22 de maio de 2010. Diego Milito fazia dois gols diante do Bayern de Munique em Madri. Com um time sólido, que defendia com perfeição e contra-atacava com frieza, José Mourinho conquistava a Liga dos Campeões da Europa pela Internazionale.
19 de maio de 2013. A Inter era goleada pela Udinese em pleno Giuseppe Meazza por 5 a 2, sob o comando de Andrea Stramaccioni. Era a última rodada da Serie A de 2013, e a equipe milanesa terminava na nona colocação. Pela primeira vez em mais de uma década, os nerazzurri não disputariam competições continentais na temporada seguinte.
A crise econômica mundial atingiu a Itália em cheio. E isso se refletiu nos principais clubes do país. Costumeiros rivais na briga pelo título, Inter e Milan passaram a brigar por posições intermediárias na tabela. Viraram coadjuvantes.
Massimo Moratti, um dos homens mais ricos da Itália, já não conseguia investir rios de dinheiro na Inter, da qual era presidente e proprietário. A solução veio em outubro de 2013. Uma oferta milionária surgiu do Pacífico, e Moratti aceitou. Passava o bastão pela primeira vez em quase 20 anos.
Mas, afinal, quem seria o mecenas disposto a ressuscitar a gigante em queda livre? Eis que surgiu a figura de Erick Thohir. O indonésio, por meio de suas companhias, adquiriu cerca de 70% das ações do clube e assumiu a presidência algum tempo depois.
Thohir, de 45 anos, tem um perfil parecido com o de outros bilionários envolvidos no futebol: jovem, de família rica, dono de impérios locais. A diferença é que, ao contrário de seus co-irmãos árabes, o empresário não conta com dinheiro ilimitado.
O indonésio é fundador e presidente do Mahaka Group, maior empresa de comunicação de seu país. Conta com um ilimitado repertório de canais de TV, revistas, jornais, rádios e portais, incluindo esportivos. Não é tão lucrativo como petróleo, mas, certamente, dá para o gasto.
Jamais escondeu sua paixão por esportes. Antes de investir na Internazionale, já havia comprado o DC United, dos EUA, que disputa a Major League Soccer (MLS). Sua segunda paixão é o basquete. Thohir faz parte do consórcio que administra o Philadelphia 76ers, da NBA, ao lado de figuras como o ator Will Smith.
A inserção na Inter foi discreta. A intenção do indonésio, que não gosta de perder dinheiro, é que o clube consiga sobreviver com suas próprias pernas. Um crescimento sustentável. E, sem poder investir tanto quanto Nasser Al-Khelaifi ou Mansour Bin Zayed, Thohir teve como prioridade colocar as finanças do clube em dia.
Thohir vendeu jogadores e passou a trazer atletas relativamente baratos, além de jovens com potencial. Foi reforçando seu time aos poucos, sem fazer loucuras. A escolha pelo caminho das pedras foi custosa. O desempenho melhorou, mas o clube ficou distante do título e até da zona de classificação para a Liga dos Campeões. Terminou no quinto lugar, 18 pontos atrás do Napoli, terceiro colocado.
Naquele ano, a principal contratação foi o brasileiro Hernanes. O meia não rendeu o esperado e, duas temporadas depois, foi negociado para a Juventus. A experiência serviu de alerta a Thohir. O clube teve grande déficit financeiro neste período, principalmente por ficar de fora da Liga dos Campeões.
Pensando nisso, o indonésio mudou. Seguiu contratando reforços, mas boa parte deles por empréstimo. A primeira experiência foi o suíço Shaqiri. De preço elevado, o ponta ficou por seis meses, não convenceu e foi devolvido.
O modelo é simples: a Inter paga um certo valor pelo empréstimo, que não é dos mais baratos, com um preço de compra já estabelecido. Se não quiser contratar o atleta, o devolve, e o clube envolvido fica com o dinheiro já pago. Caso queira ficar com o jogador, pagará mais caro: o preço dele, mais o empréstimo. Entretanto, saberá se será um bom ou mau investimento.
Na atual temporada, a Inter contratou jogadores não tão caros, como Perisic, Jovetic e Felipe Melo, e decidiu trazer outros por empréstimo. Miranda, Ljajic, Montoya, Dodô e Alex Telles são alguns dos que chegaram desta forma.
Dará certo? Por enquanto, parece que sim. A Inter está liderando o Campeonato Italiano, ainda que o futebol tenha sido duramente criticado pela imprensa italiana. E sem que Thohir abrisse mão de seus cuidados de negociador. Afinal, ele não chegou à Forbes à toa.