Campeão mundial naquele que muita gente considera o melhor desempenho individual de um jogador em uma Copa. Renomado como um dos maiores craques da geração. Badalado na Itália, onde a torcida napolitana já havia o alçado ao status de um deus. Ou melhor, um “díos”.
Esse era mais ou menos o quadro geral de Diego Maradona em 1987. Com tantas credenciais, era de se esperar ver o gênio argentino enfrentando os grandes desafios nos campos mais famosos do futebol europeu. Mas não foi isso que aconteceu na ensolarada tarde do dia 18 de novembro.
Na ocasião, “El Pibe” entrou em campo sem vestir a camisa da Argentina ou a do Napoli, seu clube à época. Em vez disso, trajou o uniforme listrado em vermelho e branco do Granada, que havia acabado de conquistar o acesso para segunda divisão espanhola. O que estaria fazendo o grande Maradona no modesto estádio Los Cármenes?
Não era uma loucura de Diego, e sim um motivo de “força maior”: A família. Tudo começou quando Alfonso Suárez, presidente do Granada na oportunidade, contratou Raul, um dos irmãos boleiro da família Maradona, por 20 milhões de pesetas.
Uma quantia razoável pelo jovem de 21 anos, que havia atuado pelo Boca Juniors sem sequer uma fração do brilho do irmão famoso. Mas o valor não era apenas por “Lalo”, apelido de Raul. O contrato previa uma partida amistosa em que Diego Maradona atuasse pela equipe andaluz.
A tiracolo, Hugo Maradona, que havia acabado de chegar ao Ascoli-ITA, também fez parte do acordo. Estava preparada a maior ação de marketing da história do Granada em seus 56 anos de existência. Os três irmãos Maradona em campo, juntos, pela primeira e provavelmente única vez.
Para que o acordo fosse fechado, faltava o aval de Diego. E pensando no futuro profissional do irmão, o craque argentino topou o contrato, com uma condição: Ele escolheria o adversário da partida em questão. Algum time que pudesse protagonizar um jogo mais tranquilo, diminuindo o risco de lesões que atrapalhariam a temporada.
O indicado foi o Malmö, time sueco que já havia participado de outros jogos festivos contra o próprio Granada. O cenário estava montado, com os 30 mil ingressos colocados à venda esgotados rapidamente. Os torcedores sabiam que a oportunidade de ver um mastro como Maradona em ação seria algo único.
Diego claramente atraía todos os holofotes desde que entrou no gramado, com a faixa de capitão no braço. mas em uma tentativa de lembrar quem era o real contratado, deixou a mística camisa 10 para Raul. Naquele dia, El Pibe vestiu a nove.
Apesar de ter sido escolhido a dedo, o Malmö até tentou estragar a festa. Aos 20 minutos do primeiro tempo, abriu o placar com Palmer, para surpresa do público presente.
Mas não demoraria para a estrela do grande gênio brilhar. Diego fez a jogada e deu a assistência para o gol de empate, marcado por Hugo. E no segundo tempo, bem ao seu estilo, com uma cobrança de falta colocada, virou o placar.
O Malmö ainda empataria novamente com Dahlin, mas pouco antes do fim os donos da casa conseguiriam garantir a vitória, com um gol marcado por Manolo. Terminava assim a tarde histórica para a torcida do modesto clube espanhol.
O Granada lucrou cerca de 25 milhões de pesetas com a partida de exibição, suficiente para bancar o contrato de Raul Maradona e a viagem de toda a família para a Espanha. Um investimento que obviamente valeu a pena, mesmo que Raul não tenha se destacado em sua passagem pela equipe, ou em qualquer outra.
Pelo menos por um dia, foi possível comprovar os efeitos de contar com Maradona em dose tripla. E ironicamente, ao mesmo tempo, saber que para o futebol Maradona é um só.