O raro sorriso haitiano

O raro sorriso haitiano

Documentário "O dia em que o Brasil esteve aqui" conta história de amistoso no Haiti

COMPARTILHAR
Filme sobre a visita brasileira foi lançado em 2005 (Foto: Divulgação)
Filme sobre a visita brasileira foi lançado em 2005 (Foto: Divulgação)

Algumas histórias não precisam de grandes recursos cinematográficos para serem contadas. Aquelas que envolvem situações mais extremas, eventos históricos, quando as emoções são muito mais claras do que qualquer roteiro poderia descrever.

É este o caso de “O dia em que o Brasil esteve aqui”, documentário dirigido por Caíto Ortiz e João Dornelas, lançado em 2005. A produção conta a história do amistoso de 2004 em que o Haiti recebeu a seleção brasileira, então atual campeã do mundo.

Para se contar uma história desse tipo, dois fatores básicos são necessários. O primeiro é a contextualização, explicando a situação caótica vivida pelo país da América Central, que com mais de 80% de seus habitantes vivendo abaixo da linha da miséria havia acabado de sofrer mais um golpe de estado.

Por iniciativa do presidente Lula, o Brasil enviou tropas ao Haiti para tentar reestabelecer a paz no local. Após sugestão do primeiro ministro, ficou decidida a partida amistosa entre as duas equipes, um evento que entraria para a história e serviria para acalmar os ânimos da população.

O segundo fator é óbvio: mostrar as imagens do que aconteceu. E com o perdão do clichê, elas falam mais que mil palavras. É possível ver com clareza a situação desesperadora em que os haitianos se encontravam, passando fome nas ruas e, mesmo assim, se amontoando nas disputas por camisas do Brasil que eram atiradas por soldados.

Ambos os requisitos são cumpridos com competência pelos documentaristas, que deixam claro que a força do filme vem da alegria genuína que a passagem dos brasileiros pôde provocar na população local.

Algumas cenas acabam sendo icônicas, como o passeio dos jogadores montados em tanques de guerra, que quase não andavam por conta da mobilização popular que buscava de algum forma ficar mais próxima de seus ídolos no futebol.

O resultado do jogo em si já era óbvio, pois o Haiti, com apenas uma participação em Copas (1974) e a 95º posição no ranking da FIFA, não tinha como bater de frente com os atuais campeões do mundo. Dentro de campo, os 6×0 do Brasil só serviram para animar ainda mais os felizardos que conseguiram um ingresso para a partida.

Fora dele, os resultados efetivos também foram discutidos no documentário. Com depoimentos dos políticos envolvidos na organização do evento e de jornalistas e sociólogos locais, a conclusão que fica é que aquilo não resolveria os sérios problemas do país, mas era uma forma de, ao menos, oferecer algo de bom a um povo sofrido.

“O dia em que o Brasil esteve aqui” é um bom exemplo do quanto fator sócio-cultural do futebol. De quanto as fronteiras se tornam menos restritivas quando o assunto é a bola. E de como é possível, com o esporte, provocar um raio de esperança em uma realidade cinzenta.

Deixe seu comentário!

comentários

COMPARTILHAR
Jornalista, 23 anos. Amante do futebol bonito e praticante do futebol feio