“Diamantes Negros” e a dura realidade da exploração de sonhos

    “Diamantes Negros” e a dura realidade da exploração de sonhos

    Filme mostra a desilusão de dois jovens que sonhavam jogar futebol na Europa

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    Jogar nos melhores estádios, disputar os torneios mais importantes do mundo, conquistar títulos e, quem sabe, se tornar o melhor do planeta.

    Sonhos que já passaram até pelas mentes mais realistas de crianças que correm atrás de uma bola do futebol. Mas eles raramente se concretizam, e ainda podem acabar se tornando uma realidade sombria e assustadora.

    Esse lado obscuro do esporte é retratado no filme “Diamantes Negros” (2013), produção conjunta entre Espanha, Portugal e Estônia que conta a história de dois garotos do Mali que só queriam jogar bola mas acabaram envolvidos em um submundo sujo.

    O longa, dirigido pelo espanhol Miguel Alcantud, começa fazendo um panorama da vida simples dos meninos Amadou e Moussa em sua terra natal, jogando em campos de terra com seus amigos que envergam camisas de grandes clubes europeus.

    Moussa e Amadou são as estrelas do filme (Foto: Reprodução)
    Moussa e Amadou são as estrelas do filme (Foto: Reprodução)

    É importante ressaltar que neste ponto o retrato da vida dos jovens na África não cai em um vício frequente do cinema, de colocar a realidade do continente como algo próximo da miséria.

    Não há luxo, mas ambos os meninos vivem felizes e contam com apoio de suas famílias para seguir seus sonhos quando um empresário os convida para jogarem na Espanha. Em troca, ele pede “apenas” uma considerável quantia em dinheiro para cobrir os gastos da viagem.

    O filme retrata bem uma manobra bastante comum no mundo do futebol de base, mostrando como Amadou e Moussa obtém seu visto como estudantes, já que ainda não tinham idade para serem oficialmente contratados.

    Ao chegar ao novo clube na Espanha, eles descobrem um esporte praticamente novo. A alegria que tinham ao bater bola com os amigos nos campinhos de Mali haviam sido trocadas por um jogo muito mais rígido e disciplinado.

    A partir daí, os destinos dos dois jovens passam a correr em caminhos paralelos, embora com uma mesma tônica: a dificuldade para se adaptar em um ambiente novo, as saudades de casa e o abandono dos empresários que deveriam ser seus “portos seguros” na Europa.

    Aos olhos de quem os levou para o novo clube, os dois não passam de mercadoria. A partir do momento em que não rendem o esperado em campo, são descartados e trocados por outro jovem com os mesmos sonhos.

    O restante da produção mostra a busca da dupla pela retomada de uma vida digna e uma forma de sobreviver após tamanha desilusão.

    Apesar de alguns maniqueísmos exagerados, “Diamantes Negros” acerta em uma abordagem sentimental e crítica de uma realidade conhecida por muitos, mas que normalmente é tratada de maneira superficial.

    Pode ser triste constatar que o futebol esteja manchado por atos obscuros de agentes e clubes que se aproveitam do desejo irracional que um menino tem de se tornar jogador profissional.

    Mas filmes como este são necessários não só para quem ama futebol, mas para qualquer um que tenha empatia e possa se comover com aqueles acabam vítimas da indústria da exploração de sonhos.

     

     

     

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