A catarse coletiva de um gol decisivo nos acréscimos é uma das experiências mais impressionantes do futebol. Tristeza e decepção para alguns, alegria extrema para outros. O esporte alcança seu auge nesses raros momentos.
Aconteceu no último sábado, no Emirates Stadium, quando o Arsenal recebeu o Leicester pelo Campeonato Inglês. Os mandantes ocupavam o terceiro lugar e estavam a cinco pontos dos visitantes, que lideravam o torneio com sobras.
Um pênalti no primeiro tempo, sofrido e convertido por Jamie Vardy, aumentava a vantagem do Leicester para oito pontos. Era, praticamente, a despedida do Arsenal da briga pelo título que persegue desde 2004.
Mas um lance banal no segundo tempo mudou completamente a história do jogo. O lateral Simpson, do Leicester, acabou expulso pelo segundo amarelo após uma falta. Claudio Ranieri decidiu mexer e tirou Mahrez, seu atleta mais incisivo, e colocou o truculento Wasilewski para reforçar a defesa.
Com o bombardeio do Arsenal, veio o empate. O Leicester já não tinha mais ataque. A pressão continuou. Afinal, para os Gunners, a vitória era essencial. E aos 48 do segundo tempo, quando o árbitro estava para encerrar o jogo, Wasilewski fez uma falta completamente desnecessária na intermediária. Na cobrança, Welbeck desviou de cabeça e virou. Fim de jogo.
Leicester, de novo
O Campeonato Inglês já vivenciou inúmeras situações deste tipo. Com seu característico futebol veloz, de vigor físico, os atletas não costumam jogar a toalha facilmente. Em um dos casos mais emblemáticos da história recente da liga, o Leicester também estava envolvido.
Watford e Leicester se encontraram na semifinal dos playoffs da Championship, eliminatória que decidia a última vaga de acesso para a Premier League 2013-14. No jogo de ida, 1 a 0 para as Raposas. Estavam a um empate da classificação para a final.
Nos acréscimos do segundo tempo do jogo de volta, o Watford vencia por 2 a 1 e levava o confronto para a prorrogação, quando o árbitro assinalou um pênalti para o adversário. Para o Leicester, era converter e se classificar.
Knockaert não só parou no goleiro Almunia na cobrança, como também fez o mesmo no rebote. Após as duas defesas, um bico para a frente se transformou em contra-ataque. Em bate-rebate na área, Deeney marcou. 3 a 1 Watford. Classificado. A alegria foi tanta que a torcida invadiu o gramado depois do apito final.
O gol de Agüero
Para os torcedores do City, não é preciso falar mais do que “o gol de Agüero” para relembrar o feito de 2012. A equipe vivia um jejum de 44 anos sem conquistar a primeira divisão inglesa, e tinha chances de encerrar o tabu caso vencesse o Queens Park Rangers na última rodada.
A equipe começou vencendo, mas o QPR virou o jogo. Com 2 a 1 no placar, e o Manchester United vencendo o Sunderland simultaneamente, o título mais uma vez iria para os Diabos Vermelhos. O sonho parecia acabado.
Aos 45 minutos do segundo tempo, contudo, Dzeko empatou. Ainda não era o suficiente para o City. Só a vitória tiraria o título do rival. Com cinco minutos de acréscimo, a bola procurou o craque. Agüero mandou para o gol e fez os Citizens testemunharem o momento mais emocionante de sua história.
Um dia caça, no outro caçador
Se hoje o Arsenal comemora a espetacular vitória sobre o Leicester na atual Premier League, também já foi vítima de algo parecido, há alguns anos. Em abril de 2011, a equipe disputava ponto a ponto a liderança com o Manchester United,
Na 32ª rodada, diante do Liverpool, os Gunners precisavam vencer para manter apenas três pontos de diferença para os Red Devils, que lideravam a competição. O jogo estava empatado até os 53 minutos do segundo tempo, quando Robin van Persie converteu um pênalti. O acréscimo exagerado foi dado devido a uma lesão de Carragher, que paralisou o jogo por bastante tempo.
Mas aos 57, no apagar das luzes, o árbitrou assinalou outra penalidade, desta vez para o Liverpool. O holandês Kuyt marcou e jogou um balde de água fria nas pretensões de título dos Gunners, que não apenas deixaram o troféu escapar, como também terminaram com uma decepcionante quarta colocação.
Fergie time
A marcante característica do Manchester de Alex Ferguson não poderia passar batida. Nos minutos finais dos jogos, quando o United empatava ou estava atrás do placar, o técnico se levantava do banco e ia para a beira do gramado. E o gol costumava sair. O famoso “Fergie Time”.
Um dos mais impressionantes aconteceu em 2009, durante um clássico local entre United e City no Old Trafford. A partida não valia título – a Premier League estava apenas começando. Mas clássico é clássico.
Rooney abriu o placar com apenas dois minutos. Barry empatou, Fletcher recolocou o United na frente no segundo tempo. Bellamy empatou. Fletcher fez 3 a 2. Bellamy, aos 45 do segundo, empatou de novo.
Quando o duelo estava para terminar, com seis minutos de acréscimo, um chutão para a área desesperado caiu nos pés de Owen. O atacante não perdoou. 4 a 3 United, naquele derby que Ferguson classificou como o “melhor de todos os tempos”.