A improvável Venezuela e a disputa pelo bronze na Argentina

A improvável Venezuela e a disputa pelo bronze na Argentina

Desacreditada, Vinotinto chegou à semifinal e terminou a Copa América de 2011 na 4º posição

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Única seleção da Conmebol que jamais se classificou para a Copa do Mundo e uma das três que nunca ganhou a Copa América, ao lado de Chile e Equador, a desprestigiada Venezuela fez uma campanha histórica na última edição do torneio continental, em 2011. Embora o futebol não seja o esporte mais popular do país, perdendo para o beisebol, a “Vinotinto” chegou até as semifinais, sua melhor participação desde a estreia em 1967.

Na verdade, a equipe nacional já havia deixado de figurar na parte inferior da tabela e mostrado um progresso notável sob o comando do técnico Richard Páez em 2007, ano em que a Venezuela sediou pela primeira vez a Copa América. Na ocasião, os anfitriões foram cabeças de chave e, após obter a liderança do grupo que também contava com Uruguai, Peru e Bolívia, alcançaram as quartas de final, sendo eliminados pelos uruguaios.

Já sob as orientações de César Farias, que assumiu oficialmente o cargo de Páez no início de 2008, a seleção venezuelana deu continuidade ao bom momento e surpreendeu de maneira positiva, mesmo após fraca participação nas Eliminatórias para a Copa de 2010, na África do Sul. No total, o time sul-americano somou 22 pontos em 18 partidas, ocupando a antepenúltima colocação, à frente de Bolívia e Peru, respectivamente.

Na Argentina, Venezuela de Perozo (20) e Fedor só caiu diante do Peru de Paolo Guerrero (Foto: Reprodução/Ovacion Deportes)
Na Argentina, Venezuela de Perozo (20) e Fedor (7) parou o Brasil na primeira fase e disputou o terceiro lugar (Foto: Reprodução/Ovacion Deportes)

Passado o insucesso mundialista, a delegação vinotinto sonhava com uma reabilitação dentro de território argentino. E foi um glorioso período de quase três semanas desde a abertura da competição, em  1º de julho de 2011, até a queda na disputa pelo terceiro lugar, decretada no dia 20 do mesmo mês. Na fase de grupos, os primeiros desafios seriam Brasil, atual campeão, Equador e Paraguai, nesta ordem.

Em 3 de julho, a Venezuela entrou no Estádio Ciudad de La Plata para encarar a seleção orientada por Mano Menezes, que contava com a dupla formada por Paulo Henrique Ganso e Neymar, então destaques do Santos. Ofensivo, o time canarinho sofreu com a falta de pontaria nas finalizações e, quando mostrou perigo, parou na eficiência da defesa adversária. O resultado foi um empate sem gols – uma decepção para os brasileiros.

Seis dias depois, a Vinotinto viajou até Salta para enfrentar o Equador no Estádio Padre Ernesto Martearena. O duelo não teve grandes emoções, salvo um belo chute de fora da área do meia César González, no segundo tempo, assegurando a vitória por placar mínimo sobre os equatorianos e – surpreendentemente – a liderança provisória do grupo B.

A definição das vagas ficou para 13 de julho. Enquanto a Venezuela permaneceu em Salta, o Paraguai, que havia empatado por 2 a 2 com o Brasil, precisou viajar de Córdoba, região central, até o noroeste do país. O resultado, para a tristeza guarani, foi um empate por 3 a 3, que não classificaria a seleção de Gerardo Martino para a segunda fase.

Logo no começo do jogo, o atacante Salomón Rondón abriu o placar para a Venezuela. A reação paraguaia teve início com o defensor Antolín Alcaraz, ainda no primeiro tempo, e foi consolidada com o atacante Lucas Barrios e o meia Cristian Riveros. Mas o rival, apesar de suas limitações, permanecia vivo. E demonstrou isso com Miku, aos 44 minutos da segunda etapa, e com Perozo, de cabeça, após escanteio, já nos acréscimos.

Em função da milagrosa igualdade, a Venezuela ficou com os mesmos 5 pontos do Brasil, que mais tarde, no mesmo dia, derrotou o Equador, em Córdoba, por 4 a 2. Devido aos critérios de desempate, porém, a seleção canarinho garantiu a liderança. Classificados para as quartas de final, o Brasil mediria forças com o Paraguai, terceiro colocado, em La Plata, enquanto a Vinotinto enfrentaria o Chile, em San Juan.

Em 17 de julho, no Estádio do Bicentenário, outra vez a equipe comandada por César Farias desafiou os prognósticos ao bater os chilenos por 2 a 1. Primeiro, com uma bela cabeçada de Vizcarrondo após cobrança de falta. Depois, para desempatar no fim, com rebote aproveitado por Cichero, novamente em jogada originada após cobrança de falta.

Desta maneira, a Venezuela já realizava uma campanha inédita em sua história. Para se aproximar ainda mais do sonho de protagonizar uma final improvável, voltaria a enfrentar o Paraguai, que eliminou o Brasil em uma insólita disputa por pênaltis (2 a 0), na qual os brasileiros erraram nada menos do que quatro cobranças, após 0 a 0 no tempo normal.

O reencontro em 20 de julho, no Estádio Malvinas Argentinas, em Mendoza, não foi tão épico quanto o primeiro jogo entre ambas as equipes. Um empate sem gols levou a definição do finalista para as penalidades, e os paraguaios levaram a melhor por 5 a 3. Na decisão, o selecionado guarani perderia o título para o Uruguai (3 a 0), no Estádio Monumental de Núñez, em Buenos Aires. No dia anterior (23), a Venezuela disputou o terceiro lugar contra o Peru, na mesma La Plata em que empatou com o Brasil.

No primeiro tempo, Willian Chiroque balançou a rede para o time inca, enquanto Juan Arango deixou tudo igual depois do intervalo. Um hattrick de Paolo Guerrero, contudo, enterrou as ambições rivais de faturar a medalha de bronze. A autoestima venezuelana, apesar da dura goleada, não se abalou graças à antológica campanha na Argentina.

No Chile, é improvável que a façanha da Vinotinto seja repetida, ainda mais com o bom momento vivido por Colômbia e Argentina, além dos sempre favoritos Brasil e Uruguai. Mas, para quem já superou as expectativas uma vez, não custa sonhar de novo.

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