Luís Figo, ex-jogador e candidato à presidência nas eleições da FIFA em 29 de maio, propôs na semana passada uma discussão a respeito do aumento de países participantes nas próximas edições da Copa do Mundo.
“A FIFA precisa de um debate aberto. Haverá de cara três propostas para o Mundial. A primeira, deixar como está, é dizer com 32 seleções. Uma segunda proposta será ampliá-lo para 40 seleções, divididas em oito grupos de cinco equipes. A terceira proposta, na qual haveria uma troca maior, é ampliá-lo para 48 equipes, jogando-se dois torneios de 24 países em dois continentes diferentes de forma simultânea. Depois [as seleções] se juntarão na segunda fase”, declarou o português.
De fato, quando se trata do torneio de maior importância do futebol qualquer mudança drástica deve ser discutida, ainda mais em uma proposta como essa, envolvendo várias partes interessadas. Existem argumentos válidos tanto a favor como contra a ideia da expansão do Mundial, e para entender melhor a discussão o Alambrado separou cinco pontos que devem ser abordados. Confira:
Mais times, mais jogos, mais Copa
Para grande parte dos amantes do futebol, a Copa do Mundo é muito mais que uma mera oportunidade para largar o expediente mais cedo e torcer por sua seleção. Existem milhões de fanáticos que fazem questão de acompanhar a maior quantidade possível de jogos do torneio, mesmo que envolvam times inexpressivos ou que sejam marcados em horários ingratos.
É essa paixão que faz alguém acordar às 8h da manhã para assistir a um vibrante duelo entre Eslovênia e Argélia e também provoca no torcedor a vontade de ver mais jogos ainda, se possível. Com mais times, a quantidade de partidas aumenta, causando uma overdose de Copa e saciando um pouco da fome por futebol.
Fator técnico
No futebol há muitos fãs saudosistas, pessoas que iniciam seus comentários com a expressão “no meu tempo…” e então começam a dizer o quanto tudo naquela época era superior. Um dos argumentos aplicados nesses casos é o de que as Copas do Mundo eram melhores antigamente por conta da participação de menos países, deixando a disputa apenas entre osmais qualificados.
A validade dessa ideia é discutível, porém uma coisa é provável: o aumento da quantidade de vagas provocaria a classificação de um número maior de seleções sem tanta força ou tradição. Isso pode render um maior número de bizarrices – o que, dependendo do caso, pode ser positivo – e de jogos que funcionam mais como soníferos ou testes de paciência do que como forma de entretenimento.
Crescimento do futebol em áreas periféricas
Ainda que seja um dos esportes mais populares do mundo, o futebol possui uma elite excludente como qualquer outra. Aumentar o número de participantes na Copa pode ser a chance de muitos países pobres e pequenos figurarem entre os melhores pela primeira vez, o que aceleraria o processo de expansão do certame nessas áreas, com cada vez mais pessoas se interessando por acompanhar e praticar o esporte, principalmente nos países fora do eixo América do Sul / Europa.
Além disso, essa é uma chance que a FIFA tem para diminuir o desequilíbrio entre o número de filiados nas associações continentais e suas respectivas vagas para o Mundial. A África, por exemplo, possui atualmente 54 federações disputando as eliminatórias para ficar com apenas cinco vagas na competição.
Mais craques na Copa
Muita gente lamentou antes da Copa do Mundo de 2014 a ausência de grandes craques do futebol mundial que ficaram fora da disputa por suas seleções não terem feito o suficiente para se classificar. Na ocasião, nomes como Ibrahimovic, Cech, Lewandowski e Bale precisaram assistir à Copa pela TV.
Com mais vagas disponíveis, a possibilidade de excelentes jogadores ficarem de fora diminui consideravelmente, permitindo que os fãs do esporte vejam uma quantidade ainda maior de estrelas na constelação que é o Mundial.
No entanto, existe um contraponto nesse caso: a “generosidade” das eliminatórias com mais classificados teria grandes chances de fazer com que os países com o passaporte garantido para a Copa fossem conhecidos cada vez mais cedo, aumentando a frequência de jogos para cumprir tabela na fase de qualificação.
Fatores políticos
A campanha de Figo diz ter o objetivo de dar uma nova cara à política no esporte, mas o projeto de aumentar a Copa não chega a configurar uma mudança nesse sentido. Não é nem mesmo criativa, já que habitualmente os presidentes de grandes associações esportivas costumam aumentar o número de participantes nos torneios, o que, na maioria dos casos, corresponde a nada mais que um agrado nas federações para conquistar votos nas eleições.
O próprio Sepp Blatter, atual presidente da FIFA, foi o responsável pela expansão de 24 para 32 em times na Copa de 1998, na época ainda como secretário-geral da instituição (seria eleito presidente naquele mesmo ano). Michel Platini também usou o mesmo expediente para aumentar sua base aliada na UEFA, acrescentando oito times na próxima edição da Eurocopa.
Se não é possível cravar nada a respeito das reais intenções do candidato, ao menos podemos relacionar sua ideia com outras parecidas de cartolas que ele critica.