Bola na marca da cal? A culpa é de William McCrum

Bola na marca da cal? A culpa é de William McCrum

Goleiro irlandês milionário propôs a criação dos pênaltis em 1890

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mccrum“Pênalti é uma coisa tão importante que devia ser batido pelo presidente do clube”. A frase, supostamente cunhada pelo lendário Neném Prancha, expressa dignamente um dos momentos mais tensos de uma partida de futebol. Que o digam os atletas desta edição do Brasileirão, que estão vendo o aproveitamento nas cobranças despencar.

Se toda essa atmosfera tensa existe na hora do tiro penal, podem culpar um homem: o irlandês William McCrum. Foi ele que, nos primórdios da popularização do jogo de futebol, propôs a criação do pênalti para punir práticas anti-desportivas.

Antes de explicar melhor a forma com que McCrum chegou a essa ideia, vale destrinchar um pouco a história do homem que acabou se tornando tão importante para o esporte.

McCrum nasceu em 1865, na Irlanda do Norte, filho de um milionário do ramo têxtil. Apesar do berço de ouro e das melhores instituições de ensino em seu currículo, William não foi bem sucedido na área empresarial, arruinando o negócio da família em poucos anos e sendo obrigado a vender a fábrica para saldar as dívidas.

Nesse meio-tempo, envolveu-se com clubes desportivos, e é aí que a parte mais importante de sua história começa. McCrum começou a atuar como goleiro do Milford FC, clube da cidade homônima que havia sido construída pelo próprio pai de William.

Ninguém, portanto, ousaria fazer muitas críticas ao filho do homem mais poderoso da região. “Mestre Willie” continuou com sua reputação ilibada mesmo depois de números pífios em sua primeira temporada como jogador: 14 jogos, 14 derrotas e 62 gols sofridos.

Ao buscar tantas vezes a bola na rede, McCrum percebeu algo que o incomodava. Uma prática que ele considerou injusta, inclusive quando realizada por colegas de equipe.

Na época, ainda vigorava a primeira versão do livro de regras unificado, e infrações próximas ao gol adversário eram anotadas da mesma maneira que as outras, com barreira. Essa especificação facilitava o trabalho dos defensores, que às vezes praticavam deliberadamente o anti-jogo para evitar o gol rival.

Aproveitando de sua influência como membro da Associação Irlandesa de Futebol, McCrum propôs uma mudança na regra e sugeriu um tiro livre direto para que a punição às faltas fosse maior. O texto propunha ainda que esse tiro fosse batido sempre a uma distância de 12 jardas da meta, e que todos os jogadores restantes permanecessem a uma distância de 6 jardas da bola até a cobrança.

Inicialmente a ideia não vingou, porque após alguns debates os comissários chegaram à conclusão de que os jogadores de ataque poderiam começar a se atirar para cavar pênaltis (quem diria…). A proposta foi considerada anti-cavalheiresca, por supor que os atletas pudessem ser desleais.

Alguns meses depois, um episódio na final da Copa da Inglaterra mudou o cenário. Em um ataque do Stoke City, um defensor do Notts County impediu um gol adversário com a mão. A falta foi cobrada com barreira e a defesa do County afastou, garantindo o título.

Foi o suficiente para o comitê responsável pelas regras do jogo mudar de opinião. Em 2 de junho de 1891, a norma que previa a marcação de pênaltis foi incluída e entrou em vigor alguns dias depois, consagrando a maior realização de um goleiro e empresário medíocre, mas com visão e coragem para mudar o panorama do jogo.

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Jornalista, 23 anos. Amante do futebol bonito e praticante do futebol feio