O futebol holandês sempre foi sinônimo de talento. Excetuando Brasil e Argentina, talvez seja a Holanda o país mais prolífico em jogadores técnicos e habilidosos, que encantam os amantes do futebol. Nação que criou Cruyff e Van Basten, dois dos maiores jogadores de todos os tempos, isso sem citar vários outros boleiros de sucesso.
Após a Copa de 74, a Holanda sempre passou a ser uma das seleções favoritas das Copas do Mundo que disputou. No entanto, algumas gerações despontaram mais que outras e, com certeza, a dos anos 80, liderada pelo trio de ouro Rijkaard, Guulit e Van Basten, foi uma das melhores da laranja mecânica. Talento que culminou na única conquista de expressão da “Orange”, a Eurocopa de 1988.
Em meio a esta década vitoriosa, mas que também contou com decepções, um jogador especial começava a encantar o futebol local. Contemporâneo do trio de ouro, Robert Leonardus de Wit, ou simplesmente Rob de Wit, chamava atenção na década de 80 e era um dos craques do Campeonato Holandês à época.
Nascido em 8 de setembro de 1963 na bela e histórica Utrecht, Rob de Wit foi mais uma daquelas pérolas canhotas holandesas que se especializaram em atuar como ponta-esquerda no tradicional 4-3-3 da laranja mecânica.
Com estilo muito similar ao de Robben, apesar de atuar pelo lado esquerdo, o atacante desfilava talento e técnica em campo. Especialista não só em jogadas de velocidade, Rob de Wit era capaz de assistir um companheiro com a eficiência da sua perna canhota sem fazer muito esforço. Além, é claro, da habilidade em marcar golaços.
Sempre com a cabeça erguida, ele foi um dos destaques da sua equipe local na Eredivisie. O sucesso no Utrecht foi tão grande que, em apenas dois anos, foi contratado pelo Ajax.
Foi ainda no clube do norte da Holanda – em que debutou aos 18 anos – o local de uma de suas partidas memoráveis. Em 1983, vitória por 2 a 0 contra o poderoso PSV. Dois gols do habilidoso ponta-esquerda.
Na equipe do Ajax, a estreia veio na temporada de 1984-85. Com a difícil missão de substituir o ótimo dinamarquês Jesper Olsen, que havia se transferido para o Manchester United, de Wit não se intimidou e fez jus aos elogios da imprensa local.
Conseguiu ser campeão holandês na mesma temporada. Em uma equipe que ainda tinha Koeman e Van Basten, entre outras estrelas, o ponta-esquerda foi escolhido um dos melhores jogadores da competição.
Como prêmio pelo ótimo trabalho, foi convocado para a seleção nacional. Assim como nos clubes, o sucesso foi instantâneo. Em oito partidas pela seleção, marcou três gols.
Talvez tenha sido pela Laranja Mecânica o seu gol mais bonito. Tento único da importante vitória fora de casa contra a poderosa Hungria. O talento com a perna esquerda novamente fez a diferença.
Foi na seleção também que viveu a tristeza da eliminação para a Bélgica na qualificação para a Copa do Mundo de 1986. O placar de 2 a 1 em casa fez com que os holandeses fossem eliminados pelos critérios do gol qualificado. Mas até nesta partida ele marcou.
Na temporada 1985-86, mais um título. Desta vez a Copa da Holanda em cima do rival Feyenoord. Porém, o ótimo momento da carreira foi interrompido. No mesmo ano, em um feriado na Espanha, Rob de Wit teve uma hemorragia cerebral que abreviaria a sua promissora carreira.
O atacante ainda tentou voltar a jogar. Mas o susto dois anos antes foi o suficiente para que ele, em 1988, encerrasse de vez a curta e bonita trajetória no futebol.
Aos 26 anos, o talento não venceu os problemas de saúde. Porém, o curto tempo como profissional deixou um legado belíssimo. Em quatro anos, foram mais de 100 jogos como profissional e 26 gols. Além, é claro, de várias assistências e muita técnica. Hoje, aos 51 anos, o ex-jogador está bem, mesmo após mais duas hemorragias no cérebro.
Relembrando a curta e grande carreira do atacante, fica a pergunta: Será que Rob de Wit se tornaria um dos grandes jogadores da história do futebol holandês caso não tivesse se aposentado precocemente?