Pelas razões erradas, “Paixões Unidas” é um perfeito retrato da FIFA

    Pelas razões erradas, “Paixões Unidas” é um perfeito retrato da FIFA

    Sem inspiração, filme conta a história da entidade máxima do futebol

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    Logo nos primeiros segundos de “Paixões Unidas”, as seguintes palavras aparecem sob um fundo preto: “Apesar dessa história ser inspirada em eventos e pessoas reais, alguns personagens, cenas e diálogos representam um trabalho de ficção dramática.”

    Uma mera formalidade, desnecessária para qualquer um que saiba, mesmo que de forma superficial, sobre o que se passa na FIFA, a homenageada do filme.

    Mas por todo o contexto por trás da organização e o péssimo timing do lançamento da obra, feito em meio ao estouro de um enorme escândalo de corrupção, a história deixa de ser uma mera homenagem.

    Tudo é mostrado em uma cronologia linear pelo diretor Fréderic Auburtin. Desde os primórdios da FIFA, com a fundação em 1904, até meados dos anos 2000, com o futebol já consagrado como esporte mais popular do mundo.

    O filme conta com um roteiro preguiçoso, que se limita a mostrar a evolução da entidade através de diálogos forçados e uma trilha sonora dramática enjoativa que cobre todas as cenas.

    Nem mesmo alguns nomes de peso conseguem sustentar “Paixões Unidas”. Atores com trajetórias sólidas, como Gérard Depardieu, Sam Neill e Tim Roth, acabam desfavorecidos pela falta de profundidade dos personagens que interpretam, resultando, possivelmente, no ponto mais baixo de suas carreiras.

    Na tela, eles vivem três presidentes icônicos da FIFA, cada um deles retratado de maneira superficial: Jules Rimet (o “sonhador”), João Havelange (o “político”) e Joseph Blatter (o “administrador”).

    Não se pode dizer que não foi feito ao menos um esforço para deixar o filme menos “chapa branca” e  mais imparcial. Em certo ponto, discutem-se as denúncias de corrupção feitas contra a entidade a partir dos anos 80.

    Mas este esforço mostra-se inútil ao final, ao passo que a conclusão deixada é que Havelange e Blatter não passavam de vítimas de um complô de “traidores” dentro da Federação.

    Não é por acaso, por exemplo, que as cenas finais trazem a imagem de um Blatter triunfante após vencer as eleições para a presidência da FIFA em 2002, somando-se a um discurso de inclusão das minorias no futebol.

    Em resumo, fãs de futebol provavelmente não devem gostar de “Paixões Unidas”, pois não se trata de um tributo ao esporte, e sim a quem o comanda.

    Fãs de cinema também devem ficar descontentes, já que não há nenhum traço de criatividade tanto na abordagem quanto na filmagem em si.

    De fato, o filme é uma ótima representação do tão falado “Padrão FIFA”, já que não passa de uma maquiagem passada para encobrir uma realidade em que a paixão do torcedor é cada vez mais deixada em segundo plano.

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