Líder da 2ª Liga, Porto B expõe peculiaridades do Português

Líder da 2ª Liga, Porto B expõe peculiaridades do Português

Desmanche do time em meio ao torneio, estágio da base, público quase inexistente: conheça os pormenores da segunda divisão de Portugal.

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Dentre as ligas europeias de futebol, nenhuma outra possui clubes tão povoados quanto a liga portuguesa. São dezenas e dezenas de atletas por cada equipe. Algo que parece um tanto contraditório, tendo em vista o tamanho de Portugal – sua população total chega a pouco mais que 80% a da capital de São Paulo, por exemplo.

O que fazer com tantos atletas, então? A resposta é dividir em duas equipes. É tradição que os times que comumente frequentem a primeira divisão contem com times reservas fortes, disputando a liga nacional profissional.

Isso não é exclusivo de Portugal, mas é notória a rotatividade dos jogadores entre o time principal e o time reserva – o que não acontece com tanta frequência em gigantes como Barcelona e Real Madrid.

Zagueiro Victor García em ação pelo time B do FC Porto (Foto: Divulgação)
Zagueiro Victor García em ação pelo time B do FC Porto (Foto: Divulgação)

O modelo português é muito próximo ao da D-League, da NBA: O time reserva é uma espécie de estágio para jogadores que inicialmente não seriam aproveitados por seus técnicos na temporada. Na ausência de astros por motivos diversos ou simplesmente por bom desempenho na liga inferior, os reservas são chamados à equipe principal.

Nenhum time representa tanto isso quanto o Porto B na atual temporada. Se o time principal não vai tão bem, o mesmo não pode ser dito sobre o time reserva. A equipe lidera a segunda divisão portuguesa, e, caso pudesse disputar a primeira, certamente estaria no pelotão de cima.

Em 2015, no início da temporada 15-16, o time sobrou. Foram três meses de invencibilidade: de 30 de agosto a 2 de dezembro, o Porto B somou 13 vitórias e quatro empates. Virou líder com folga e chamou a atenção em um período em que o time principal patinava – a má fase culminou na demissão do técnico Julen Lopetegui, em janeiro deste ano.

A fase impecável do time reserva, no entanto, culminou em algo mais do que esperado: o Porto B passou a perder seus jogadores. Alguns subiram para o time principal. Outros foram emprestados para outros times, para que fossem testados em jogos mais competitivos. A maioria, para a primeira divisão portuguesa.

Ao todo, 41 jogadores passaram pelo time B nesta temporada. 19 deles não estão mais no elenco, a maioria emprestada a equipes da primeira divisão. O que não aconteceu com o zagueiro Victor García, com o meia Francisco Ramos e com o atacante André Silva.

O trio foi promovido para a equipe principal, embora ainda sejam utilizados pelo plantel reserva quando liberados pelo técnico José Peseiro. O venezuelano García está em sua segunda chance no Porto. Já havia subido em 2013/14, mas não conseguiu se estabilizar.

Francisco Ramos, por sua vez, é uma das esperanças da equipe para o futuro. O meia de 20 anos foi eleito em 2015 como o melhor jogador das categorias de base do Porto e era o principal jogador da excelente campanha do Porto B na Segunda Liga. Com a promoção, espera oportunidades para mostrar seu valor.

Luis Castro, técnico do Porto B (Foto: Reprodução)
Luis Castro, técnico do Porto B (Foto: Reprodução)

Já André Silva, o primeiro a subir, era o artilheiro da segunda divisão. Obviamente, não teve o mesmo sucesso time principal. Recebeu propostas de Rio Ave e Marítimo na última janela, mas acabou sendo mantido pela direção do clube. Agora depende de contusões dos titulares para voltar ao time principal. Fica de sobreaviso no time B.

Consequentemente, o Porto B acabou desfigurado ao final da última janela. Ainda lidera a segunda divisão, mas com apenas um ponde de vantagem em relação ao Chaves. O desempenho não é o mesmo, e a média de idade do time caiu.

Isso evidencia outra peculiar característica da liga portuguesa: é muito raro um jovem da base saltar das chamadas “camadas jovens” diretamente para o time principal. É quase obrigatória a passagem pelo time B. E, nessas horas de entressafra do time reserva, a solução é ir buscar atletas da base.

Mesmo jogadores badalados, caso de Rubén Neves, de 18 anos, que atualmente é um dos principais nomes do Porto, passam pelo time reserva antes de subir. Com isso, estão mais experientes quando chegam ao time principal. Se dá certo ou não, é outra história.

Modelo português no Brasil

Mas porque, afinal, os clubes brasileiros não seguem o modelo europeu para dar mais experiência aos garotos que vêm da base? Por uma série de fatores. Hoje, os chamados times reservas brasileiros são basicamente os sub-20 que disputam a Copa São Paulo.

Houve uma época em que alguns desses sub-20 passaram a jogar divisões inferiores de competições estaduais. O caso mais notório é o Corinthians B, campeão da Série B3 do Paulista de 2001. Com a exclusão de algumas divisões do Paulistão pela Federação Paulista, a equipe voltou a frequentar torneios de base.

Colocar esses times para jogar torneios profissionais até é possível, mas é um considerável gasto a mais para os grandes do futebol brasileiro. Para isso, é preciso planejamento, finanças em dia e organização. Raro de se encontrar.

Estádio vazio, característica da Segunda Liga de Portugal (Foto: Divulgação)
Estádio vazio, característica da Segunda Liga de Portugal (Foto: Divulgação)

Outra forte razão contra o modelo é que, atualmente, é impossível que times B disputem o Brasileirão. Para isso, é preciso uma boa colocação na primeira divisão estadual, e as equipes reservas são impedidas de disputar divisões iguais ou acima dos times principais, inclusive a nível estadual.

Há um bom motivo para isso, diga-se:  Portugal é 20 vezes menor que o Brasil em termos populacionais. Consequentemente, a quantidade de times lusos é infinitamente menor, o que justifica o sucesso dos times B no país. Dois pesos e duas medidas.

Sucesso esse que é meramente esportivo para os atletas da base. A nível de público, o Porto B conta com uma média de 409 espectadores por jogo nesta que é uma de suas melhores temporadas nos últimos anos. Número inferior à de muitos clubes de estaduais menores brasileiros. Ou seja: os times bês simplesmente não têm torcida.

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