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O Dalit que driblou a condição social para ser um dos melhores jogadores da Índia

Inivalappil Vijayan vendia garrafas de refrigerante quando criança para ajudar a família

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Inivalappil driblou a pobreza e é considerado uma lenda na Índia (Foto: Reprodução)
Ex-atacante driblou a pobreza e hoje é considerado uma lenda na Índia (Foto: Reprodução)

Quem é noveleiro de plantão sabe que a Rede Globo está reprisando a novela de sucesso Caminho das Índias, de 2009, cujo ponto principal é o conflito de castas. Basicamente, esse sistema prejudica a relação de Maya (Juliana Paes), uma Vaixá – casta referente aos comerciantes, que nasceram das pernas de Brahma – e Bahuan (Marcio Garcia), um Sudra – também conhecido como Dalit, intocável, que veio dos pés de Brahma.

O que o parágrafo acima tem a ver com o futebol? Na verdade, ele serve de ponte para a história do atacante indiano Inivalappil Mani Vijayan – um dalit -, que é tido como um dos melhores jogadores da história de seu país, mas que nós do Alambrado não sabemos se sofreu por amor como os personagens da referida novela.

Nascido em 1969, Vijayan cresceu em um ambiente extremamente pobre, afinal, um dalit é visto como a escória da sociedade e vive em condições precárias na Índia, país amplamente afetado pela desigualdade social. Para ajudar a família, quando garoto, ele vendia garrafas de refrigerante no Estádio de Thrissur, em sua cidade natal. Desde pequeno, também mantinha uma estreita relação com o futebol, sua grande paixão.

Aos 17 anos de idade, um olheiro do Kerala Police FC o chamou para fazer parte do time local, e o talentoso jovem não decepcionou. Logo em seu primeiro ano como profissional, em 1987, impressionou a todos com seu estilo agressivo e surpreendente faro de gol. Ficaria no clube até 1991, antes de ser transferido para o Mohun Bagan A.C.

Entre 1992 e 1994, Vijayan defendeu o Mohun Bagan, retornou ao Kerala e depois jogaria pelo Mohun Bagan novamente. Um verdadeiro ioiô. Em 1994, foi negociado com o JCT Mills Phagwara, clube em que ficaria por três anos e anotaria 11 gols em 14 jogos.

Três temporadas mais tarde, mudou-se para o FC Kochin e também se destacou devido às suas qualidades ofensivas, marcando 14 tentos em 17 partidas. Já em 1998, pela terceira vez em sua carreira, decidiu representar as cores do Mohun Bagan, porém viveria então um ano de vacas magras, com 12 gols em cinco jogos.

Tentando se reerguer na carreira, o atacante voltou no ano seguinte ao FC Kochin, time pelo qual havia brilhado. Em má fase, não conseguiu repetir as atuações de sua passagem anterior e fez apenas dois gols em 14 encontros. Com a finalidade de reencontrar o bom futebol, transferiu-se para o East Bengal Club em 2001, disputando seis jogos e convertendo um único tento.

De 2002 a 2004, jogou mais uma vez pelo Mills Paghwara e fez 10 gols em 34 jogos. Na sequência, negociou sua saída para o Churchill Brothers. Participou de seis duelos com seu novo clube e o deixou em 2005, quando acertou com East Bengal Club. Em 2006, foi a campo mais quatro vezes antes de pendurar as chuteiras, com 37 anos.

Pela seleção indiana, Vijayan viveu momentos gloriosos e foi campeão da Copa da Federação Sul-Asiática, em 1999. Nesta edição do torneio, anotou um dos gols mais rápidos da história. O centroavante precisou de apenas 12 segundos para balançar a rede da seleção de Butão. Ele também foi artilheiro, em 2003, da Afro-Asian Games, evento similar aos Jogos Olímpicos.

No total, Vijayan marcou 40 gols em 79 partidas pela seleção nacional e foi premiado três vezes como o melhor jogador da Índia (1993, 1997 e 1999). Mas engana-se quem pensa que ele está parado. Aos 46 anos, Inivalappil ainda pratica esportes, mas com as mãos.

Inivalappil (no centro com uma mão na taça) celebra conquista no basquete (Foto: Reprodução)
Inivalappil (no centro com uma mão na taça) celebra conquista no basquete (Foto: Reprodução)

Em julho deste ano, participou do Campeonato de Basquete dos Veteranos de Kerala e sagrou-se campeão, saindo do banco, aproveitando rebotes e ajudando seus companheiros na conquista do título para o distrito de Thrissur, local onde o craque indiano nasceu.

Além disso, ele também possui uma escolinha de futebol em sua cidade natal, onde tenta ensinar a criançada a trilhar o mesmo caminho de sucesso que o consagrou.

A história de vida do Dalit que superou a pobreza e condição social para se tornar uma lenda em seu país tem poucas informações, mas o que colhemos prova que, de fato, o ex-jogador fez muito por sua nação dentro das quatro linhas.

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