. O primeiro jogo, em Rosário, parecia tranquilo. Mas o baque foi forte: aos sete minutos da etapa final, o Timão já estava perdendo por 3 a 0, com gols de Capeletti, Maceratesi e Pizzi (hoje treinador, campeão argentino com o San Lorenzo e ex-Valencia).

O placar elástico foi resultado de uma noite esquecível da defesa alvinegra. Enquanto a dupla de zaga Adílson e João Carlos batia cabeça, os laterais Daniel e Kléber deixavam avenidas abertas em seus setores. Para piorar, o goleiro Dida falhou em uma reposição de bola e a entregou de graça para Pizzi abrir o placar. Menos mal para o Timão poder contar com Luizão, que marcou dois e levou um placar reversível para São Paulo. No Brasil, um novo 3 a 2 (com mais dois do atacante) e classificação nos pênaltis garantida pelo Corinthians.

Boca, parte I

Corinthians e Boca é um duelo comum na Libertadores. As equipes se cruzaram três vezes, sendo a primeira em 1991, nas oitavas de final. Na ocasião, o Timão era o atual campeão brasileiro, e os xeneizes ainda tentavam interromper um jejum de títulos que incomodava: desde a saída do ídolo Diego Maradona, em 1982, o clube argentino não levantava taças de grande expressão.

A figura do El Pibe no Boca era tão forte que o então atleta do Napoli (cumprindo suspensão por doping) esteve na Bombonera para assistir o primeiro jogo da eliminatória e dar seu toque de Midas aos jogadores. No Corinthians, o desfalque era simplesmente Neto, provavelmente o melhor atleta em atividade no Brasil naquele momento.

Outro “desfalque” corintiano era Guinei. Entre os titulares mesmo. Vilão daquela eliminação, o zagueiro contribuiu com erros grosseiros, mostrando um nervosismo fora do normal – antes disso, o atleta era cogitado até para a Seleção Brasileira. Para completar os personagens, Gabriel Batistuta, então com 22 anos e um imenso potencial.

Tudo começou com um notório escorregão de Guinei durante um contra-ataque. Enquanto o zagueiro alvinegro se levantava, Graciani partia livre para o gol, finalizando com maestria. O Timão empatou com um pênalti convertido pelo finado Giba após uma mão na bola dentro da área. Na segunda etapa, porém, Batistuta retribuiu na mesma moeda –  Márcio havia tocado com a mão e o jovem atacante concluiu da marca do cal.

Para enterrar qualquer reação alvinegra, lá estava Guinei. O zagueiro dominou mal e deu de graça para Batistuta, que não perdoou. O Corinthians ainda lotou o Morumbi para o jogo de volta, na esperança de reverter o resultado, mas uma nova falha do defensor acabou com as chances dos paulistas, que só empataram em 1 a 1.

Boca, parte II

A segunda parte da trilogia veio 21 anos depois, em 2012. Desta vez, as equipes se enfrentaram na final da Libertadores. O Timão se vingou ao levar o troféu, mas não foi tão bem na Argentina. Na Bombonera, empate em 1 a 1.

A equipe da casa era zebra. Apesar da tradição, vivia fase ruim na liga local e não via muitas perspectivas de levar o título. Mas, sob a batuta de ninguém menos que Juan Román Riquelme, o time chegou longe, despachando Unión Española, Fluminense e Universidad de Chile no caminho.

Já o Corinthians de Tite era o atual campeão brasileiro e fazia uma Libertadores espetacular. Seria favorito, se não fosse a pressão para conquistar o primeiro título da competição. O gol de Roncaglia, após bate-rebate em escanteio, na Bombonera, ainda causa calafrios na torcida alvinegra. Quando tudo parecia perdido, surge um talismã: Romarinho, que mal havia chegado ao clube, entrou no segundo tempo e fez um gol de deixar narrador sem ter o que dizer logo em seu primeiro toque na bola. Na volta, 2 a 0 e o aguardado título no Pacaembu.

Boca, parte III

Um ano depois, lá estava o Corinthians novamente disputando um decisivo jogo de ida em La Bombonera. Campeão mundial e da Libertadores, o clube estava em alta, ainda mais com os caros reforços de Gil, Renato Augusto e Alexandre Pato, fora Paolo Guerrero e a base do ano anterior.

O Boca, por sua vez, era basicamente o mesmo. A principal novidade no elenco era o ex-corintiano Juan Manuel Martínez, que ficou seis meses no Parque São Jorge. Na comissão técnica, estava de volta o lendário Carlos Bianchi, tricampeão da Libertadores pelo clube, que estava afastado dos gramados há quase sete anos.

No primeiro jogo, um desfalque importante para o Boca. Lesionado, Riquelme assistiu das tribunas Erbes errar o chute e dar uma milagrosa assistência para Blandi fazer o gol da vitória. Desta vez, Romarinho não conseguiu ajudar. No jogo de volta, o golaço de Riquelme e os erros da arbitragem, liderada por Carlos Amarilla, forçaram o empate e tiraram o Timão do torneio.

River, parte I

Corinthians e Boca podem ter se enfrentado com mais frequência, mas o principal algoz do Timão na Libertadores é, de longe, o River Plate. A história entre os dois na competição começou em 2003. A equipe alvinegra sobrou na fase de grupos e terminou com o primeiro lugar geral. Teve pela frente nas oitavas os Millonarios, que utilizaram da lei do mínimo esforço para avançar.

Apesar da campanha ruim na primeira fase, o River contava com um time respeitável. Demichelis, Cavenaghi e D’Alessandro construiriam boas carreiras no futuro, assim como o técnico Manuel Pellegrini. Do lado alvinegro, atual vice do Brasileirão, uma linha de zaga elogiada, formada por Rogério, Anderson, Fábio Luciano e Kléber, além de uma dupla de ataque de peso: Liedson e Gil.

O primeiro jogo, como sempre, foi na Argentina. O Timão começou melhor e saiu na frente. Jorge Wagner fez o primeiro, aproveitando rebote na entrada da área. Foi então que brilhou a estrela do jovem D’Alessandro, que fez um belo gol de falta e empatou. Pouco depois, em um apagão da sólida defesa alvinegra, Cavenaghi saiu na cara do gol e virou. Em São Paulo, nova vitória do River e uma consequente crise no Parque São Jorge.

River, parte II

Para tristeza da Fiel, o roteiro da Libertadores de 2006 foi basicamente o mesmo: River em alta, com jogadores jovens em ascensão, mas com uma campanha ruim na primeira fase do torneio continental. O Corinthians, atual campeão brasileiro e transbordando dinheiro com a obscura parceria com a MSI, terminou com uma das melhores. Oitavas de final e primeiro jogo no Monumental de Núñez.

Mais uma vez, Corinthians sai na frente. Grande ídolo daquela equipe (e também do arquirrival do River, Boca Juniors), Carlitos Tévez ignorou as vaias e abriu um placar com um belo gol, driblando e chutando de fora da área, logo aos 15 minutos. O troco veio pouco depois, com outra pintura. Farías fez um gol de bicicleta dos mais clássicos.

Já aos 30, a desestabilizada zaga alvinegra foi novamente vitimada, desta vez por Ferrari, que invadiu a área em velocidade e marcou. Foi então que surgiu outro personagem da partida – o árbitro paraguaio Carlos Amarilla, certamente o mais odiado pela torcida do Corinthians. O primeiro erro grave, porém, não foi propriamente dele: um impedimento em um gol legal de Tévez. Na sequência, o juiz expulsou Mascherano pelo segundo amarelo em uma escandalosa simulação de Gallardo.

O River acabou ampliando com Santana, e Xavier descontou nos acréscimos, encerrando o duelo em 3 a 2. No jogo de volta, o Timão novamente saiu na frente e bastaria segurar o resultado, mas, com um gol contra de Coelho e dois do jovem Higuaín, foi eliminado. A revolta dos alvinegros foi tamanha que parte da torcida tentou invadir o gramado do Pacaembu, entrando em confronto com a polícia. Ali começou o racha entre o clube e a MSI, que só virou passado de vez quando a equipe caiu para a Série B do Brasileiro, em 2007.

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