Quando Telê treinava o Palmeiras – Parte I

Quando Telê treinava o Palmeiras – Parte I

Ídolo do São Paulo, Telê coleciona duas passagens pelo rival Palmeiras. Confira como foi a primeira, no fim da década de 70.

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Quando Filpo Nuñez deixou o Palmeiras em 1979, em meio à disputa do Campeonato Paulista do ano anterior (que se estendeu devido ao Mundial de 78), os palestrinos estavam indignados. Mal-acostumados pelas Academias das décadas de 60 e 70, exigiam futebol de primeira classe e títulos importantes a todo momento.

Não era o que se via naquele momento. O Palmeiras já não contava mais com os craques de outrora, quase todos aposentados. Era um time modesto. Um apanhado de jogadores sem grife, mas que não eram ruins, dispostos em um jogo coletivo que não empolgava.

Pior que isso: o rival Corinthians havia saído da fila em 1977 e voltado a disputar títulos com competitividade. Já havia vencido o primeiro turno do estadual. No segundo, o Palmeiras ficou muito distante da classificação. Era hora de trocar o técnico.

Veio o casamento dos sonhos para a torcida alviverde: Telê Santana, o técnico do “jogo bonito”. Um homem irredutível em suas convicções. Não gostava de ser campeão jogando feio, de forma alguma.

Talvez por isso, à época, Telê ainda não somasse muitos títulos como treinador. Mas seu currículo já era respeitável. Prestes a completar dez anos de carreira, somava um Campeonato Carioca (1969), um Mineiro (1970), um Brasileiro (1971) e um Gaúcho (1977).

Jorge Mendonça e Telê Santana (Foto: Reprodução/Placar)
Jorge Mendonça e Telê Santana (Foto: Reprodução/Placar)

Chegou dizendo que queria que o Palmeiras jogasse como um time. Troca de passes, cadência, nada de correria. Nada de violência. Um jogo leal, à moda antiga. Queria um time que jogasse para a frente e lembrasse os tempos áureos do clube.

A missão era árdua. Encontrou Marinho Perez, Jorge Mendonça e Toninho como nomes mais consolidados. Mas Telê era um professor, e não um entregador de coletes. Estava convicto de que faria aquele time jogar bola.

Veio o terceiro turno daquele longo Paulista 78, estendido até a metade de 79 devido à Copa de 78 e à confusão que era – e ainda é – a Federação Paulista de Futebol. Era a chance da redenção: afinal, os dois primeiros turnos apenas serviram para classificar as equipes para o terceiro. E o Palmeiras tinha conseguido.

Telê foi rápido. Fez com que a equipe adotasse sua filosofia em poucas semanas, dentro e fora dos campos. Certa vez, Jorge Mendonça e Zé Mario discutiram asperamente depois de uma dividida forte em um treino. Na véspera do jogo seguinte, o técnico colocou os dois para dividir quarto. “Para aprender que o jogo é coletivo”, explicou à Folha de S. Paulo. “E que não gosto de violência”.

O Alviverde terminou o terceiro turno não apenas como líder de seu grupo, mas também como líder geral. Foi para a semifinal com mando de campo e favoritismo diante do São Paulo, mas a retranca tricolor funcionou e Serginho Chulapa fez o gol da classificação – e único do jogo – durante a prorrogação. Na final, foram derrotados pelo Santos.

Com isso, restou ao Palmeiras focar no Paulistão de 1979 e no Brasileirão do mesmo ano. Como havia sido vice no ano anterior, o time entrou diretamente na terceira fase, no qual um grupo de quatro equipes definiria um dos semifinalistas.

O Verdão novamente sobrou. Fosse pontos corridos e Telê já teria conquistado seu segundo título no clube. Liderou com folga um grupo formado por Comercial-SP, São Bento e o temido Flamengo de Zico, tido como favorito. Levaram de 4 a 1 dos palestrinos em pleno Maracanã.

A incrível campanha foi comprovada em números: em três jogos, foram 13 gols marcados, e apenas dois sofridos. Telê definitivamente havia feito o modesto time do Palmeiras a praticar o futebol mais bonito de São Paulo, e um dos melhores do Brasil naquela época. Para ele, sua passagem havia dado certo.

Na semi, o grande desafio: o Internacional de Falcão, Jair, Valdomiro, Mário Sérgio e cia. Já eram bicampeões nacionais, buscavam o terceiro título e estavam invictos. Eliminaram o Palmeiras, mas o time de Telê caiu em pé: 1 a 1 e 3 a 2, dando muito trabalho aos colorados.

Após a derrota, Telê foi compreensivo. Admitiu a superioridade do adversário, apontando o Internacional como um dos times de futebol mais bonito do país, ao lado de Flamengo e…. Palmeiras.

No Paulistão, mais uma classificação sem sustos para a semifinal. Na fase decisiva, enfrentaram o Corinthians de Sócrates, Biro-Biro, Wladimir e Zé Maria. Empataram o primeiro jogo em 1 a 1, mas perderam o segundo por 1 a 0. O Corinthians seria campeão diante da Ponte.

A curta primeira história de Telê no Palmeiras foi proveitosa, mas terminou ali. Não por demissão – longe disso – mas por um convite especial. O Palmeiras foi tão bem que o técnico acabou sendo chamado para a Seleção Brasileira em fevereiro de 1980. Convite irrecusável. E que entraria para a história…

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