O São Paulo que calou gigantes nos anos 90 – Parte 1

O São Paulo que calou gigantes nos anos 90 – Parte 1

Tricolor elevou o patamar da Libertadores da América no Brasil ao conquistar a competição

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Nos últimos anos o São Paulo vem deixando a desejar. Não parece o time que, ainda hoje, é considerado “Soberano”. Mesmo após a conquista da Copa Sul-Americana, em 2012. Fracas campanhas, jogadores limitados, que de maneira alguma merecem vestir a camisa Tricolor, problemas administrativos… Muitos são os fatores para a crise que se instalou no Clube da Fé. No entanto, num passado um pouco distante, o torcedor são paulino já teve motivo de sobra para vibrar com seu time. Relembre conosco.

Foi nos anos 90 que um dos maiores momentos da gloriosa história do São Paulo aconteceu. Primeiramente, seria vice-campeão brasileiro em 1989 e 1990, após perder para Vasco e também o valente Corinthians, respectivamente. Depois, as conquistas dos campeonatos Brasileiro e Paulista em 91. No entanto, sem dúvidas, os anos que não saem das cabeças dos são paulinos são 92 e 93, e você, que não torce para o Tricolor e não faz ideia do que estou falando, saberá.

Campeão brasileiro do ano passado, o São Paulo disputaria então a Copa Libertadores da América 92, a qual nunca havia vencido e também fora vice-campeão em 1974 ao perder para o Independiente-ARG. Telê Santana, que viria a se consagrar como o maior técnico da história do clube, estava incumbido de dar ao Soberano o título inédito da Libertadores.

O time base de 92-93 era: Zetti; Cafu, Adílson (Válber), Ronaldão e Ronaldo Luís (André Luiz); Pintado (Doriva), Dinho, Cerezo e Raí (Leonardo); Muller e Palhinha. Raí e Cerezo eram os craques do time. Muller e Palhinha os artilheiros. Ronaldão, o xerifão. E Zetti a muralha. Era um timaço.

Mas a jornada não começaria muito boa para o Tricolor. Logo na estreia, derrota acachapante de 3 a 0 para o Criciúma, campeão da Copa do Brasil no ano anterior. Mas depois viria uma vitória contra o San José-BOL por 3 a 0, empate com o Bolívar-BOL em 1 a 1, goleada sobre o Cricúma por 4 a 0, empate com San José e outra vitória, desta vez sobre o Bolívar. Desta maneira, o Tricolor ficava em segundo do grupo, classificando-se para as oitavas de final.

Vale lembrar que a Libertadores, naquela época, ainda não era tão recheada como hoje. Em 92, eram apenas três grupos, um com cinco clubes e os demais com quatro. Hoje são oito grupos com quatro clubes.

O caminho para o título seguiria difícil, espinhoso. O confronto das oitavas seria nada menos que o tradicional Nacional-URU. Porém, o São Paulo venceria os dois jogos: 1 a 0 e 2 a 0. Depois, nas quartas, novamente o Criciúma, pedra no sapato Tricolor. Contudo, o São Paulo venceria a primeira partida e empataria a segunda, chegando às semifinais da Libertadores. O título estava perto.

As semifinais seriam contra o Barcelona de Guayaquil-EQU. No Morumbi, vitória esmagadora por 3 a 0, a classificação estava encaminhada. Mas o que seria da vida sem a emoção, não é mesmo? E na partida de volta, o São Paulo perderia por 2 a 0, mas chegaria às finais por conta do saldo de gols.

A decisão seria contra o Newell’s Old Boys-ARG, sendo o primeiro jogo disputado em solo hermano.  Vale lembrar que o treinador do clube argentino era ele, Marcelo “El Loco” Bielsa. No primeiro jogo, vitória por 1 a 0 do Newell’s, gol de Berizzo, de pênalti. Para ser campeão, o São Paulo precisava vencer por 2 a 0, do contrário, a partida iria para os pênaltis.

Veio então a decisão. O Morumbi estava lotado com mais de 105 mil pagantes. Coincidência ou não, o São Paulo venceria também por 1 a 0, gol de Raí, também de pênalti. E o campeão sairia dos pênaltis.

Jogadores comemoram marcação de pênalti para o Tricolor (Foto: Reprodução)
Jogadores comemoram marcação de pênalti para o Tricolor (Foto: Reprodução)

Quem daria início às cobranças seria o Newell’s, justamente com Berizzo, que havia dado a vitória no primeiro jogo com um gol de pênalti. Acontece que desta vez ele erraria, acertando a trave. Festa no Morumbi! No São Paulo, Raí seria o primeiro a bater. E o craque tricolor não decepcionaria. 1 a 0. Zamora converteria a segunda cobrança argentina. Ivan, lateral-esquerdo, também. 2 a 1.

A terceira cobrança seria do volante Llop, que marcaria para os argentinos. Então, era a vez de Ronaldão dar continuidade na vantagem brasileira. Só que não. Ele chutaria no meio, nas mãos do goleiro Scoponi, que cá entre nós, tinha um cabelo pra lá de engraçado. Viria Mendoza para abrir a quarta cobrança da decisão por pênaltis. E de maneira bisonha ele chutaria por cima do gol de Zetti. Cafú, o capitão do penta, que ainda não era nem tetra, converteria para o Tricolor. 3 a 2 para o Tricolor!

Chegava a quinta e derradeira cobrança. Gamboa, um dos principais jogadores do clube, estava encarregado de bater. Se ele errasse, o São Paulo conquistava a sua primeira Libertadores da América. Gamboa cobrou e Zetti defendeu. Para delírio do Tricolor que estava no Morumbi, no Rio Grande do Sul, na Alemanha, na China, em qualquer lugar do planeta terra. O São Paulo conquistava pela primeira vez em sua história a Libertadores da América.

Jogadores vibram na decisão por pênaltis (Foto: Reprodução)
Jogadores vibram na decisão por pênaltis (Foto: Reprodução)

Era a consagração de Zetti, de Raí. E o que falar do abraço emocionado de Raí em Telê Santana? Indescritível! Mas viria mais no final do ano…

 

Esquadrão Tricolor para a decisão contra o Barça (Foto: Reprodução)
Esquadrão Tricolor para a decisão contra o Barça (Foto: Reprodução)

Chegaria o mês de dezembro e, como vocês bem sabem, no último mês do ano acontece o Mundial de Clubes que, em 1992, era disputado entre o campeão europeu e o campeão da América. Sendo assim, Barcelona-ESP e São Paulo se enfrentariam pelo título mundial. Barcelona comandado por craques como o goleiro Zubizarreta, que menosprezou Zetti antes do jogo não o cumprimentando, Stoichkov, Laudrup, Koeman, entre outros.

Raí encara a marcação de Koeman na decisão (Foto: Reprodução)
Raí encara a marcação de Koeman na decisão (Foto: Reprodução)

O Barça inauguraria o marcador em Tóquio, no Japão, aos 12 minutos do primeiro tempo, gol do búlgaro Stoichkov, um chute colocado no ângulo de Zetti, golaço, aço! Mas então Muller, aos 27 minutos, avançaria pela ponta-esquerda, cruzando para Raí cabecear e empatar a partida. O São Paulo estava vivo!

Mas as equipes iriam empatadas para os vestiários. O jogo ficaria emocionante no segundo tempo, com ambos procurando definir o resultado ainda no tempo normal. Aconteceria, então, uma falta perigosa a favor do São Paulo contra os espanhois. Raí na cobrança. Torcida esperançosa. Golaço. No ângulo de Zubizarreta. Era a virada. O gol do título. Alegria de Telê no banco de reservas.

O camisa 10 vira para o São Paulo e garante o título do Mundial! (Foto: Reprodução)
O camisa 10 vira para o São Paulo e garante o título do Mundial! (Foto: Reprodução)

Então foi só esperar o apito final, que veio, e deixou os torcedores tricolores soltarem, pela primeira vez, o grito “É CAMPEÃO DO MUNDO!”.

Reveja as decisões da Libertadores e do Mundial:

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