Falar do futebol do leste europeu sempre requer muito estudo e análise da situação econômica e social do país em questão. Porém, é impossível não admirar o espírito e a paixão pela bola que possui essa região da Europa.
Devastada por guerras e conflitos étnicos, a Bósnia-Herzegovina retrata bem esse panorama. Antiga república da Iugoslávia, A Bósnia só se tornou independente em 1992. Três anos mais tarde, a seleção local fazia sua estreia em jogos oficiais em uma vitória diante da Albânia.
De lá pra cá, são 20 anos lutando por uma evolução cada vez maior no futebol nacional e, claro, por vagas em competições de alto nível. Enquanto o crescimento das equipes locais não é correspondente aos talentosos jogadores que por lá surgem, a seleção nacional monta times competitivos com muitos jogadores se destacando em grandes equipes europeias.
O ápice da guerra vencida pelo futebol foi a presença dos bósnios na Copa do Mundo de 2014. Feito inédito e motivo de alegria para a nação de pouco mais de três milhões de habitantes. Mesmo após a queda na primeira fase, o time que era cercado de expectativas conseguiu a sua primeira vitória na competição.
Com a empolgação gerada pelo bom desempenho da geração dourada, os bósnios esperavam uma campanha tranquila no grupo B das Eliminatórias para a Eurocopa 2016 – torneio que nunca disputaram. A chave conta com Bélgica, Israel, País de Gales, Chipre e Andorra.
Grupo teoricamente fácil. Porém, campanha difícil de aceitar. Nos quatro primeiros jogos, dois empates e duas derrotas. O primeiro revés foi em casa e para o Chipre por 2 a 1. Na quarta partida, goleada sofrida para Israel por 3 a 0 e fim de paciência com o técnico Safet Susic.
Já muito questionado durante a Copa do Mundo, o técnico não resistiu a péssima campanha depois do Mundial e deu lugar a Mehmed Baždarević. O bósnio de 54 anos não tem um currículo tão bom como técnico. Os trabalhos mais notáveis foram com os franceses do Istres em 2003/2004 e o Grenoble 2007/2008, todos na segunda divisão.
Em contrapartida, foi um dos bons jogadores da Iugoslávia na década de 80 e tem parte da confiança da torcida e imprensa local. Adepto do 4-2-3-1, Baždarević também tem o tradicional 4-4-2 como carta na manga. E isso foi visto no seu primeiro jogo contra Andorra, com Ibisevic e Dzeko espetados na área.
Nesta partida, a Bósnia respirou. 3 a 0 contra os fracos adversários. Três gols do ídolo Dzeko, do Manchester City, com três passes do ótimo Lulic, da Lazio. Logo depois, em amistoso realizado na Áustria contra os donos da casa, empate por 1 a 1 que deixou os torcedores mais animados. Hajrovic, do Werder Bremen, anotou o gol.
Com apenas a quinta colocação no grupo, a Bósnia luta contra o tempo para se classificar, no mínimo, para a repescagem da Eurocopa 2016. Para isto, precisa vencer praticamente todos os seus últimos cinco jogos. A distância para Israel, terceiro colocado, é de quatro pontos. Os líderes Bélgica e País de Gales somam 11.
Geração envelhecida e novos nomes
Alguns motivos explicam tal queda de rendimento. Além do visível envelhecimento da geração dourada, exposto pela aposentadoria de Misimovic (jogador com mais partidas na seleção e grande ídolo do país), alguns jogadores já rompem a barreira dos 30 anos. Mensur Mujdža, 31, Emir Spahic, 34, Sejad Salihović, 30, Sejad Salihović, 30, e Vedad Ibišević, 30, são os exemplos.
Soma-se a isso a má fase de muitos desses principais jogadores e o desempenho ruim de Dzeko pelo Manchester City nesta temporada, e o cenário fica complicado para a seleção bósnia.
No entanto, o panorama não é tão negativo. A renovação vai acontecendo aos poucos. O treinador Bazdarevic já fez cinco mudanças em relação ao time que vinha jogando com Susic. Alguns novos nomes vão assumindo o protagonismo aos poucos.
A grande estrela entre os jovens é o meio-campista Besic, jogador do Everton. Com apenas 22 anos, fez 19 partidas com a seleção nacional e já é titular indiscutível. Hajrovic, 23, e Sven-Tino Susic, 23, também são jogadores que atuam pela seleção principal. O segundo é a grande esperança para o setor ofensivo.
Pjanic, de 25 anos, também é esperança. Sempre regular na seleção nacional, o cerebral meio-campista não passa por suas melhores fases na Roma, Mesmo assim, é sinônimo de talento e técnica e é referência da atual seleção.
Com Dzeko, Pjanic, Ibisevic e todos os outros soldados a Bósnia tenta mostrar ao mundo que os talentos da região do leste europeu ainda existem. A confirmação da boa fase até a Copa do Mundo virá através da inédita classificação para a Eurocopa. A próxima partida é vital. No dia 12 de junho os bósnios recebem Israel para um duelo de seis pontos. A recuperação deve começar neste jogo.
Futuro sorri nas seleções de base
Nas seleções inferiores, muitos talentos surgem a cada temporada. Apesar da não classificação para o Europeu da categoria Sub-17 deste ano – eliminação no saldo de gols para a Escócia na fase Elite Round – um jogador ganhou os holofotes. Zinedin Mustedanagic foi o grande destaque. Além dos dois gols, muita técnica e classe do camisa 10 do Sparta Praga.
Seid Behram, do Zeljeznicar, é outro muito citado. Conhecido como Messi da Bósnia, ele possui muita habilidade e velocidade atuando pelas pontas. Frágil fisicamente, precisa de um pouco mais de experiência para atuar nas equipes principais.
No sub-19, a dupla Amer Gojak, do Dínamo Zagreb, e Andrej Modic, do poderoso Milan, são certeza de talento no meio-campo da seleção bósnia. Após passar pela fase de qualificação, o próximo passo é o Elite Round. A seleção tem totais condições de conseguir vaga para a Eurocopa da categoria.