O “Jogo do Ódio” entre argelinos e egípcios

O “Jogo do Ódio” entre argelinos e egípcios

Rivalidade entre os países chegou ao ápice em 1989 e resultou até em condenação de ídolo argelino

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Duelo ficou marcado pela tensão envolvendo os dois países (Foto: Reprodução)
Duelo ficou marcado pela tensão envolvendo os dois países (Foto: Reprodução)

O Egito, embora seja o país africano mais bem-sucedido no continente, não consegue traduzir o êxito local em participações mundialistas. A vaga para o torneio que será disputado na Rússia, em 2018, é apenas a terceira na história dos Faraós, depois das experiências de 1934 e 1990. A última delas, a propósito, ficou marcada por um episódio que entrou para a história sob a infame alcunha de “Jogo do Ódio”, diante da Argélia.

Nas última fase das Eliminatórias para a Copa na Itália, em 1989, os representantes da África seriam definidos através de partidas de ida e volta entre os líderes de cada grupo. Enquanto Camarões duelou contra a Tunísia para carimbar seu passaporte, o Egito teve a concorrência das Raposas do Deserto, com quem já alimentava grande rivalidade por motivos históricos referente o processo de independência argelina durante os anos 1950.

Basicamente, vários países na época lutavam para se libertar do jugo imperialista. Na Argélia, muitos jogadores profissionais abandonaram seus clubes europeus e formaram uma equipe da Frente de Libertação Nacional (FLN), o movimento armado contra a ocupação francesa de seu território. O selecionado atuou no norte da África, na Ásia e no Leste Europeu com a ambição de divulgar o movimento revolucionário pelo mundo.

Se por um lado o governo do Egito apoiou a guerra de independência argelina através do presidente Gamal Abdel Nasser, a mesma postura não foi observada dentro dos campos, já que os Faraós se recusaram a medir forças com a FLN por temer eventuais represálias da FIFA, que não reconhecia o selecionado oficialmente e ameaçava punir quem o enfrentasse. À época, a o Egito era um dos membros fundadores da recém-criada CAF.

Dessa maneira, somada às crises diplomáticas que sempre permearam o futebol, a rivalidade entre os dois países cresceu ao longo dos anos até atingir seu ápice no referido duelo para a Copa do Mundo de 1990. Naquela altura, o Egito havia sido um dos últimos campeões continentais (1986), seu terceiro título, e a Argélia já participara de dois Mundiais seguidos (1982 e 1986), o que gerava ainda mais expectativa para o embate.

Na ida, realizada a 8 de outubro de 1989, ocorreu um empate a zero no Estádio Mohamed Hamlaoui, em Constantina. Tudo ficou para a volta, no dia 19 de novembro, diante de  125 mil torcedores no Estádio Internacional do Cairo. Logo no início, o atacante Hossam Hassan fez o gol solitário que selou a classificação dos locais, em jogada muito contestada pelos visitantes, que reclamaram de falta no goleiro deles durante o lance.

Inconformados, os argelinos, jogadores, corpo técnico e funcionários, partiram para cima da equipe de arbitragem – o juiz demorou cerca de oito minutos para chegar ao vestiário – e atiraram até vasos de terra contra as arquibancadas. O pandemônio se estendeu além dos gramados e deixou um médico egípcio cego de um olho. A culpa recaiu sobre o herói argelino Lakhdar Belloumi, condenado a cinco anos prisão por um tribunal do país.

Inclusive, o responsável pela histórica vitória da Argélia sobre a Alemanha por 2 a 1 na Copa do Mundo de 1982 chegou a entrar para a lista da Interpol, já que estava fora do Egito na época do julgamento. Ele só deixou de ser foragido pela organização internacional em abril de 2009, graças ao esforços dos governos das duas nações às vésperas de um novo encontro entre ambas pelas Eliminatórias da Copa de 2010.

Desde então, o encontro de Egito sempre é disputado sob tensão e imensa rivalidade. Não como antes, obviamente, mas as marcas daquela época perduram até a atualidade.

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Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero, é apreciador do futebol latino, do teor político-social do esporte bretão e também de seu lado histórico.