21 de junho é uma data histórica para o futebol. Não apenas para o Brasil, como para o mundo inteiro. E não é por conta do desanimado confronto entre a amarelinha e a Venezuela pela terceira rodada da Copa América. Hoje completam-se 45 anos do título da Copa de 70.
Para comemorar a data, o Alambrado selecionou 10 fatos marcantes sobre a competição que consagrou um dos melhores times da história (talvez o melhor), apresentando diversas inovações dentro e fora do campo.
10 – Turbulências na atual campeã
A Inglaterra, campeã mundial em 66, percebeu desde o embarque para o México que teria problemas para defender seu título. Os ingleses fizeram a última parte da preparação para a Copa na Colômbia, onde jogaram um amistoso contra os anfitriões. Depois da partida, durante a folga dos jogadores, o capitão Bobby Moore foi preso, acusado de roubar um bracelete em uma joalheria local. O episódio fez com que a seleção viajasse ao país-sede do Mundial sem Moore, que só foi liberado após 14 horas de interrogatório e três dias no xadrez.
Mas não era o fim das polêmicas inglesas. A delegação resolveu levar água e comida para o México, temendo uma contaminação através dos alimentos locais. A atitude revoltou os mexicanos, que passaram a torcer contra a Inglaterra em todos os jogos. Ironicamente, o goleiro Gordon Banks acabou ficando de fora das quartas de final justamente por conta de uma intoxicação alimentar, e seu reserva, Bonetti, falhou em dois gols, decretando a eliminação inglesa contra a Alemanha.
9 – Ao vivo e em cores
A Copa de 1970 contou com inúmeras inovações relacionadas às transmissões pela TV. Pela primeira vez um Mundial de futebol era transmitido ao vivo e em cores, via satélite. A cobertura foi grandiosa para a época, com engenheiros e técnicos se preparando desde 1967 para rodar as imagens pelo mundo inteiro. Seis câmeras eram utilizadas em cada jogo, uma extravagância naqueles tempos.
Entretanto, a enorme maioria do público brasileiro não pôde contar com a mesma qualidade de transmissão que o resto do mundo. A TV a cores ainda não era não era popular no país, um artigo de luxo para poucos afortunados. Por conta disso, os jogos da seleção foram transmitidos em telões instalados em grandes praças de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
8 – Cartões
Aproveitando o advento da transmissão em cores, a FIFA teve condições de aplicar uma nova regra que se mostraria muito útil a partir do Mundial de 1970. Essa foi a primeira Copa em que os árbitros contaram com cartões amarelos e vermelhos para punir a conduta violenta dos atletas.
Antes disso, as expulsões eram feitas verbalmente, e não havia sinal de advertência simples. Os cartões serviram como uma linguagem universal, evitando incidentes como o do argentino Rattín, expulso em 1966 após uma falha na comunicação com o árbitro.
Coube ao soviético Evgeny Lovchev a “honra” de receber o primeiro cartão amarelo da história das Copas, logo na partida de abertura do Mundial, contra o México. Já o primeiro vermelho viria só 4 anos mais tarde, mostrado ao chileno Carlos Caszely em partida contra a Alemanha Ocidental.
7 – Troca-troca
Vida de técnico é difícil, mas até 1970 era mais complicada ainda. Antes da Copa no México os treinadores não podiam realizar substituições, forçando as equipes a atuarem com um jogador a menos em caso de lesões graves, por exemplo, ou então fazendo número em campo, como Pelé em 1966.
Na Copa em solo mexicano, entretanto, os técnicos, passaram a poder realizar duas alterações por jogo, auxiliando tática e tecnicamente a estratégia das equipes. Mais uma vez o novo advento seria “inaugurado” pelos soviéticos, sendo que a troca de Anatiliy Puzach por Viktor Serebrjanikov no intervalo do jogo contra o México se tornou a primeira em Copas do Mundo.
6 – Preparadores aprendizes
A Copa serviu para consagrar a estreia de Zagallo como técnico de futebol, após substituir João Saldanha em uma troca bastante conturbada. Mas ele não foi o único nome conhecido formando a comissão técnica brasileira no torneio.
O staff brasileiro contava com dois preparadores físicos que se tornariam técnicos da seleção em Mundiais posteriores. Cláudio Coutinho, que treinou a amarelinha na Copa de 78, e Carlos Alberto Parreira, comandante em 1994 e 2006, eram auxiliares do Velho Lobo e aproveitaram a experiência em 70 para pautar suas carreiras no futuro.
5 – Clube dos campeões
Mais um ineditismo na Copa de 1970 comprovou a força da fase final do torneio. O chaveamento das semifinais colocou frente à frente quatro seleções que já haviam se sagrado campeãs em edições anteriores: Brasil, Uruguai, Alemanha e Itália. A única campeã que ficou de fora foi a Inglaterra, eliminada nas quartas.
Além da rivalidade natural entre os quatro gigantes do futebol mundial, algo a mais estava em jogo. Brasil, Uruguai e Itália podiam conquistar o título pela terceira vez, ganhando dessa forma o direito de levar a Taça Jules Rimet definitivamente para casa. Uma dessas seleções teve um final feliz. A Taça, nem tanto.
4 – Glória derretida
O Brasil foi tri e levou a Jules Rimet para casa, onde ela seria exibida para sempre com orgulho. Em um mundo ideal essa seria a história, mas no mundo real foi diferente. Em 1983, dois homens invadiram a sede da CBF no Rio de Janeiro e roubaram o objeto de 3,8 quilos de ouro e valor estimado em 18 milhões de cruzeiros (equivalente a aproximadamente 200 mil reais).
A taça foi cortada e derretida pelo ourives argentino Juan Carlos Hernandez, que foi preso juntamente com os dois assaltantes e o mentor do crime, Sérgio Pereira Ayres, representante do Atlético-MG na CBF.
3 – Semifinal eletrizante
Alemanha e Itália não precisam de muitos predicados quando o tema é futebol. A história dos dois países no esporte fala por si só, muito por conta de jogos memoráveis como a semifinal de 1970, escolhida em uma enquete do jornal francês L’Équipe como a melhor partida da história das Copas.
O “Jogo do Século” teve seu placar inaugurado logo aos oito minutos, pelo italiano Boningsegna. No final do tempo normal, Schnellinger empatou para a Alemanha. A essa altura, o “Kaiser” Franz Becknbauer já atuava com uma tipoia no braço, por conta de um deslocamento na clavícula.
Ele ficaria assim até o final da histórica prorrogação que se seguiria. Aos quatro minutos, Muller colocou os alemães na frente. O zagueiro Burgnich trouxe a igualdade novamente, quatro minutos depois. Gigi Riva virou a partida para a Itália, pouco antes do fim do primeiro tempo extra.
Mas o drama não ia parar por aí. Gerd Muller, sempre ele, entraria em ação novamente para empatar o jogo em 3×3 e marcar mais um de seus 10 gols naquela Copa. Só que a alegria alemã não durou muito. Gianni Rivera marcou o quarto gol italiano aos seis minutos do segundo tempo da prorrogação. A essa altura, a Alemanha já não tinha mais condições físicas para lutar contra o adversário e o calor no estádio Azteca. Fim do duelo histórico, 4×3, Itália na final.
2 – O Retorno (e despedida) do Rei
Pelé havia encantando o mundo em 1958. Com apenas 17 anos e talento de um gigante, as imagens do então menino em prantos após grande atuação no primeiro título brasileiro emocionaram os fãs do futebol de todas as partes. Mas nos dois Mundiais seguintes, a violência de defensores adversários havia impedido os amantes do esporte de presenciar a genialidade do Rei.
Em 1970, prestes a completar 30 anos e querendo encantar novamente em sua despedida das Copas, Pelé mostrou porque merecia o rótulo de Majestade. Maior estrela do time, ele protagonizou naquele torneio lances que não saem da retina dos espectadores até hoje. E não apenas os gols, como a espetacular cabeçada na final contra a Itália.
Como não lembrar, por exemplo, do famoso “gol que Pelé não fez”, em chute do meio do campo na estreia contra a Tchecoslováquia? Ou da finta de corpo sobre o goleiro uruguaio Mazurkiewicz, com a bola raspando a trave caprichosamente? Ou da pancada de cabeça defendida por Banks, uma defesa considerada até hoje como a maior de todas? Difícil esquecer de lances como esses, e mais ainda explicá-los. Ser genial até nos erros dentro de campo não é pra qualquer um. Mas não é qualquer um que é Rei.
1 – A melhor da história
Existe uma lenda que a seleção brasileira de 1970 contava com cinco camisas 10 em seu time titular. Na verdade, Tostão não era o 10 do Cruzeiro, e sim Dirceu Lopes, mas na essência a frase é verdadeira. Afinal de contas, um quinteto formado por Gérson, Rivelino, Jairzinho, Tostão e Pelé merece todas as licenças poéticas possíveis.
Contrariando as frases feitas de que jogadores de níveis parecidos não podiam jogar juntos, os craques de 1970 pareciam desafiar qualquer lógica tática limitada, passando por cima de todos com base na técnica e na troca de passes eficiente.
Obviamente existem outros times que encantaram o mundo e elevaram o nível do espetáculo, como a Hungria em 1954, a Holanda em 1974 e o próprio Brasil em 1982. Mas em 1970 a seleção canarinho conseguiu encantar e vencer, algo pouco comum em um esporte como o futebol, onde nem sempre o melhor vence.
Parece justiça divina que a sensacional campanha brasileira, com seis vitórias em seis jogos, tenha sido selada com um golaço em uma jogada coletiva na final contra a Itália, mostrando que o time era uma verdadeira constelação, e não apenas um bando de estrelas brilhando separadamente. A belíssima história do melhor time em uma das melhores Copas se encerrou na patada do capitão Carlos Alberto que quase estourou a rede, e explodiu os 90 milhões em ação à época.