Desde que entramos na era das Arenas, o costume de se homenagear pessoas no nome dos estádios tornou-se obsoleto, dando lugar ao nome de empresas, ou, simplesmente, de “Arena <nome do clube>”.
Mas afinal, qual era a fonte de inspiração dos estádios antigos? O Alambrado inicia a série abaixo com a origem dos nomes dos principais estádios do estado de São Paulo, facilmente reconhecidos pelo nome de seus homenageados. Confira:
Estádio Paulo Machado de Carvalho
Mais famoso dentre os homenageados com nomes em estádio, o empresário que batiza o Pacaembu é uma das figuras mais importantes dentre os cartolas do futebol brasileiro no século XX.
São inúmeras as lendas que envolvem o empresário, como a de que teria dito aos jogadores, antes da final da Copa de 58, que a inédita camisa azul traria sorte, como o manto de Nossa Senhora, ou do uso constante de seu infalível “terno marrom da sorte”.
Fato é que o ex-presidente do São Paulo teve grandes contribuições para o bicampeonato mundial da seleção brasileira em 58 e 62, como chefe de delegação. Na carreira de empresário, foi o fundador da Rede Record, a qual vendeu a Edir Macedo alguns anos antes de sua morte, que aconteceu em 1992.
Estádio Urbano Caldeira
O nome oficial da Vila Belmiro é uma das mais justas homenagens em nomes de estádio: Urbano Caldeira talvez tenha sido a pessoa que mais se dedicou ao Santos, especialmente em tempos românticos, de amadorismo.
Transferido de seu trabalho, de São Paulo para Santos, Urbano gostava de jogar futebol e se associou ao clube da cidade. Na era amadora, virou goleiro do time, depois treinador, depois dirigente. Conta-se que a dedicação era tamanha que o ex-jogador era visto aparando o gramado do campo, plantando árvores e cuidando dos jardins da sede santista.
A morte precoce de Urbano, aos 43 anos, comoveu toda a cidade santista. Dias depois, a Vila passaria a levar o nome de seu torcedor número um.
Estádio Cícero Pompeu de Toledo
Assim como o Santos, o São Paulo também fez uma homenagem póstuma no batismo do Morumbi. Cícero foi o presidente mais respeitado da história do clube, entre as décadas de 40 e 50, e foi o principal responsável por consolidar a equipe no patamar dos grandes do Brasil.
O próprio dirigente iniciou o projeto do estádio, mas não pode vê-lo terminado – morreu em 58, dois anos antes da inauguração. Não por acaso, o São Paulo passou um longo jejum de 13 anos sem títulos após seu afastamento, em 1957, já com a saúde debilitada. Somada à hegemonia do Santos de Pelé e da academia palmeirense, a equipe só voltou a ser campeã paulista em 1970.
Até hoje, Cícero conta com o cargo de presidente de honra do São Paulo, título que jamais será destituído.
Estádio Moisés Lucarelli
Outra homenagem a um dirigente, desta vez em vida: Moysés Lucarelli, o maior dos torcedores da Ponte Preta. Incomodado com as piadas sobre seu clube não ter estádio para jogar, o dirigente dedicou boa parte da vida no projeto de construção do campo.
O dirigente, que nunca chegou a presidir o clube, conseguiu o dinheiro após anos de boca a boca, na tentativa de convencer sócios a fazerem doações, e a moradores da cidade a se associar ao clube. Durante a construção, fiscalizou as obras dia a dia. Outros tempos.
Depois de muito esforço, o estádio não só foi construído, como também apelidado de “Majestoso”, por ser, à época, o terceiro maior do Brasil, atrás somente do Pacaembu e de São Januário. Lucarelli, no entanto, recusava fortemente a ideia de que dessem seu nome ao estádio, algo que aconteceu “às escondidas” – a diretoria aproveitou uma ausência do dirigente na cidade para fazer a homenagem.
Estádio Jayme Cintra
Inaugurado em 1957, o estádio do Paulista homenageia o engenheiro Jayme Pinheiro de Ulhôa Cintra – natural de Campinas, e não de Jundiaí. Cintra foi um dos engenheiros responsáveis pelo projeto, mas não recebeu a homenagem apenas por isso.
O engenheiro foi escolhido por uma relação histórica e sentimental com o clube, já que presidiu a Companhia Paulista de Estradas de Ferro, que tinha sede operacional em Jundiaí. O Paulista foi fundado em 1909 por funcionários da antiga empresa, que operava a mais extensa – e importante – malha ferroviária do país entre meados dos séculos XIX e XX.
Estádio Décio Vitta
O estádio do Rio Branco foi batizado com o nome do principal responsável por sua construção: Décio Vitta, que foi conselheiro e diretor do clube nos anos 80.
Décio coordenou a operação de construção e de troca de terreno – o antigo estádio do clube foi cedido ao Estado para a construção de uma escola. Em troca, o governo paulista cedeu o terreno para o novo campo.
Estádio Novelli Júnior
Aqui, a homenagem foi política. O estádio pertence à prefeitura de Itu, que batizou o local com o nome do médico Luiz Gonzaga Novelli Júnior, que tem ampla história no cenário político brasileiro – participou da Revolução Constitucionalista de 32 e foi deputado federal.
Novelli teria ajudado a diretoria do então único clube profissional da cidade, o extinto Clube Atlético Ituano, a montar o time que subiu para uma divisão intermediária do futebol paulista em 1955. A equipe, porém, deixou o futebol a partir de 1965.
O futebol só voltaria na cidade a partir de 1977, quando o atual Ituano Futebol Clube foi alçado ao profissionalismo, mas o nome do estádio não foi alterado.
Walter Ribeiro
Walter Ribeiro foi um dos maiores jornalistas esportivos da cidade de Sorocaba, tendo acompanhado ativamente a vida do São Bento. Sua morte em um acidente de carro, em 1975, comoveu a cidade.
Três anos mais tarde, o Centro de Integração Comunitário (“CIC”) foi inaugurado pela prefeitura e acabou levando o nome do jornalista, que não chegou a conhecer o outro clube da cidade, o Atlético Sorocaba, fundado em 1991.
Estádio Barão de Serra Negra
Francisco José da Conceição, o Barão de Serra Negra, provavelmente nunca imaginou que um dia daria nome a um estádio de futebol, que receberia os jogos de uma equipe que nunca conheceu – o XV de Piracicaba, fundado em 1913, 13 anos após sua morte.
Recebeu o título de nobreza do Império e foi, por muitos anos, o cidadão mais ilustre de Piracicaba. Conservador, escravocrata e monarquista, o Barão recebeu a homenagem em 1965, quando estádio foi fundado, por ideia da prefeitura.
Estádio Nabi Abi Chedid
O clã Chedid é um dos mais onipresentes na história do Bragantino, fundado em 1928, em conjunto com a família Bonucci. O primeiro presidente foi Hafiz Abi Chedid, seguido décadas depois por seus descendentes, como Jesus, Nabi e o atual presidente, Marco Antônio.
A ligação de Nabi, nascido no Líbano, assim como de toda a família, sempre esteve intrinsecamente ligada à política e ao futebol. Nabi foi vereador, deputado, presidente do Bragantino, presidente da Federação Paulista e vice da CBF e da Conmebol.
Marquinho, então presidente do clube, mudou o nome do estádio em 2009, para homenagear o pai, falecido em 2006. Anteriormente, o estádio era chamado desde 1949 de Marcelo Stéfani, nome de um ex-jogador e ex-presidente do clube.
Estádio Conde Rodolfo Crespi
O tradicionalíssimo estádio que testemunhou o mais bonito gol de Pelé leva em seu nome uma homenagem a um dos incentivadores para a criação do clube. Rodolfo Crespi era o dono da fábrica têxtil Cotonifício Crespi, que originou o Juventus – a fundação veio dos funcionários da empresa da Mooca, mas com o apoio do patrão.
O estádio foi inaugurado com esse nome em 1929, e mantém o nome desde então. Rodolfo Crespi, falecido em 1939, recebeu o título de presidente honorário perpétuo do clube.