Escócia e País de Gales são países muito próximos. Territorialmente, estão na Grã-Bretanha e fazem fronteira. Mesmo idioma, sistema eleitoral e, acima de tudo, a mesma rainha, que reina no Reino Unido (desculpe pela aliteração).
Porém, apesar das semelhanças, o clima esquenta quando as seleções estão disputando alguma modalidade esportiva. No futebol, a rivalidade é ainda maior. São 101 partidas durante mais de 100 anos de história.
Dentre tantos duelos, o confronto de 10 de setembro de 1985 é especial. Mas para nenhuma das nações o resultado foi positivo. O jogo valia pela última rodada das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1986.
O panorama do duelo no Ninian Park completamente lotado era simples: O País de Gales precisava do triunfo de qualquer maneira, já que estava na terceira colocação, com os mesmos seis pontos da Escócia, e um a menos em relação à Espanha. Porém, ficava atrás do saldo de gols.
Para a Escócia, o empate, no mínimo, o levaria para a repescagem, diante da Austrália. Ou seja, comparando-se as forças da equipe, a Escócia daria um passo importante para a classificação.
Entre as equipes, era possível ver equilíbrio. Apesar da freguesia na história – são apenas 23 vitórias contra 61 derrotas, ainda com 23 empates – País de Gales vivia seu auge futebolístico.
Dificilmente, em sua história, a seleção teve dois jogadores considerados craques mundiais jogando juntos. Ian Rush, à época no Liverpool, e Mark Hughes, no Manchester United, encantavam.
A confiança era grande em participar da segunda Copa do Mundo. E não era para menos. Além de possuir as estrelas, o País de Gales vinha embalado por uma vitória de 3 a 0 sobre a Espanha, em casa. Outro fator que comprovava que a seleção era, de fato, muito forte: o jogo foi o segundo da maior sequência invicta do País de Gales sobre a Escócia: cinco partidas, entre 1985 e 2009.
Coadjuvantes de muita técnica, o defensor Kevin Ratcliffe e o goleiro Neville Southall, ídolos do Everton, brilhavam intensamente também. Diante da Escócia sem o grande jogador, Kenny Dalglish, a pressão era por vitória.
Os 23 anos de Ian Rush e os 21 anos de Mark Hughes eram o ponto alto. A dupla de ataque se complementava. Ian Rush era goleador nato, típico 9 que não vacilava. Hughes era atacante rápido, também goleador, mas que possuía muita técnica.
Juntos, marcaram 44 gols pelo País de Gales. E naquele importante dia do futebol local, diante de mais e 35 mil pessoas, a promessa Mark Hughes não se intimidou.
Foi o dele o primeiro gol do jogo. Após cruzamento do meio-campista Peter, Hughes, de perna esquerda, colocou nas redes adversárias o gol que separava, naquele momento, os territórios vizinhos.
E talvez aquele gol, marcado tão cedo, aos 13 minutos da etapa inicial, tenha deixado os escoceses acesos – e com o apoio de fãs incondicionais que cruzaram as fronteiras.
A pressão dos visitantes deu certo. E com requintes de crueldade para o País de Gales. Aos 35 minutos, em uma jogada polêmica, Van den Hauwe meteu a mão na bola dentro da área – quase como um bloqueio de um chute adversário.
Na cobrança, Cooper chutou com sua perna canhota para vencer o paredão Southall – e por muito pouco. Era o gol da “classificação” escocesa no país rival. A seleção da Escócia ficou em segundo lugar no grupo, atrás da Espanha, e garantiu, assim, vaga na repescagem, diante da Austrália. Diante de um rival mais fraco, chegou ao Mundial de 1986.
Aos galeses, restou a tristeza de estar fora de uma Copa do Mundo. Mesmo com uma geração tão forte, a seleção não chegou a disputar sequer a fase final da Eurocopa. Hughes e Rush ainda voltariam a jogar juntos. Mas sem este sucesso.
Cabe a Bale tentar liderar os galeses para uma boa campanha na Eurocopa. Após quase meio século eles estão de volta. Será que dessa vez é para ficar?