O mundo parece um turbilhão quando se tem 17 anos. Pra muita gente, é nessa época que acontecem grandes decisões, como o que estudar, onde trabalhar, com quem sair, entre outros pequenos dilemas. E para alguns jovens privilegiados, é tempo de brilhar pela primeira vez no mundo do futebol.
A partir de 17 de outubro, estarão reunidos no Chile 528 garotos com um sonho em comum: se destacar na disputa do Mundial Sub-17. A história do torneio, que é realizado desde 1985, mostra um alto número jovens craques que utilizaram a competição como vitrine.
Ronaldinho, Verón, Roberto Carlos, Fàbregas, Aimar, Kanu, Donovan, Tévez, Kroos, Neymar… A lista de atletas que chamaram a atenção pela primeira vez no Mundial Sub-17 e se tornaram grandes nomes do futebol é grande.
Mas é claro que para cada grande descoberta há pelo menos uma decepção. O que terá acontecido a Sinama-Pongolle, grande craque da França na edição de 2001? Por que Freddy Adu, o “Pelé” norte-americano, nunca decolou de vez?
A verdade é que com apenas 17 anos é muito difícil cravar que algum jogador será craque ou não, mas alguns deles mostram fortes indícios. É por isso que, para te ajudar a saber em quem ficar de olho, o Alambrado traz tudo sobre as seleções que disputam este Mundial, incluindo os destaques de cada time e onde podem chegar.
Nesta primeira parte, veremos as equipes dos grupos A e B, incluindo os donos da casa que tentam surpreender e a Seleção Brasileira tentando recuperar sua tradição de glórias na categoria. Confira:
Grupo A
Chile
Sem disputar a competição desde 1999, os chilenos entram no Mundial Sub-17 com uma ideia bem clara: Aprender com os inúmeros erros cometidos no Sul-Americano da categoria, disputado no primeiro semestre e utilizado pela seleção “Roja” como preparação para o torneio que seria organizado em sua casa.
Na ocasião, foram quatro jogos e quatro derrotas, um desempenho muito abaixo do esperado que rendeu a demissão do técnico argentino Alfredo Grelak. Para ocupar o posto, a federação resolveu apostar em um nativo, o ex-jogador Miguel Ponce.
Com pouco tempo no cargo, Ponce montou uma equipe sem grandes inovações táticas, buscando apenas corrigir os erros mais graves demonstrados durante o Sul-Americano, em especial as falhas defensivas.
A equipe usa como base as revelações de Universidad Catolica e Universidad de Chile, com cinco jogadores convocados de cada uma. Entre eles, o destaque é Mathias Pinto, atacante com ótimo senso de posicionamento e oportunismo dentro da área, que já soma aparições com o time principal da “La U”.
Ele deve formar uma dupla interessante com Gabriel Mazuela, seu companheiro no clube chileno. No meio, Brian Leiva é o responsável pela criação das jogadas, apoiado pelas chegadas o volante Jara. A defesa é realmente o ponto fraco, a ponto de dar calafrios no goleiro Azua.
De fato, será até surpreendente uma boa campanha do Chile, mesmo levando em conta o fator casa. Afinal, em apenas uma oportunidade a seleção anfitriã levou o título, com o México em 2011. Vantagem?
Croácia
Sem grande tradição na categoria sub-17, a Croácia quer aproveitar esta edição do Mundial para apresentar uma geração que promete colocar o país em uma posição de destaque na revelação de atletas.
A equipe surpreendeu no Europeu Sub-17, classificando-se na primeira posição em um grupo que tinha ainda a poderosa Espanha, e eliminou a Itália na repescagem. O segredo para o bom desempenho pode ser explicado pela aplicação tática e forte noção defensiva, já que o time tomou apenas um gol nos cinco jogos do qualificatório.
Mas a Croácia também conta com talentos individuais, que dão um toque de brilho capaz de decidir partidas. É o caso do jovem astro Davor Lovren, habilidoso meia-atacante que atua no lado do campo. Ágil e driblador, ele serve frequentemente como válvula de escape no setor ofensivo.
Os outros pilares da seleção croata também são revelações do Dinamo Zagreb, clube de Lovren. O meia Josip Brekalo tem bom passe e chuta com precisão a média distância, uma arma importante em duelos contra adversários mais fechados. Na defesa, o destaque é o lateral-esquerdo Borna Sosa, que dá a liberdade necessária para os companheiros de frente atacarem sem medo
Há ainda o meia Dino Halilovic, que atualmente atua pela Udinese, tentando sair da sombra do irmão mais velho, Alen, promessa do Barcelona. Juntando um bom nível técnico com aplicação tática, a Croácia larga como uma das favoritas no grupo, o que já seria suficiente para marcar sua melhor participação no torneio.
Nigéria
A reputação da Nigéria nas categorias de base precede o próprio time. Em quatro oportunidades os nigerianos levaram para casa o troféu do Mundial Sub-17, inclusive na última edição, com direito a atuações impressionantes de Kelechi Iheanacho, que atualmente começa a se destacar no Manchester City.
O currículo impõe respeito, mas a realidade atual é um pouco diferente. Nas Eliminatórias Africanas para o Mundial, a equipe demonstrou muita instabilidade, classificando-se em primeiro na fase inicial e perdendo de maneira displicente os dois jogos da fase seguinte, contra África do Sul nas semis e Guiné na decisão do 3º lugar.
Treinado pelo antigo ídolo Emmanuel Amunike, o time é inteiramente composto por locais. No entanto, alguns atletas já despontam como potenciais contratações de gigantes europeus. É o caso do camisa 10 e capitão, Kelechi Nwakali, mais um meia que segue a linhagem do lendário Jay-Jay Okocha, com muita visão de jogo e habilidade.
Nwakali forma uma dupla muito interessante com o centroavante Victor Osimhen, do Ultimate Strikers, artilheiro do torneio qualificatório africano com quatro gols. Além deles, vale a pena ficar de olho no meia Samuel Chukweze, o coração do time, responsável pela ligação entre os setores.
Pela irregularidade, é difícil cravar o grau de favoritismo da Nigéria, até mesmo dentro do seu grupo. Mas talento não falta, e a tradição nigeriana na competição faz valer no mínimo um voto de confiança.
Estados Unidos
OK, você já deve ter ouvido centenas de vezes que “quando os americanos começarem a se interessar por futebol, ninguém segura”, ou algo nesse sentido. Já faz mais ou menos vinte anos que se espera algo de muito bom vindo dos ianques, mas até agora, a evolução teve passos curtos.
Mas a atual geração sub-17 dos Estados Unidos é fruto de um investimento considerável de programas locais, e pode dar o tal salto de qualidade que tanto se espera. Machucados pela inédita ausência no Mundial de 2013, os americanos vêm com a faca nos dentes.
O principal representante do sonho de superar a melhor classificação dos EUA em Mundiais (o quarto lugar em 1999) é o meia Christian Pulisic, do Borussia Dortmund. Clássico jogador driblador, capaz de enfileirar adversários e abrir espaços para os companheiros. Do outro lado, o baixinho Joshua Perez, da Fiorentina, tem a mesma função de bagunçar defensores.
Tyler Adams, volante do New York Red Bulls, impressiona pela inteligência e técnica apurada, jogador com um nível raro para seus meros 16 anos. Ele forma com Alex Zendejas, do FC Dallas, um setor central de muita qualidade no passe.
No ataque, o responsável por mandar a bola pra dentro é Haji Wright, do New York Cosmos, centroavante forte que não costuma perder chances cara a cara. O goleiro Eric Lopez, do LA Galaxy, passa segurança e liderança para o resto do time.
Apesar de contar com vários talentos, os Estados Unidos ainda não deram liga, até mesmo na campanha das Eliminatórias da Concacaf, em que só se classificaram na disputa de pênaltis da repescagem contra a Jamaica. Se essas estrelas desabrocharem durante o Mundial, os americanos podem sonhar em chegar longe.
Grupo B
Brasil
Diferentemente da seleção brasileira sub-20, que chegou sob desconfiança no mundial da categoria, o Brasil sub-17 chega com status de favorito e, de quebra, é o atual campeão do Sul-Americano disputado em março, no Paraguai.
Apesar da glória, o comando técnico foi mudado: entra Carlos Amadeu e sai Caio Zanardi. Porém, a estrutura da equipe segue a mesma. Excetuando o corintiano Matheus Pereira, nenhuma grande ausência foi sentida do time que ganhou o Sul-Americano.
Alguns jogadores, mesmo com tão pouca idade, já são profissionais. Um em especial chega com moral para a disputa do torneio. O atacante Luís Henrique, do Botafogo, não esteve na competição continental, mas brilhou na Copa do Brasil Sub-17. Foram 14 gols e média de mais de um gol por jogo.
O caminho foi cimentado após boas atuações e gols pela equipe profissional do alvinegro. Junto ao artilheiro do Sul-Americano e também profissional ponte-pretano, Leandrinho, é a esperança de gols da seleção canarinho.
Para armar as jogadas, Amadeu confia muito na dupla Lincoln-Evander. Duas estrelas da base, o primeiro faz o estilo driblador. Já o segundo conta com um poder de finalização acima da média até entre os profissionais. Mais atrás, Andrey é o único com lugar certo. Guilherme e Igor Liziero disputam a outra vaga.
A defesa é a grande preocupação, Vazada em larga escala no sul-americano, o setor precisa se entrosar, já que conta com bons nomes, entre eles o lateral Kléber. No gol, a indefinição também existe e só será decidido próximo ao primeiro jogo. Que venha o tetra!
Time-base: Gabriel; Kléber, Léo Santos, Ronaldo (Éder Militão), Dodô; Guilherme (Igor Liziero), Andrey; Lincoln, Leandrinho (Geovane) Evander e Luís Henrique
Técnico: Carlos Amadeu
Coreia do Sul
A expressão “time de uma estrela só” não é exagerada ao ser utilizada com a Coreia do Sul. E não é demérito algum, neste caso. O atacante Lee Seung-Woo convive com a alcunha de “Messi sul-coreano” há muito tempo.
Um dos melhores do mundo da geração, Lee Seung-Woo é um dos astros de La Masia. Contratado pelo Barcelona há alguns anos, ele cansou de fazer partidas excepcionais com a camisa espanhola.
Ao lado dele, outro atacante, Jang Gyeol-Hee, também do Barcelona, divide as responsabilidades no time sul-coreano. Eles foram responsáveis pelas principais goleadas e pelos 16 gols no Asiático Sub-16, disputado ano passado.
Lee Sang-Min é o principal zagueiro da equipe. É nele que está depositada a confiança para dar tranquilidade ao ataque criativo e efetivo sul-coreano. Lee Seung-Woo resolve na frente e ele na linha de trás. Ao menos é nisso que acredita o treinador Choi Jin-Cheul.
A seleção foi vice-campeã continental, após derrota na final para a grande rival Coreia do Norte. Apesar de estar em um grupo muito difícil, a Coreia do Sul pode bonito na sua quinta participação no Mundial Sub-17.
Inglaterra
Dentre todos os fortes adversários da seleção brasileira na primeira fase, sem dúvida é a Inglaterra que causa maior preocupação. Uma das potências da geração 98, os ingleses possuem uma das equipes mais fortes da competição.
Após a classificação sofrida no Europeu Sub-17 – vitória nos pênaltis contra a seleção espanhola -, a Inglaterra chega com uma equipe-base de muita qualidade, treinada por Neil Dewsnip. Uma dupla de “rivais” em especial pode fazer a Inglaterra conquistar o primeiro título Mundial Sub-17.
Marcus Edwards, do Tottenham, e Chrissy Willock, do Arsenal, são capazes de fazer os adversários perder a cabeça. Com muita habilidade, são os dois principais destaques individuais do time.
Eles devem preparar as jogadas para o centroavante Hepburn-Murphy, badalado atleta do Aston Villa. Marcos Wood, do Manchester City, e Trent Alexander-Arnold, do Liverpool, são a sustentação do meio-campo inglês.
Mais atrás, o brasileiro Jay DaSilva, titular do Chelsea Sub-18, é o dono da lateral-esquerda. É dele a responsabilidade de ajudar o sistema defensivo nessa terceira participação da seleção inglesa em Mundiais sub-17.
Guiné
Apesar de desconhecida e do peso de seleção “mais fraca” do grupo, é bom não subestimar a seleção de Guiné. Para chegar ao Mundial, os Elefantes Nacionais foram os terceiros colocados do Campeonato Africano Sub-17.
Surpreendentemente, venceram a Nigéria na disputa pelo terceiro lugar. A equipe treinada por Hamidou Camara fez boa campanha na competição e demonstrou um bom sistema defensivo.
Essa é a quarta participação de Guiné em mundiais da categoria. Na melhor campanha, ficou na quarta colocação em 1985. Agora, tem a chance de surpreender e mostrar a força de uma equipe pouco conhecida.
Os jogadores de maior destaque são Abdul Karim Conte, Abdoulaye Jules Keita e Yamodou Toure, sendo os dois últimos autores de gols importantes na campanha de classificação para o torneio.