Um dos torneios entre seleções mais disputado e aguardado pelos fãs de futebol foi disputado durante todo o mês de janeiro. A tradicional Copa da Ásia teve início no dia 9 e teve como encerramento o último dia do próprio mês. A 16° edição da competição teve com sede a Austrália – belo país da Oceania, que visando o fortalecimento seu futebol, entrou para a confederação asiática em 2005.
O torneio foi o primeiro da agenda prolífica de 2015. Ainda em janeiro, teve início a Copa da África, sediada na Guiné Equatorial. Em junho, teremos a Copa América, que tem como sede o Chile e, em julho, a bola rola no Canadá e nos Estados Unidos para a Copa Ouro.
Disputada de quatro em quatro anos, como a Copa do Mundo, a competição mais importante da Ásia contou com jogos de elevado nível técnico, assim como craques desconhecidos e curiosos recordes e estatísticas:
Recordes
– A Asian Cup 2015 ultrapassou a Copa do Mundo de 1930 como a competição entre seleções com maior número de partidas sem um empate. No total, 26 (recorde sendo quebrado apenas após o empate entre os rivais Irã e Iraque), batendo os 18 jogos de 1930.
– Ali Mabkhout, atacante dos Emirados Árabes Unidos, tornou-se o jogador a marcar o gol mais rápido da história do torneio. A vítima foi o Bahrein, na vitória por 2 a 1 dos emiradenses.
– A caçula da competição foi a Palestina. Mesmo eliminada na primeira fase, a sofrida nação comemorou o seu primeiro gol com Jaka Ihbeisheh
– Hamza Al-Dardour, ao fazer 4 gols na goleada por 5 a 1 contra a Palestina na fase de grupos da competição, alcançou o barenita Ismaeel Abdullatif (marcou quatro gols contra a Índia em 2011, Behtash Fariba (fez também quatro gols contra Bangladesh em 1980) e a lenda iraniana Ali Daei (repetiu o feito contra a Coréia do Sul em 1996).
– Oito jogadores chegaram a 4 participações consecutivas na competição, entre eles os grandes Yasuhito Endo, Japão, e Younis Mahmoud, Iraque.
– Com dois gols, Younis Mahmoud, de 31 anos, chegou a 8 gols na competição. Ele ainda persevera a posição mais alta da tabela de goleadores: Ali Daei com 14 gols.
Estatísticas Copa da Ásia 2015
Artilheiro – Ali Mabkhout – Emirados Árabes Unidos- 5 gols
Mais Assistências – Massimo Luongo e Omar Abdulrahman- 4 assistências
Melhor defesa – Coréia do Sul- 2 gols sofridos
Melhor ataque – Austrália- 14 gols marcados
Seleção mais indisciplinada – Iraque
Seleção mais disciplinada (Troféu Fair Play) – Austrália
Média de gols do torneio- 2,66 gols por partida
Média do público do torneio- 20, 303 por partida
Seleção com melhor aproveitamento nos chutes- Arábia Saudita e Jordânia-22%
Melhores da competição para o Site
Melhor seleção- Austrália
Melhor jogador- Omar Abdulrahman (UAE)
Melhor técnico- Ange Postecoglu (AUS)
Revelação- Ali Mabkhout (UAE)
Melhor goleiro- Kim Jin-hyeon (KOR)
Decepção- Arábia Saudita
Surpresa: Emirados Árabes Unidos
Melhor partida- Irã 3 x 3 Iraque ( 6×7 nos pênaltis)
Crônica do grande jogo
Um clássico por si só já é uma partida especial. Clubes podem possuir rivalidades territoriais, históricas e até mesmo de poderio econômico, mas dificilmente um clássico a nível de clube consegue atingir o status de uma rivalidade de seleções próximas, territorialmente, uma da outra. Essas proporções aumentam quando essa disputa passa a ser histórica, mais do que isso, de conflitos que se arrastam há tempos.
Príncipes e sultões. Reinados e Califados. Conflitos e uma grande guerra. Dois dos principais e mais ricos países do golfo pérsico- muito graças ao ouro árabe, o petróleo- protagonizaram um dos grandes conflitos do século XX: a guerra Irã-Iraque. Com alianças controversas e personagens históricos, a tormenta durou 8 anos e vidas foram dizimadas. Quase 1,5 milhão no final das contas. Enfraquecimento dos dois lados e rivalidade ainda mais exacerbada.
Dentro de campo, são 25 encontros em mais de 50 anos de história. O embate mais importante, sem dúvidas, aconteceu na Copa da Ásia deste ano, em 23 de janeiro de 2015 e pela primeira vez disputado na Austrália. O Canberra Stadium foi palco de uma partida eletrizante e com um epílogo inesperado, mágico. A dinastia iraniana estava sendo colocada a prova. A equipe com mais semifinais da competição. A seleção mais temida e com grande tradição nos 50 anos de Copa da Ásia enfrentaria um rival bem mais modesto.
O Iraque, tão forte militarmente nas décadas de 80 e 90, só foi fazer sua estreia no torneio na 5°edição, em 1972. O único e surpreendente título veio apenas em 2007, muito em função da ótima fase de Younis Mahmoud. Mais que um jogador, heroi de uma nação.
Muito mais vitorioso, o Irã detém três títulos da competição, muitas participações em Copas do Mundo e muitos ídolos. Nekounam, Hashemian, Ali Karimi, Mahdavikia e, o maior deles, Ali Daei, o maior artilheiro do clássico.
Em 24 confrontos anteriores, foram 14 vitórias do Irã, seis empates e apenas quatro vitórias dos iraquianos. Vantagem ampla nas estatísticas e na história, mas não tão ampla em campo.
O Irã vinha de três vitórias no grupo C e liderança da chave. Já o Iraque saiu com a vice-liderança do grupo D e apenas uma derrota, exatamente para o bom Japão. Partida em que os iraquianos foram bem e saíram com uma doída derrota por 1 a 0.
Durante os 90 minutos, as emoções nem foram tantas. A fria equipe iraniana, treinada por Carlos Queiroz, manteve-se como na fase de grupos e na Copa do Mundo 2014: muito bem compactada, dando a bola ao adversário e saindo nos contragolpes rapidamente, ainda amais no segundo tempo após expulsão de MEHRDAD POOLADI. Já o Iraque, do técnico e ídolo nacional, o ex-zagueiro RADHI SWADI, teve bastante a bola (63,6%), mas sucumbia diante da falta de criatividades dos armadores e padecia da deficiência nas bolas paradas.
SARDAR AZMOUN, a maior promessa iraniana, abriu o placar logo aos 24 minutos. Somente após muito insistir, Ahmed Yaseen Gheni marcou o gol de empate dos iraquianos aos 11 da etapa complementar.
A pressão das arquibancadas, a festa linda das torcidas e a rivalidade eram ingredientes fundamentais que iriam eclodir em uma prorrogação de alto nível.
Nada melhor para começar o tempo-extra que o grande ídolo Younis Mahmoud marcar aos três minutos do primeiro tempo, após rebote da zaga. Os guerreiros persas não desistiram e aos 13 minutos da mesma etapa, empataram com Morteza Pouraliganji, de cabeça.
Aos 10 minutos do segundo tempo da prorrogação, o gol que poderia ser o segundo mais importante da história do futebol iraquiano. Pênalti e conversão quase perfeita de Dhurgam Ismael. Festa nas arquibancadas. Torcida em festa. Mas ainda faltavam cinco minutos e o ponto forte iraniano voltou a funcionar. Aos 12 do segundo tempo da prorrogação, Reza Ghoochannejhan utilizou o ponto forte iraniano e fez valer a forte bola aérea da seleção do luso Carlos Queiroz.
Aqueles intermináveis 130 minutos até a cobrança do último pênalti foram mais angustiantes que muitos outros vividos pelas duas nações. Nas inapeláveis cobranças das penalidades, dor para Vahid Amiry e Ehsan Haji Safi. Louros para os iraquianos e para um povo que sofre muito no século XXI.
Quase três horas depois, o vencedor inesperado estava decidido. Não eram babilônios ou persas que ali estavam. Eram 22 jogadores que representavam todas as discordâncias étnicas daquela região. Conflitos à parte, uma região de territórios muito próximos e tão distintos.
A vitória do Iraque não simbolizava só uma vitória histórica em um clássico importante. Era o triunfo de uma seleção que há tempos vem evoluindo, assim como outras que participaram do torneio.
Seleção do campeonato- 4-2-3-1
Kim Jin-hyeon (Kor)- 27 anos- Cerezo Osaka- Japão
O camisa 23 da Coréia do Sul não chegou tão badalado ao torneio. Roubou a vaga de Jung Sung-ryong e fez uma Copa da Ásia impecável. Vazado somente na final, permaneceu 5 partidas intacto e foi importantíssimo nas vitórias contra a Austrália, na primeira fase, e Uzbequistão, nas quartas-de-final. Foi presença frequente nas seleções de base, jogando inclusive um mundial sub-20 em 2007
Ivan Franjic (AUS)- 27 anos- Torpedo Moscou- Rússia
O ótimo lateral-direito que atua no futebol russo demonstrou muitos recursos durante toda a competição. Jogador que atua também mais adiantado, Franjic conseguiu recompor muito bem a defesa australiana e mais uma vez se destacou na zaga dos Socceroos. Após se destacar na partida contra o Chile na Copa do Mundo do ano passado, volta a apresentar um bom futebol.
Kwak Tae-hwi- 33 anos- Al Hilal- Árabia Saudita
Muito experiente, o zagueiro com mais de 40 partidas com a camisa coreana esbanjou veracidade e técnica. Líder da melhor defesa do torneio, Kwak Tae-hwi- cumpriu o papel que o grande Hong Myung-bo fazia com maestria. Tem 5 gols em 45 encontros com a seleção sul-coreana, índice muito alto para um zagueiro.
Matthew Spiranovic- 26 anos- Western Sydney Wanderers- Austrália
Zagueiro que vive seu auge técnico e físico. Fez parte do elenco do Western Sydney Wanderers que conquistou a AFC Champions League. Também estava na zaga australiana na Copa do Mundo. Formado no futebol alemão, Spiranovic foi o defensor que mais nos chamou a atenção e tem tudo para ir para a um’ clube europeu neste ano.
Yuto Nagatomo- 28 anos- Inter de Milão- Itália
Mesmo jovem, Nagatomo já é experiente com a camisa dos samurais azuis. São mais de 80 convocações e a lateral-esquerda tem dono há pelo menos 7 anos. Esforçado, veloz e muito bom defensivamente, o japonês fez uma boa competição.
Yasuhito Endo- 35 anos- Gamba Osaka- Japão
A bandeira japonesa e do Gamba Osaka continua levantada. Jogando de cabeça erguida, o meio-campista completo desfilou talento na Austrália. Com mais de 150 jogos pela seleção, 15 gols, 4 Copas da Ásia e 3 Copas do mundo, Endo deixou a sua marca na competição, marcando o primeiro gol dos samurais no torneio.
Mile Jedinak- 30 anos- Crystal Palace- Inglaterra
Formaria com Endo uma dupla de volantes incrível. Mais voluntarioso e ríspido que o colega, Jedinak ajudou a Austrália a ter uma das melhores defesas da competição. Líder de desarmes na última edição da Premier League, consolida-se como principal líder dos Socceroos depois de Cahill.
Omar Abdulrahman- 23 anos- Al Ain- Emirados Árabes Unidos
O rei das assistências em ligas nacionais (foram 19 no último campeonato dos Emirados Árabes Unidos), Omar é, na nossa humilde opinião, o MVP da Copa da Ásia 2014. Ajudou a seleção dos Emirados a surpreender e conquistar o terceiro lugar. A maioria dos 12 gols dos emirenhos passaram pelos pés do artista árabe. Há muito tempo não via um talento tão grande do futebol asiático. Técnica, passes em profundidade, visão de jogo, drible, finalização. O repertório é ilimitado e pronto pra ser utilizado na Europa.
Ali Mabkhout- 24 anos- Al Jazira- Emirados Árabes Unidos
Igualmente jovem, mas menos badalado que Omar, Ali Mabkhout fez história na Copa da Ásia. Além de marcar 5 gols e ser o artilheiro, o ligeiro atacante fez o gol mais rápido da história da competição. Dupla que pode render muito no futuro. Emirados Árabes forte na disputa por uma vaga na Copa do Mundo.
Son Heung-min- 22 anos- Bayer Leverkusen- Alemanha
O chamado “Neymar Coreano” ainda busca por atuações mais constantes na Alemanha e na Coréia do Sul. Muito talentoso, mas muitas vezes preguiçoso, Son decidiu as quartas-de-final para a seleção sul-coreana na partida mais difícil no caminho para o título. 2 gols de imenso talento que demonstram bem o talento dessa joia asiática e mundial.
Tim Cahill- 35 anos- New York Red Bulls- Estados unidos
Como o vinho, parece que com o passar dos anos Tim Cahill fica ainda mais excepcional. Quase um mito para os australianos, o atacante continua a aprontar das suas. Um dos jogadores com mais gols bonitos na carreira, ele proporcionou mais uma vez um show de elasticidade ao marcar de bicicleta um gol contra a China, nas quartas-de-final da competição. Artilheiro, forte fisicamente e técnico, ele deve seguir como referência australiana
Seleção reserva- 4-1-4-1
Mattew Ryan- Austrália- 22 anos
Cha Du-ri- Coréia do Sul- 34 anos
Hamdan Al-Kamali- Emirados Árabes Unidos- 25 anos
Kim Young-gwon- Coréia do Sul- 24 anos
Jason Davidson- Austrália- 23 anos
Ki Sung-Yueng- Coréia do Sul- 26 anos
Massimo Luongo- Austrália- 22 anos
Keisuke Honda- Japão- 28 anos
Robbie Kruse- Austrália- 26 anos
Mathew Leckie- Austrália- 23 anos
Ahmed Khalil- Emirados Árabes Unidos- 23 anos
As finalistas
Vice-campeã- Coréia do Sul
Em meio à uma crise que parecia sem fim- três técnicos pós-Copa 2014, lesões dos principais atacantes e um longo jejum na competição- a Coréia teve uma participação acima das expectativas. Em um grupo complicado, que contou com os donos da casa como cabeças-de-chave, os sul-coreanos demonstraram uma evolução muito grande da sua defesa em relação à equipe que disputou a Copa do Mundo.
O ótimo sistema defensivo montado pelo treinador alemão Uli Stielike e liderado por Kwak Tae-hwi só levou gols na final. Antes, cinco partidas intactas e muita compactação. Em contrapartida, o futebol da seleção muitas vezes não empolgou. A melhor partida da equipe foi contra o Iraque nas semifinais- única que a seleção venceu com uma tranquilidade maior. Antes, apenas cinco gols em quatro partidas.
Nem mesmo o astro Son Heung-Min brilhou como esperado. Somente na fase final o atacante começou a fazer a diferença. Fica a boa impressão do torneio e o fim do tabu de chegar às finais, já que eram 27 anos sem chegar a decisão da competição.
Campeã- Austrália
Favorita destacada desde o início da Copa da Ásia 2015, os donos da casa dominaram o torneio do começo ao fim. Apesar do susto contra a Coréia do Sul na primeira fase, quando o bom técnico Ange Postecoglu poupou a maioria dos titulares, o caminho australiano foi tranquilo e linear.
A ótima fase que vem desde a Copa do Mundo é em muito explicada pela ousadia do seu treinador. Com um futebol envolvente, rápido e vertical, os Socceroos tiveram o melhor ataque da competição e revelaram jogadores que poderão marcar época com a camisa verde-amarela: Leckie, Luongo, Juric, Kruse e Ryan são muito jovens e já formam a espinha dorsal da seleção. Somados aos experientes, Bresciano, Cahill e Jedinak, a Austrália parece ter uma nova geração dourada.
Não é só no ataque que aparecem estrelas. Na defesa, além do bom Matt Ryan, o zagueiro Spiranovic, os ótimos laterais Franjic e Davidson seguram as pontas de Ange Postecoglu.
A decisão de ir para a Ásia se mostrou acertada. Falta à Austrália voos maiores, que podem começar na Copa das Confederações da Rússia, em 2017.
Análise geral
Foram recordes quebrados, jogos sem empates e partidas empolgantes. Em uma das melhores edições da Copa da Ásia, tanto a nível técnico quanto estrutural, o futebol local mostrou uma evolução ainda maior que em outras épocas O maior ponto positivo foi o surgimento de cada vez mais jogadores técnico e estrelas. Foi um desfile de craques. Cahill, Kruse, Leckie, Honda, Kagawa, Endo, Omar e Son, Todos jogadores de nível europeu. E bom nível por sinal.
De ponto negativo, fica mais uma vez as críticas aos frágeis sistemas defensivos e aos goleiros limitados. Ao menos, o nível de jogo segue aumentando e os nativos pretendem dar muito trabalho em outras competições.