Mekhloufi, o herói da independência argelina

Mekhloufi, o herói da independência argelina

Conheça a história do craque que mudou a história da Argélia

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Mekhloufi mudou a história da Argélia, dentro e fora dos campos (Foto: Reprodução)
Mekhloufi mudou a história da Argélia, dentro e fora dos campos (Foto: Reprodução)

O futebol costuma ser relacionado frequentemente a questões de orgulho, lealdade e patriotismo. Seleções nacionais são tratadas como a representação oficial de um país nos grandes torneios, e a execução de seus hinos antes de partidas em Copas do Mundo costuma proporcionar momentos altamente emotivos.

O que falar, portanto, de uma história em que o esporte virou uma ferramenta essencial para fazer com que um território pudesses finalmente se declarar como uma nação independente?

O caso em questão aconteceu na Argélia, e foi protagonizado pela maior lenda do futebol local, o ex-atacante Rachid Mekhloufi, personagem fundamental na afirmação do orgulho argelino e na independência do país.

Nascido em 1936 na cidade de Sétif, então território francês, Mekhloufi teve a oportunidade de ver, ainda criança, os estragos provocados pela tensão crescente entre argelinos e franceses, como o massacre em 1945 que provocou a morte de cerca de 10 mil civis.

Para escapar dessa realidade violenta, ele buscou refúgio nos campos de futebol. Apaixonado pelo esporte, passava tardes inteiras jogando, até que aos 18 anos foi descoberto por um olheiro do Saint-Etienne.

O clube da região leste da França nunca havia chamado muita atenção no cenário local até então. No entanto, com o talento do habilidoso argelino somado ao do camaronês N’Jo Lea, a equipe conseguiu seu primeiro título nacional na temporada 1956-57.

No mesmo período, Mekhloufi iniciava sua trajetória no futebol internacional, sendo chamado para a seleção francesa que iniciava sua preparação para a Copa do Mundo que seria realizada na Suécia, em 1958.

O rumo da carreira do craque parecia definido, ainda que contasse somente 20 anos de idade. Era o craque do melhor time da França, adorado por seus torcedores e com presença quase garantida no Mundial. Mas algo ainda incomodava Mekhloufi: a situação de sua terra natal.

Os conflitos não paravam de eclodir na região do Magreb. Como forma de resistência e tentando se tornar uma nação indepedente, o povo argelino criou a Frente de Libertação Nacional (FLN). Ligado ao movimento e consciente de seu poder de influência na condição de ídolo, Mekhloufi decidiu agir.

Em 13 de abril de 1958, abdicou do direito de disputar a Copa e fugiu clandestinamente da França, na companhia de outros quatro atletas que atuavam por clubes gauleses. Dois dias depois, outros cinco desertores se juntavam ao grupo. Estava formada a seleção da FLN.

A seleção da FLN (Foto: Reprodução)
A seleção da FLN (Foto: Reprodução)

O impacto foi estrondoso e imediato. Estrelas argelinas se recusavam a jogar pela metrópole e começavam a defender sua colônia. Mekhloufi, em especial, encabeçava a maioria dos cartazes divulgados para aumentar a força do movimento. Havia se tornado o soldado mais importante da luta, sem ter pego em uma arma sequer.

Para divulgar a rebelião, a FLN passou a fazer jogos em vários países simpatizantes à causa separatista, colecionando bons resultados, como a goleada por 6×1 contra a Iugoslávia. O grupo de jogadores ganhava cada vez mais adesão, enquanto o craque fazia sua parte nos gramados.

O povo argelino, em êxtase pela sua ótima representação futebolística, pressionava cada vez mais pela separação. Foi então que, em março de 1962, a França finalmente cedeu. Era o início da Argélia como uma nação oficial, e o fim da FLN, que conseguira cumprir seu objetivo.

Mas o que aconteceria com Mekhloufi, ainda em seu auge físico e com totais condições de continuar jogando futebol? Havia uma certa desconfiança sobre suas chances de retorno ao clube de origem, mas o ídolo precisou de pouco para mostrar que sua imagem não seria arranhada depois da fuga.

Com mais seis temporadas no Saint-Etienne, conquistou outros três títulos nacionais, estabelecendo um recorde de 192 gols pelo clube, que só seria batido por Hervé Revelle em 1978.

Mas algo ainda faltava para reparar uma lacuna em sua carreira de jogador, quando largou a oportunidade de disputar uma Copa. O destino permitiu sua redenção, colocando-o como técnico da seleção da Argélia na Copa do Mundo de 1982.

No torneio, conseguiu duas vitórias, incluindo o histórico triunfo contra a Alemanha Ocidental por 2×1, em uma das maiores zebras da história dos Mundiais. Um jogo marcante para um herói nacional.

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