
Afastada dos gramados internacionais desde a virada do século, a Escócia já viveu dias melhores, sobretudo entre 1970 e 1990, quando jogou cinco vezes seguidas a Copa do Mundo. Um dos grandes responsáveis pela boa fase do selecionado à época foi o técnico Jock Stein, que brilhou no Celtic e depois se consolidou à frente da equipe nacional. Na última segunda-feira (10), completaram-se 32 anos de sua morte à beira do campo.
Mas antes de chegarmos a esse ponto da história, falemos das notáveis proezas que o credenciaram ao posto de lenda do esporte bretão. Das mãos do treinador de 44 anos, o clube de Glasgow venceu em 1967 a Taça dos Campeões Europeus, a atual Liga dos Campeões, sendo o primeiro britânico a fazê-lo, além de dominar o país com conquistas ininterruptas de 1966 a 1974 – recorde hoje compartilhado com o arquirrival Rangers.
A bem da verdade, Stein já havia dirigido a Escócia como trabalho de meio período no fim de 1964, conduzindo a nação nas Eliminatórias para a Copa de 1966. No total, ele somou 3 vitórias, 1 empate e 1 derrota, o que não foi o suficiente para garantir a vaga. Por outro lado, obteve o único resultado positivo na Escócia contra a Itália na história, por 1×0.
Depois da referida experiência e dos trabalhos no Dunfermline Athletic e no Hibernian, o técnico chegou em março de 1965 ao clube que o consagrou como jogador, o Celtic, onde encerrou um jejum de mais de uma década sem grandes êxitos e amealhou 31 taças, entre elas a mais importante na existência da instituição, como citado anteriormente.
Devido ao sucesso em Glasgow e com a renúncia de Willie Ormond, Stein foi sondado para assumir o país às vésperas da Copa de 1978, mas recusou a oferta para seguir no Celtic Park. No Mundial, a Escócia acabou eliminada na fase de grupos empatada em pontos com a Holanda, que avançou ao lado do Peru graças aos critérios de desempate.
Em 5 outubro do mesmo ano, o técnico enfim deixa o Celtic para conduzir de vez a equipe nacional até o fim de sua vida, literalmente. Ele reestreou na data de seu 56º aniversário com vitória por 3×2 sobre a Noruega e buscou aos poucos mudar a forma de jogar da seleção, o que não surtiu resultados imediatos gerou críticas por parte da imprensa.
Embora tenha perdido a vaga para a Euro de 1980, os escoceses demonstraram evolução nas Eliminatórias para a Copa de 1982 e viajaram para a Espanha, onde defrontaram Nova Zelândia (vitória por 5×2), Brasil (derrota por 4×1) e União Soviética (empate por 2×2). Assim como em 1978, ficaram em terceiro lugar devido aos critérios de desempate.
No ciclo mundialista subsequente, o país arrancou com vitórias domésticas sobre Islândia, por 3×0, e Espanha, por 3×1 – esta avaliada por Stein como o resultado “mais satisfatório” desde sua chegada à seleção. Depois, duas derrotas pelo placar mínimo para a Espanha, em Sevilha, e para Gales, em Glasgow, abalaram o time, que logo se recuperou vencendo a Islândia por 1×0, em Reiquiavique. Faltava mais um passo.
Na ocasião, uma igualdade contra o País de Gales, no Ninian Park, em Cardiff, levaria a Escócia à repescagem diante da Austrália. O objetivo se complicou nos momentos iniciais, pois os anfitriões saíram na frente com Leslie Hugh. O desfecho para os visitantes só mudou graças ao pênalti convertido por David Cooper a poucos minutos para o fim. Aí a história reservou capítulos simultâneos de alegria e tristeza para o futebol escocês.
Naquele jogo dramático em 5 de outubro de 1985, Stein, então com 62 anos, estava com a saúde frágil e sob intensa pressão. Seu comportamento durante o jogo gerou estranheza. Falava pouco, e quase não se movimentava. Antes do apito final, ia em direção ao banco rival quando caiu ao lado do gramado, vítima de um ataque cardíaco, e faleceu no estádio 30 minutos, a despeito das tentativas dos médicos de reanimá-lo.

Sua morte sensibilizou o país e, em particular, seu jovem assistente e amigo pessoal Alex Ferguson, que acabou dirigindo a Escócia interinamente na repescagem e na Copa do Mundo de 1986. O selecionado cairia na fase de grupos e chamaria Andy Roxburgh para substituir Ferguson, que rumou para o Manchester United. O resto é história.
“Eu tenho orgulho de dizer que conheci Jock Stein como técnico, colega e amigo. Ele foi o maior de todos no futebol britânico. Homens como ele viverão para sempre na memória. Para pessoas como eu, ele foi o precursor de todos os feitos e desafios. Era inteligente, humilde e sempre teve os pés firmes no chão”, relatou em certa oportunidade Sir Alex.
Desde sua triste e poética partida, Stein recebeu inúmeros tributos, como ter seu nome imortalizado em uma arquibancada do Celtic Park e uma estátua de bronze com o troféu da Liga dos Campeões erguida do lado de fora do estádio, ademais de figurar no topo de várias listas como o melhor técnico do Celtic e da Escócia de todos os tempos. Um legado que até hoje não foi alcançado nem em termos de resultado, nem em termos de paixão.