Estreante, o River Plate do Uruguai já é uma das gratas sensações da vigente edição da Copa Libertadores por ter eliminado a tradicional Universidad de Chile na fase preliminar do certame. Muitos desconhecem, entretanto, que a fundação do clube “charrúa” não foi inspirada pelo homônimo argentino, que, coincidentemente, também busca a glória eterna nas Américas, na condição de atual detentor do título continental.
Isso mesmo. Embora tenha impulsionado o surgimento de vários “xarás” devido à fama e à popularidade que alcançou, o time de Bueno Aires não é o precursor deste nome. Essa distinção cabe ao River Plate Football Club, concebido em 1897 das mãos de empregados do porto de Montevidéu, em sua maioria estivadores e outros trabalhadores sem grandes recursos, e extinto em 1925, com 4 taças obtidas durante a época amadora no país.
Inicialmente, os antigos “darseneros” foram batizados como Cagancha FC. Como a associação uruguaia exigia em seus torneios somente times com nomes de origem inglesa, o Cagancha logo virou FC London.
Porém, a liga passou a requisitar a presença de jogadores britânicos. Sem ingressar nela, então, os fundadores adotaram o nome River Plate em tributo a um barco inglês que era sua fonte de sustento.
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Com a admissão do rico Club Nacional de Football em 1900, o River Plate enfim encontrou brecha para ser aceito nas competições organizadas pela entidade reguladora do esporte em território uruguaio, mas sem o privilégio obtido pelo Nacional de entrar direto na elite, façanha conquistada após a disputa de outros torneios – condição baseada no fato de o River Plate ser de origem modesta, segundo algumas versões.
Após a guerra civil de 1904, os darseneros abandonaram o uniforme preto e adotaram o vermelho e branco com listras verticais, cores do Partido Colorado e do Partido Nacional, respectivamente, protagonistas do sangrento conflito.
Como as tonalidades eram semelhantes às do poderoso argentino Alumni Athletic Club, o River Plate usou camisa celeste e calção branco para enfrentar o adversário no dia 10 de abril 1910, em Montevidéu. Contra todas as expectativas, os locais venceram o amistoso diante da equipe comandada pelos irmãos Brown por 2 a 1, no Parque Central.
De tão significativa, a façanha foi homenageada no mesmo ano pela seleção nacional uruguaia, que até então havia usado distintas combinações de cores, como a azul com faixa branca na diagonal, a azul e vermelho e até uma camiseta azul e branca com listras horizontais, parecida com a da Argentina.
O NOVO RIVER PLATE
Em 11 de maio de 1932, já com a reestruturação da liga nacional e o consequente advento do profissionalismo no Uruguai, surge da fusão entre o Olimpia Football Club e o Club Atlético Capurro o Clube Atlético River Plate, em tributo ao extinto darsenero. As duas agremiações decidiram se reunir porque encontravam barreiras na transição do futebol amador para o profissional.
Estabilizado na elite a partir da década de 1990, o novo River Plate fez suas primeiras aparições internacionais na Copa Conmebol de 1996 e de 1998, mas só na segunda metade do decênio seguinte ganhou mais holofotes. Em janeiro de 2007, anunciou como técnico o ex-jogador Juan Ramón Carrasco, hoje com 59 anos, que defendeu River Plate-ARG, Peñarol-URU, Nacional-URU, Cádiz-ESP e São Paulo, além do Uruguai.
No primeiro semestre de 2008, os resultados apareceram. A equipe foi a sensação do Torneo Clausura graças ao seu poder ofensivo, personalizado na figura do atacante Richard Porta, autor de 19 dos 48 gols do time em 15 jogos. A surpreendente campanha (12V, 1E e 2D) igualou a do Peñarol, que venceu o jogo-desempate por 5 a 3 e acabou perdendo a disputa pelo título unificado para o Defensor Sporting.
No entanto, as boas atuações do River ficaram marcadas, como as goleadas sobre Danubio (5 a 1), Peñarol (6 a 2), Defensor Sporting (5 a 1) e Rampla Juniors (7 a 0), rendendo-lhe participação na Copa Sul-Americana de 2009, da qual foi semifinalista.
Assim, o novo darsenero tornou-se o primeiro uruguaio desde o Nacional em 2002 a ficar entre os quatro melhores da competição, eliminando Blooming (5-1 no agregado*), Vitória (5 a 2 no agregado) e San Lorenzo (7 a 6 nos pênaltis). Chegou a vencer a futura campeã LDU em Montevidéu (2 a 1), mas foi goleado na volta por 7 a 0.
O TÉCNICO
As características ofensivas de Juan Carrasco, ainda que marcadas por momentos de desequilíbrios, não o levaram ao sucesso à frente do Uruguai. Ele foi demitido logo após a derrota por 3 a 0 para a frágil Venezuela, no Estádio Centenário, pelas Eliminatórias para a Copa de 2006.
Em 2010/11, reergueu-se ao conduzir o Nacional ao título uruguaio, porém, acabou igualmente dispensado. Também teve experiências pouco felizes no Emelec e no Atlético-PR, o qual assumiu em 2012, com aproveitamento de 67,7% em 36 jogos, pesando as eliminações para o Palmeiras, nas quartas de final da Copa do Brasil, e para o Coritiba, na decisão do Campeonato Paranaense.
De volta ao River Plate após um período sabático, Carrasco mantém sua personalidade forte que foge ao padrão habitual do futebol.
Já questionou jornalistas “intocáveis”, chegar atrasado a uma partida por estar comendo ravioles, encerrar entrevistas abruptamente e abandonar o estádio. Um treinador autêntico que agora sonha em levar outras glórias ao River Plate.
* Por falta de segurança, o primeiro jogo entre River Plate e Blooming foi interrompido aos 20 minutos do segundo tempo, quando o River Plate vencia por 1 a 0. Mais tarde, a CONMEBOL declarou o River Plate vencedor da partida por 3 a 0.