Embora prefiram evitar amiúde a exposição pública, todos (?) os profissionais da área esportiva têm um time do coração: os jogadores, os jornalistas e inclusive os árbitros, fato que teoricamente não interfere em suas integridades nem na execução de suas tarefas laborais de maneira ética. Por esses motivos, o recente caso envolvendo o inglês Kevin Friend ganha relevância e suscita reflexões sobre o tema.
Natural de Bristol, no sudoeste do país, o juiz de 44 anos não apitará mais o jogo da próxima segunda-feira (18) entre Stoke City e Tottenham Hotspur, no Britannia Stadium, pela 34ª rodada do Campeonato Inglês.
Em vez disso, ele será substituído por Neil Swarbrick, de 50 anos, e comandará a partida entre Newcastle United e Manchester City, que será realizada no dia seguinte, no St. James’ Park.
O motivo é uma declaração feita por Friend em 2013 ao jornal Leicester Mercury. Como o nome da publicação sugere, o árbitro afirmou à época que simpatizava com a atual sensação do futebol mundial e frequentava de vez em quando os jogos da equipe no King Power. “Eu tenho dois times, o Bristol City, porque eu nasci em Bristol, e também o Leicester, porque moro aqui”, revelou na entrevista, segundo reproduziu o Daily Mail.
Faltando cinco rodadas para o término da vigente temporada da Premier League, os Spurs, comandados pelo técnico argentino Mauricio Pochettino, estão brigando pelo título nacional e se encontram a sete pontos das Raposas, orientadas por Claudio Ranieri. A situação do clube londrino é significativamente desfavorável, mas o chefe do comitê responsável pela designação dos árbitros, Mike Riley, optou por preservar Friend.
Em tese, a associação mencionada não costuma levar em consideração fatores secundários como juízes apitando confrontos que podem estar de alguma forma relacionados aos clubes pelos quais eles torcem. No entanto, um comunicado informa que a troca foi realizada devido ao contexto do jogo e para evitar pressão desnecessária sobre Friend.
No futebol brasileiro, em particular, sempre existem reticências de diversas partes, sobretudo de torcedores, pelo envolvimento de um árbitro com histórico de supostos favorecimentos a determinados clubes, embora nem sempre haja provas concretas. O trabalho de jornalistas também questionado com frequência em razão de suas predileções futebolísticas, como se elas comprometessem a qualidade de seus ofícios.
Enfim, não vejo motivos além do raso patrulhamento que possa impedir alguém declaradamente envolvido com o time x de falar sobre o time y ou apitar jogos do rival, pois essa impertinência afeta a carreira de pessoas ilibadas que se preocupam de modo rigoroso com seus trabalhos, seja nas redações ou nos gramados.
