É comum ouvir em botecos, arquibancadas ou em qualquer comentário futebolístico raso sobre a monopolização do futebol europeu por parte de algumas poucas equipes. Na Espanha, Real e Barça, na Alemanha, Bayern, na Itália, Juventus, Inter e Milan. Na Inglaterra, ultimamente, Manchester City, Manchester United e Chelsea.
Poucos torneios no mundo, porém, são mais bipolarizados que o Campeonato Uruguaio. Mais antiga liga nacional das Américas, a competição é disputada desde 1900, mas apenas dois clubes sempre se mantiveram no topo ao longo de mais de um século: Nacional e Peñarol.
Aceitando-se a tese de que o Central Uruguay Railway Cricket Club (CURCC) é o predecessor do Peñarol, a monopolização vem desde a segunda edição, ainda na era amadora. Em 1901, o CURCC levou o troféu pela segunda vez, com o Nacional de vice. O rival deu o troco nos dois anos seguintes.
Considerando a era profissional, disputada a partir de 1932, Nacional e Peñarol revezaram entre o primeiro e segundo lugar, monopolizando a briga pelo título, em 51 das 81 edições (o torneio não foi disputado em 1948)
E em apenas duas vezes, dos 81 anos de profissionalismo, Nacional ou Peñarol não conseguiram ao menos ficar com a vice-liderança. Esses fatos são relativamente recentes – em 2008, o Defensor levou o troféu, com o River Plate-URU em segundo. Já em 2014, Danubio foi campeão, e o Montevideo Wanderers, vice.
Algo que não deve se repetir em 2015. No atual Apertura, a briga entre os rivais está acirrada. Ambos têm 22 pontos, com o Nacional levando vantagem e ficando com a ponta devido ao saldo de gols. Em terceiro vem o Wanderers, com 18.
As coisas ficaram mais equilibradas na rodada do último final de semana, quando o Nacional foi surpreendido pelo Sud América em pleno Parque Central, em Montevidéu, perdendo por 2 a 1. O Peñarol não dormiu no ponto: bateu o Liverpool-URU em casa e colou no rival.
No próximo dia 6, o torneio terá seu jogo mais aguardado, que pode definir o campeão do Apertura. O Nacional recebe o Peñarol em casa, e qualquer resultado diferente de empate pode dar uma vantagem irrecuperável ao vencedor.
Ambos têm apostado muito mais em veteranos do que em jovens talentos. O Nacional tem como referência Iván Alonso, de 36 anos, que divide a artilharia da competição com Santiago García, do River Plate-URU. Além disso, ainda conta no elenco com o quase quarentão Sebastian “Loco” Abreu, velho conhecido dos brasileiros.
Com o Peñarol não é diferente. Seu principal medalhão é Diego Forlán, craque da Copa do Mundo de 2010. De carreira consolidada na Europa, o atacante está atuando profissionalmente pela primeira vez em seu país, já que saiu muito jovem para as categorias de base do Independiente, da Argentina, no início de sua carreira.
Assim como Alonso, Forlán é um dos destaques da competição. O veterano fez dez jogos, marcando apenas dois gols. Mas sua importância vai muito além. Nesta temporada, tem jogado quase como um meia, distribuindo o jogo e fazendo belas jogadas. É a grande referência do Peñarol.
Há pouco tempo, entre as estrelas do Campeonato Uruguaio estava Álvaro Recoba, que aos 38 anos foi importante na conquista do título por parte do Nacional. Apesar da tradição, a liga uruguaia não faz parte das que dão mais espaço para os jovens na América do Sul.
Boa parte dessas peculiaridades do Campeonato Uruguaio estão ligadas às características do país. Sua população é quase quatro vezes menor que a da cidade de São Paulo, por exemplo, sem precisar contar com a região metropolitana. E na metrópole brasileira, bem mais populosa, há apenas sete clubes profissionais.
Regionalismos à parte, restam apenas cinco rodadas para o término do Apertura, e tudo indica que Nacional e Peñarol ficarão com os dois primeiros lugares. No país, apesar da divisão do entre Apertura e Clausura, há apenas um campeão por ano, em final decidida entre os vencedores de cada turno. Caso o domínio se repita no Clausura, será a 52º vez que o torneio é monopolizado pelos dois clubes.
Alguma novidade?