Foram 78 minutos. Um período um pouco menor do que a duração de uma partida de futebol. Esse foi o tempo em que o coração de Fabrice Muamba, então volante do Bolton-ING, ficou parado após um mal súbito durante um jogo da Copa da Inglaterra contra o Tottenham, no estádio White Hart Lane.
A comoção que tomou conta dos atletas e do público impediu que a partida continuasse a ser realizada após os primeiros socorros serem prestados ao jogador. O assunto tomou conta das redes sociais, e a falta de notícias imediatamente após o ocorrido só aumentou a apreensão de quem torcia por uma recuperação milagrosa do atleta. E ela veio. Em 16 de abril de 2012, quase um mês após o incidente, ele era liberado do hospital.
Com apenas 25 anos, no entanto, Muamba seria obrigado a largar os gramados por conta de sua condição cardíaca, seguindo conselhos de médicos especialistas, que consideraram que ele não deveria abusar da sorte. Acatou os pedidos, mas pensou em uma forma de não largar de vez o esporte que amava e a quem tinha dedicado a maior parte de sua vida.
Matriculou-se no curso de jornalismo da Universidade de Staffordshire, e no último dia 08 conquistou seu diploma como bacharel honorário. A partir de então, Muamba está oficialmente habilitado a escrever e participar de transmissões esportivas, trazendo para a imprensa as experiências que teve em sua breve carreira.
“Com os contatos que ele tem e o carinho que as pessoas do meio têm por ele, vai acabar tendo um bônus nessa nova carreira”, explica Ian Bayley, um dos professores de Muamba durante o curso. Segundo ele, o ex-atleta chegou a fazer reportagens em entrevistas coletivas antes mesmo de iniciar a faculdade, mas os estudos “deram experiência dos macetes e dos atalhos do jornalismo esportivo, particularmente na escrita”.
Nascido na República Democrática do Congo (antigo Zaire), Muamba se mudou com a família para a Inglaterra aos 11 anos, em 1999, após seu pai pedir asilo político por conta de suas visões sobre o que acontecia na nação africana. Mesmo sem saber falar o idioma local quando chegou no país britânico, o jovem tirava notas máximas em Inglês, Francês e Matemática. Defendeu as seleções de base da Inglaterra por nove anos, além de ter passagens por Arsenal e Birmingham antes de chegar ao Bolton.
Não é possível determinar qual seria o destino de Muamba se ele não tivesse abandonado os gramados. Talvez tivesse uma carreira sólida, ou fosse lembrado apenas como um sobrevivente, com todos os olhares em sua direção apreensivos, temendo um novo ataque. Mas ele resolveu ditar o próprio destino, e mostrar que a ligação com o futebol vai muito além da bola no pé.