ABC e Guarani são clubes de grande tradição no cenário nacional. Mas o duelo entre as duas equipes, que acontece na semifinal da Série C deste ano, não pode ser tida naturalmente como um clássico.
O primeiro fator para isso, um tanto óbvio, é a localização geográfica. Enquanto um disputa o Potiguar, o outro disputa o Paulista. Na era pré-1990, quando os regionais ainda eram mais prestigiados que o Brasileirão, isso dificultava a disputa.
O outro é a barreira das divisões. Enquanto o Guarani manteve força e se estabilizou na Série A na década de 1990, o ABC não disputa a elite desde os confusos regulamentos dos anos 80.
O confronto só se tornou mais frequente a partir desta década. Entre Série B e Série C, os paulistas e os potiguares se encontram aqui e ali. A vantagem é ligeiramente maior para o time do Nordeste: três vitórias, dois empates e uma derrota em seis embates.
Mas isso não aconteceu somente a partir desta década. Se levar em conta a era moderna do Brasileirão, de 71 até hoje, o primeiro duelo entre as equipes aconteceu no longínquo 1977.
Os tempos eram outros. O Brasileirão contava com apenas uma única divisão. Naquele ano, 62 equipes participaram da competição, que era dividida em diferentes fases de grupo antes de chegar ao mata-mata. Classificação? Era por convite.
Seis grupos com 10 – dois com 11 – participantes formaram a primeira fase. Os cinco primeiros classificavam-se para a fase seguinte. As equipes eram divididas por sorteio, levando em conta uma distribuição semelhante à da Copa do Mundo – mas com regiões, ao invés de continentes.
Por acaso, ABC e América-RN, os representantes de seu estado, caíram no mesmo grupo – que também contava com o Guarani. Disputada em turno único, a primeira fase colocou ABC e Guarani frente a frente no Machadão – então Castelão, em homenagem ao ditador -, em Natal.
As duas equipes contavam com bons times. O Guarani contava com a base do time campeão brasileiro no ano seguinte. Nomes como Zenon e Renato já estavam na equipe – Careca só surgiria em 1978.
No Paulistão de 76, a equipe por pouco não disputou a final contra o Palmeiras comandado por Dudu. Ficou com um ponto a menos que o XV de Piracicaba, derrotado pelo campeão. Já o ABC era o atual campeão estadual, tendo levado a taça em cima do arquirrival América-RN no ano anterior.
Mas e o embate? Empate em 1 a 1, que no fim das contas não foi nada mal para o Guarani, que teve de lidar com a expulsão do lateral Mauro – curiosamente, autor do único gol bugrino na partida. O atacante Santa Cruz, que entrou no segundo tempo, fez para os donos da casa.
Tanto ABC quanto Guarani avançaram para a segunda fase.Nenhum dos dois, entretanto, foi além disso naquele Brasileirão conquistado pelo São Paulo.