Atualmente, o São Caetano vive situação amarga na Série D do Campeonato Brasileiro. Muito por causa da má administração do clube, mas também pelos fracassos dentro de campo. Contudo, nem sempre foi assim. Houve um tempo em que o clube do ABC chegou a ser vice-campeão brasileiro e, até mesmo, da Libertadores da América. É o que contaremos para você, caro leitor, nesta matéria.
Os feitos do Azulão passaram a ser reconhecidos a partir de 1998, quando disputou o Campeonato Brasileiro da Série C daquele ano. Foram 15 vitórias, cinco empates e apenas duas derrotas. Campanha irretocável para o clube que, na fase final, ficou em segundo lugar e garantiu o acesso para a Série B do ano posterior.
Parecia que o sucesso da equipe liderada por grandes jogadores, como Adhemar, Adãozinho, Daniel, Silvio Luiz, Serginho, entre outros, repetiria o mesmo sucesso. Na primeira fase da competição, o São Caetano ficou na liderança do campeonato com 45 pontos em 21 partidas. Veio a segunda fase. Mata-mata com oito equipes, das quais quatro se classificavam para o quadrangular final.
O azulão encararia o Santa Cruz. No primeiro jogo, derrota por 1 a 0, obrigando-os a vencer a segunda partida. E venceram. De maneira heroica. Vitória por 4 a 3, fazendo com que um terceiro jogo fosse realizado. Mas então uma nova derrota por 1 a 0 acabou adiando o sonho do acesso à primeira divisão.
Contudo, viria a Copa João Havelange em 2000, equivalente ao Brasileirão naquele ano, levando em homenagem o nome do ex-presidente da CBF e da FIFA. Foi uma tremenda confusão…
A CBF foi impossibilitada pela justiça de organizar o campeonato, passando a responsabilidade ao Clube dos 13. Foi realizado, então, o maior Campeonato Brasileiro de todos os tempos com 116 clubes de três divisões divididos em quatro módulos na primeira fase.
No Módulo Azul, clubes da Série A e Série B. No Módulo Amarelo, onde se encontrava o São Caetano, equipes da Série B e Série C. Nos módulos Verde e Branco, equipes da Série C.
O São Caetano estava no Módulo Amarelo, que continha 36 clubes divididos em dois grupos. O Azulão ficou no Grupo A, onde terminou líder com 11 vitórias, quatro empates e apenas duas derrotas em 17 jogos. Então veio o mata-mata. Nas oitavas, despachou o CRB-AL.
Nas quartas, o Náutico, onde aplicou uma sonora goleada de 6 a 2 na segunda partida. A semifinal foi contra o Paysandu, um confronto duríssimo. Primeiro jogo empate em 1 a 1. O segundo foi um verdadeiro jogaço. Vitória por 5 a 4 e vaga carimbada na decisão e mais, na fase final da Copa João Havelange, a equipe do ABC iria encarar a elite do futebol nacional!
Mas voltemos à decisão do Módulo Amarelo. Primeiro jogo, empate em 1 a 1. No segundo o São Caetano acabou saindo derrotado por 3 a 1. Mas pouco importava, pois o clube estava classificado para a fase final do principal campeonato do Brasil daquele ano.
Nas oitavas, a primeira pedreira: o Fluminense. No primeiro jogo, empate em 3 a 3. A decisão seria no Maracanã, para mais de 50 mil espectadores. Adhemar, aos 27 minutos do segundo tempo, fez o gol solitário que colocou o São Caetano nas quartas de final da João Havelange, onde encararia o Palmeiras.
A partir das quartas, o Azulão mandaria todos os seus jogos no Palestra Itália, estádio do Palmeiras. A primeira partida, com mando do Verdão, seria um verdadeiro “jogão”. O São Caetano abriu dois gols de vantagem, Arce diminuiu, Adhemar ampliaria para a equipe do ABC aos 44 do primeiro tempo, mas Taddei diminuiria novamente, renovando as esperanças da equipe paulista. Logo no início do segundo tempo Arce empataria em 3 a 3 o jogo, mas Adhemar, sempre ele, faria o gol da vitória e ainda acabaria sendo expulso no decorrer do confronto.
No segundo encontro, empate em 2 a 2 e vaga carimbada para as semifinais, onde enfrentaria o Grêmio de Ronaldinho Gaúcho. No primeiro jogo, disputado no Palestra Itália, vitória sofrida por 3 a 2 sobre os gaúchos, com Adhemar e Ronaldinho Gaúcho marcando dois gols para cada lado. A classificação para a final da Copa João Havelange não poderia ser mais épica. Vitória contundente por 3 a 1 em pleno Olímpico Monumental, com o lateral César decidindo a favor do Azulão.
A decisão da Copa João Havelange seria entre Vasco e São Caetano, e não poderia ser mais polêmica. A primeira partida, disputada no Palestra Itália, teve quase 30 mil pagantes, que veriam o Azulão empatar com o Vasco em 1 a 1, gols de César e Romário. Até aí tudo bem, não fosse o segundo jogo… O local era São Januário, o São Caetano vinha melhor na partida, com Adhemar mandando bola na trave, até que aos 23 minutos acontece um tumulto na arquibancada do Vasco e cerca de 150 torcedores saem feridos. A partida fica paralisada por duas horas, o árbitro tentou reiniciar, mas o até então prefeito do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, dá a ordem do jogo ser adiado.
Então ficaria para o Maracanã ser palco da decisão do campeonato nacional. Em um dia completamente inspirado, o Vasco venceria o São Caetano por 3 a 1, conquistando o tetracampeonato brasileiro de sua história. No entanto, o Azulão entrava para a história e ainda daria o que falar…
Em 2001, o São Caetano seria novamente uma equipe avassaladora. Em 27 partidas, seriam 18 vitórias, cinco empates e apenas quatro derrotas, ficando com a liderança da primeira fase do Brasileirão daquele ano. No mata-matam, eliminaria com um empate o Bahia nas quartas de final. Nas semifinais, vitória apertada por 2 a 1 sobre o o Atlético Mineiro e vaga carimbada na decisão contra o Atlético Paranaense, que havia ficado com o segundo lugar na fase classificatória.
No primeiro jogo, realizado na Arena da Baixada, o São Caetano chegou a virar para 2 a 1 o confronto, mas acabou sucumbindo ao fator casa e ao Furacão, que virou para 4 a 2, conseguindo uma boa vantagem para o segundo confronto, que seria no Anacleto Campanella, no ABC. Cabia ao Azulão vencer por 2 ou mais gols de diferença para ficar com o primeiro título de expressão de sua história.
Mas havia um Alex Mineiro no caminho, que fez 1 a 0 para o Atlético Paranaense no segundo tempo, dando a vitória e o título ao clube Rubro-Negro. Ao São Caetano? Novamente o sabor amargo do vice-campeonato, mas nada que apagasse a brilhante campanha do clube paulista, muito menos o fato de que mais um grande clube surgia no Brasil.
Finalmente, a Libertadores da América 2002. O São Caetano havia ficado no Grupo 1 da Libertadores, com Cobreloa-CHI, Cerro Porteño-PAR e Alianza Lima-PER. Foi o líder com 12 pontos, conseguindo a vantagem de decidir as partidas em casa. Nas oitavas e nas quartas, a classificação veio nos pênaltis contra Universidad Católica-CHI e Peñarol-URU.
A semifinal seria contra o América-MEX. No primeiro jogo, realizado no Anacleto Campanella, uma belíssima vitória por 2 a 0 sobre os mexicanos. Mas o que entraria para a história seria a segunda partida, realizada no Estádio Azteca. O empate em 1 a 1 e a vaga para final ficariam para segundo plano, pois a pancadaria que rolaria solta seria impressionante. O jogo estava pegado, truncado, com os jogadores trocando empurrões e até socos com a bola rolando.
Mas foi ao término da partida que as cenas lamentáveis se sucederam. Os jogadores celebravam – com provocações, claro – a classificação histórica para a decisão do maior torneio do continente. Foi o suficiente para dar início à uma pancadaria generalizada, envolvendo jogadores e comissão técnica. O goleiro reserva do São Caetano se mostrou um verdadeiro ninja durante a pancadaria. E mais, a situação ficou delicada quando torcedores invadiram o gramado, ameaçando a integridade física dos atletas brasileiros.
Passada a confusão, era hora da final contra o Olimpia-PAR, tradicional equipe da América do Sul que, até então, era bicampeã (1979 e 1990). O São Caetano disputava a sua segunda Libertadores, e de maneira consecutiva. Não seria fácil para o Azulão encarar uma equipe tradicional na decisão, mas como não acreditar depois dos muitos feitos do clube emergente?
A primeira partida da final seria no Estádio Defensores Del Chaco, lotado, um caldeirão. Grande coisa. O São Caetano calaria a todos com Aílton, aos 16 minutos do segundo tempo, de cabeça, 1 a 0 para o Azulão e vitória importantíssima fora de casa. O título estava perto!
O palco era o Pacaembu, mais de 30 mil espectadores, torcedores do São Caetano e de outros clubes. Todos unidos por um clube que, em pouco tempo, encantou o Brasil, calou os grandes, e conquistou a simpatia de muita gente. Aos 31 minutos do primeiro tempo Aílton, sempre ele, abria o placar para o São Caetano. Uma mão na taça. O Olimpia precisava virar o jogo para levar para a prorrogação e pênaltis.
Mas o segundo tempo seria catastrófico. Córdoba, logo aos quatro minutos, empataria o jogo e colocaria emoção na final. Foi então que, aos 14 minutos, em um cabeceio de Báez, a bola encobriu Silvio Luiz e o Olimpia conseguia virar o jogo, levando a decisão para os pênaltis.
Os dois primeiros pênaltis para cada lado foram convertidos. Era a vez de Marlon cobrar. Errou. López fez para o Olimpia. Quarta cobrança. Serginho. Errou. Se Mauro Caballero convertesse, o Olimpia era tricampeão. E converteu. E o sonho acabou para o São Caetano…
Mas a redenção viria em 2004. Silvio Luiz, Serginho, ainda estavam no elenco, e foram responsáveis, junto aos outros colegas e, claro, a Muricy Ramalho, por conquistarem o primeiro e único título do Campeonato Paulista para o Azulão, até o momento.